As comunicações da comunidade islâmica no Brasil, especialmente a do Foz de Iguaçu, certamente vinham sendo um dos alvos da espionagem americana no País, sempre atenta com a possibilidade da presença de terroristas e simpatizantes. A extensão dessa vigilância ainda está por ser descoberta, mas há muito tempo o monitoramento é feito em estreita colaboração com a Polícia Federal (PF), afirma o delegado federal licenciado Fernando Francischini.
De acordo com o hoje deputado federal pelo PEN do Paraná, não adianta o governo brasileiro "fazer cara de paisagem" e falar em "abrir investigação para apurar as denúncias de (Edward) Snowden", porque na "comunidade de informação" já se sabia da espionagem no Brasil com base em "acordos e protocolos oficiais de cooperação". "É tudo manobra diversionista do governo Dilma para sair do foco das manifestações populares, como foi a tentativa de emplacar primeiro a Constituinte e depois o plebiscito."
O fato, denunciado pelo policial que já atuou em altos cargos nas áreas de inteligência em Brasília e na cidade paranaense, não surpreende líderes muçulmanos no Brasil. Entre eles, o xeque Mohamad Khalil, guia religioso da Mesquita Imam Al-Khomeini, de Foz de Iguaçu, para quem "os americanos sempre lançaram inverdades sobre a suspeita de que a nossa comunidade abriga simpatizantes do terrorismo".
"Principalmente depois de 11 de setembro (ataques às torres gêmeas em Nova York em 2001), o Brasil sempre obedeceu ao pedido dos Estados Unidos de vigiar nossa gente", assegura taxativamente o líder espiritual.
Uma das principais ações de espionagem sobre os muçulmanos, "ao menos oficializada na parceria com a PF", segundo Francischini, era sobre a movimentação financeira internacional da região, já que sempre houve o temor das agências de segurança americanas de que parte do dinheiro enviado vai para grupos extremistas, entre os quais o Hamas e o Hezbollah.
"Com tamanho dispositivo tecnológico à disposição, a espionagem pode muito bem avançar em todas as direções", explica o deputado federal, reiterando que enquanto esteve na ativa sempre atuou em colaboração com as agências dos Estados Unidos. Para ele, precisa-se saber se houve mesmo extrapolamento na vigilância em território brasileiro.
Além das operações de fronteira, rastreando os recursos expedidos especialmente via dólar cabo (remessa eletrônica diretamente para uma conta no exterior feita por pessoas ou empresas não autorizadas) e igualmente a lavagem de dinheiro, ele também atuou em várias operações contra o narcotráfico com ajuda dos Estados Unidos enquanto era chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo. Procurada, a PF não retornou os contatos feitos através do Departamento de Comunicação em Brasília.
Na região da porosa Tríplice Fronteira, entre Foz de Iguaçu, Puerto Iguazu (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai), com cerca de 16 mil muçulmanos, a segunda maior comunidade depois da paulista, não se descarta há muito tempo nem a presença de agentes da CIA infiltrados. A área entrou na mira dos Estados Unidos especialmente depois do atentado de 1994 à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos, quando a promotoria portenha descobriu ali uma conexão do Irã, que teria ordenado o ataque.
O xeque Muhamad Khalil rejeita essas "mentiras e falsidades", segundo as quais até terroristas da Al-Qaeda teriam passado por aquelas cidades fronteiriças, entre eles inclusive Osama Bin Laden anos antes da fama conquistada, conforme reportagem da revista Veja com base em informantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
No momento em que a comunidade islâmica cresce no país – eram 35,1 mil em 2010 contra 27,2 mil em 2000, pelo senso do IBGE - sobretudo agora com a imigração de sírios que fogem da guerra civil e com os "expulsos pelo sionismo", como se refere Khalil aos palestinos, a metralhadora giratória do espião americano arrependido a recolocou também no centro do debate.
"Escolhemos o Brasil para viver e trabalhar em paz e integrados", destaca o líder da Mesquita Imam Al-Khomeini.
Nenhum comentário:
Postar um comentário