Snowden, Assange e Bradley Manning devem ser defendidos pela violência que estão sofrendo
A arrogância dos Estados Unidos não chega a ser uma surpresa, mas sempre provoca indignação.
No caso de Edward Snowden, ex-agente da CIA, realmente passou dos limites. Snowden concretamente está prestando um serviço de utilidade pública para a humanidade ao fazer as revelações sobre a ação imperial de grampeamento de e-mails e telefones por parte da potência hegemônica em várias partes do mundo.
O Brasil, como se sabe, não ficou de fora e foram monitoradas mais de um bilhão de mensagens da internet e telefônicas. Ou seja, uma intromissão indevida em assuntos internos de um país.
Mas não é o que pensam parlamentares estadunidenses, que lançaram ameaças contra países latino-americanos que eventualmente concedam asilo político a Snowden. Republicanos e democratas querem que o governo estadunidense promova sanções econômicas e comerciais para quem conceder o asilo político ao novo herói dos tempos cibernéticos.
O primeiro a fazer a ameaça foi o obscuro republicano Mike Rogers, que pregou a linha dura contra empresas latino-americanas que, segundo ele, “gozam dos benefícios do comércio com os Estados Unidos”.
Já outro parlamentar arrogante, desta feita o democrata Robert Menendez, titular do Comitê de Relações Exteriores do Senado, ameaçou a Venezuela, Nicarágua e Bolívia ao afirmar que “é evidente que qualquer aceitação de Snowden, qualquer dos três países ou qualquer outro, vão ficar diretamente contra os Estados Unidos”. Na verdade, não é de hoje que os Estados Unidos se intrometem indevidamente em assuntos internos do Brasil.
O site Wikileaks revelou há anos que telegramas da diplomacia estadunidense mostram ações concretas da Casa Branca para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial.
E tudo foi feito com a colaboração da mídia de mercado nacional. Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, segundo o WikiLeaks, os EUA pressionaram autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 — de fabricação ucraniana — no Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão.
Poster Boy NYC/Flickr
O soldado Bradley Manning está preso nos EUA por divulgar informações sigilosas; defendê-lo "é até uma questão de direitos humanos"
WikiLeaks informou também que representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo estadunidense revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta deixou claro que os EUA “não querem” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.
Para quem tem memória curta, vale lembrar que a Base de Alcântara explodiu e houve denúncias segundo as quais o acidente teria sido provocado por agentes da CIA. As informações do WikLeaks demonstram as pressões estadunidenses para evitar que o Brasil continuasse com o programa em Alcântara e indicam que não seria surpresa alguma se a inteligência estadunidense fosse a responsável pela explosão que matou cientistas brasileiros e provocou estragos incalculáveis ao programa espacial.
Por estas e muitas outras razões, que remontam inclusive fatos relacionados com o suicídio do presidente Getúlio Vargas e o golpe civil-militar que tirou do poder o presidente constitucional João Goulart, causou espécie a declaração em um primeiro momento do ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, de que as denúncias do ex-agente da CIA Edward Snowden o surpreenderam.
É muito lamentável o fato de que um ministro brasileiro desconheça tais fatos da história brasileira.
No mais, Edward Snowden, Julian Assange e o soldado estadunidense Bradley Manning devem ser defendidos pela violência que estão sofrendo por parte de um país que se julga o dono do mundo. Defendê-los é até uma questão de direitos humanos.
(*) Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes – Fantástico/IBOPE.
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