E se depressão, em vez de uma espécie de "falha no sistema", tiver um papel positivo? A teoria está a ganhar força entre os psicólogos
Estima-se que, em todo o mundo, a depressão afete 250 milhões de pessoas. Em Portugal, a doença atinge cerca de 400 mil, uma taxa que só é ultrapassada nos Estados Unidos.
Definida como uma "perturbação do humor", que não pode ser confundida com a tristeza natural perante algumas situações da vida, a depressão é acompanhada "por pensamentos negativos acerca de si próprio, do seu passado e futuro, e de sintomas físicos que, em conjunto, limitam o funcionamento habitual, profissional, social e interpessoal", conforme descreve a Aliança Europeia contra a Depressão em Portugal.
O que Paul Andrews, psicólogo da Universidade de McMaster, no Canadá, propõe, num estudo publicado em 2016, é uma visão da depressão diferente: "uma adaptação para analisar problemas complexos".
O psicólogo vê no conjunto de sintomas típicos da doença, como a incapacidade de sentir prazer, "ruminar" pensamentos e emoções negativas ou o predomínio da fase REM do sono, associada à consolidação da memória, um propósito evolutivo. O autor Matthew Hutson, na revista Nautilus, resume: "desvia-nos dos objetivos normais da vida e foca-nos na compreensão ou resolução do problema que desencadeou o episódio depressivo".
Vamos a um exemplo: uma relação falhada. 80% dos inquiridos num estudo sobre a depressão concluíram que desse processo de "ruminação" resultaram benefícios, como a identificação dos probblemas e a prevenção de erros no futuro.
No mesmo sentido, também Laura King, psicóloga da Universidade do Missouri, EUA, afirmou ao The Huffington Post que o significado que as pessoas retiram das experiências difíceis não depende do que sofreram mas da reflexão que fizeram sobre elas.
À luz desta teoria, os episódios depresivos teriam assim o papel de fazer perceber o que correu mal, o que precisa ser resolvido, fazendo com que o tratamento farmacológico seja apenas uma parte do processo de cura.
Fonte: Visão
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