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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS - EXCERTO DE UM GLOSSÁRIO GEOAMBIENTAL QUE ESTOU ORGANIZANDO



MUDANÇA CLIMÁTICA (Ver AQUECIMENTO GLOBAL, ARBORICULTURA, ARVORICULTIRA, DESFLORESTAMENTO, DESMATAMENTO, EFEITO ESTUFA, ELEVAÇÃO DO NÍVEL DOS OCEANOS, INCÊNDIO FLORESTAL, QUEIMADA, SIBÉRIA, TOPO DE MORRO, VIVEIROS DE PLANTAS)



- C. A. TAUNAY - Manual do Agricultor brasileiro (ESCRITO EM 1825) - Edit. Schwarcz Ltda/SP/2001, ps. 252 e seguintes: (...) necessidade que há, desde já, de não abusar deste manancial de riqueza quase inesgotável que a natureza nos outorgou, não só pela razão da economia a favor de nossos vindouros (*) como mesmo para a boa conservação da terra e temperamento da nossa atmosfera; não só os matos defendem e engordam o chão em que nascem, como obstam o furor dos ventos, os ardores do sol, chamam as nuvens para refresco da atmosfera e produção de fontes e corgos (**), e purificam o ar absorvendo os gases deletérios, e exalando oxigênio. Estes serviços são ainda mais precisos nas serras e morros, a ponto de que o descortinamento de grande porção deles pode ocasionar uma sensível alteração do clima e notável diminuição das águas, como acontece no Rio de Janeiro, cuja diferença de clima foi observada desde a vida d’el-rei d. João VI (***). A grande extensão que a cultura tomou nas vizinhanças da cidade e indiscreto corte de matas que causou originaram sem dúvida esta alteração.

O calor está notavelmente mais intenso. As trovoadas outrora diárias são raríssimas, e finalmente, de tantas fontes próximas à cidade, umas já secaram de todo e outras correm mais escassas.
O governo deu a miúdo providências para coibir o corte das matas sobranceiras aos aquedutos; porém estas ordens, como muitas outras, são pouco observadas. Um sistema permanente de devastação assola e desguarnece as fraldas da serra do Corcovado e das serras da Tijuca, e entretanto um respeito sagrado se deveria apegar àquelas matas, que tanto préstimo têm para ornato, refresco e purificação da atmosfera da cidade. O governo deveria dar nelas um exemplo por que todo o lavrador, lembrado das gerações futuras (#), haveria de tratar seus morros deixando cada pico isolado com uma coroa de uma terceira quarta parte da altura total do morrão (++). As matas e catingas das fraldas íngremes e barrancos merecem igualmente serem poupadas. Quem observar semelhantes regras nos seus roçados será premiado pela conservação dos declives, cuja fertilidade míngua depressa por as chuvas levarem o húmus consigo., e ajudarão a viscosidade das plantas pela sua sombra e umidade que atraem. (...)
-==-=
(*) e (#) -  Preocupação com as gerações futuras.
(**) - Era assim mesmo que se grafava a palavra (corgo), a qual hoje escrevemos córrego.
(***) - 1808
(++) - Ver art. 4, do Código Florestal de 2012.

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