Liubov Kurianova
RIA Novosti
Nas próximas semanas terá lugar em Londres a apresentação de um produto estranho – carne artificial, produzida em laboratório. Segundo afirmam peritos, a descoberta poderá marcar o início de uma nova época na questão da alimentação. Os autores do projeto garantem que a "carne de proveta" não será menos deliciosa que a sua congênere natural.
É verdade que muitos laboratórios têm buscado vias para resolver os agudos problemas de alimentação no planeta. Entre os cientistas empenhados em pesquisas figura Mark Post, da Holanda, que preparou um bife a partir de carne produzida em laboratório. A descoberta do professor catedrático tem por objetivo provar que a "carne da proveta" não é um mito, mas já uma a realidade.
Os argumentos a favor do novo know-how não faltam: dizem que, deste modo, será possível diminuir o consumo de água e energia, bem como reduzir a emissão de metano e outros gases de efeito estufa, para não falar de eventual abolição da criação do gado bovino. Os adeptos de tal abordagem têm apontado ainda para um crescente papel do fator ecológico, uma vez que o consumo de carne vai aumentando, por exemplo, na China, à medida que a classe média incrementa também.
Mas por muito entusiasmados que sejam os adeptos da ideia, preconizando as suas vantagens, são poucas as pessoas que podem dar-se ao luxo de experimentar o acima mencionado bife de 150 gramas. É que a produção de carne artificial custou 250 mil euros. Por isso, se falarmos de eventual produção industrial de carne sintética e de sua comercialização no mercado, tal será, com certeza, uma perspetiva de longo prazo.
De qualquer forma, o crescimento da população da Terra, o desenvolvimento de grandes centros urbanos e a redução do peso do setor agropecuário levarão, cedo ou tarde, a que os habitantes da Terra se tornem vegetarianos ou tenham de consumir proteínas artificiais, adverte o redator-chefe da revista Agrarnoie Obozrenie(Revista Agrária) e do periódico Krestiankaya Rus(Rússia dos Camponêses), Konstantin Lyssenko.
"As pessoas terão que acostumar-se ao consumo de proteínas provenientes de outras fontes, diferentes da habitual carne de animais. Nos próximos 40 anos, segundo os cálculos, a Humanidade precisará de um volume de alimentos igual ao que foi consumido nos últimos oito mil anos. O progressivo aumento da população implica, em forma proporcional, o consumo de produtos alimentícios. Todavia, daqui a 50 anos, as áreas agrícolas disponíveis não serão suficientes para garantir a obtenção e o posterior consumo de proteínas de origem animal".
Segundo esta lógica de raciocínio, os cientistas criaram, primeiro, produtos geneticamente modificados a fim de elevar as colheitas e o prazo de armazenamento. Depois foi clonada a ovelha Dolly, seguindo-se a campanha de promoção de produtos sintéticos, artificiais e de silicone. Na sequência disso, muitos cientistas se põem de sobreaviso, explicando que a Humanidade estará sofrendo mudanças colossais de nível genético que, em ultima instância, levarão ao desaparecimento do homem. A carne artificial poderá dar um impulso a tal cenário triste, refere o diretor-geral do Conselho de Produtores de Carne, Arsen Guinossian.
"O futuro tem que pertencer às proteínas normais, acessíveis aos homens desde o início e proporcionadas pela natureza. Nos próximos decênios, a Humanidade deverá pensar mais em agricultura".
Hoje em dia, este tema tem vindo a ganhar a atualidade, constatam os autores de uma pesquisa, segundo a qual os hamsters alimentados com soja transgênica deixaram de procriar passadas apenas duas gerações. Claro que não vale a pena estender esta observação aos homens e concluir que o consumo de produtos modificados pode levar à esterilidade. Mas se pode projetar estes dados para os outros animais. Isto significa que a forragem barata, feita de plantas modificadas divulgadas no mundo inteiro, poderá custar os olhos da cara.
E então a questão da carne artificial será colocada no primeiro plano. Muitos países e até regiões já experimentaram os efeitos da comida "pura". A Áustria, Venezuela, Grécia, Polônia e Suíça estão livres de produtos geneticamente modificados.
Entretanto, o autor da "carne de proveta", Mark Post, não se sente confuso com tais perspetivas desanimadoras. Antes pelo contrário, o investigador admite que a Humanidade poderá sobreviver graças à sua invenção se não morrer antes disso...
Fonte: VOZ DA RUSSIA
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