Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

LA SALLE PÃO DOS POBRES - Um corpo docente e alunos com discernimento, sob um diretor abusado



Alunos protestam contra demissão de professor da rede La Salle em Porto Alegre


Professor de História do colégio Lá Salle Pão dos Pobres foi demitido na sexta-feira (17) | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

Dezenas de alunos do colégio La Salle Pão dos Pobres em Porto Alegre se mobilizam em protesto contra a demissão do professor Giovanni Biazzetto, que lecionava História na instituição. Ele foi demitido na sexta-feira (17) sem ter recebido nenhuma explicação ou motivo por parte da escola.

Após tomar conhecimento do afastamento do colega, a professora de Filosofia Gabriela Bercht decidiu se demitir. Eles alegam que havia conflitos na escola desde a chegada do novo diretor, irmão Olir Facchinello, que comanda o colégio desde janeiro deste ano.

Estudantes afirmam que estão sendo ameaçados pela escola por realizarem protesto | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

De acordo com os professores, o novo diretor estaria exigindo que fossem repassados conteúdos religiosos aos alunos. Ele também teria dito que “quem não é suficientemente cristão não serve” para a escola.

A demissão dos professores provocou indignação entre alunos e ex-alunos do colégio La Salle Pão dos Pobres. Eles ficaram sabendo da notícia através das redes sociais – já que na sexta-feira, quando ocorreu a demissão, não tiveram aula por conta da reunião do conselho de classe.

Na segunda-feira (20), os estudantes realizaram um protesto dentro das dependências da escola. Eles contam que teriam sido ameaçados por funcionários do colégio por conta da manifestação.

“Ameaçaram alunos de suspensão e até de expulsão. Querem catequizar os alunos e isso é ilegal”, critica Bruno Schneider, do 6ª ano. Outro aluno afirma que foi ameaçado por estar segurando um cartaz que pedia a readmissão dos professores. 


Grupo realizou ato na segunda-feira (20) dentro da escola e na terça-feira (21) em frente à mantenedora da Rede La Salle Brasil-Chile | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ainda há relatos de que estudantes que apareceram em fotografias do protesto e que realizaram filmagens também teriam sido ameaçados. “Disseram que a gente ia se ferrar”, conta um aluno.

Os estudantes também dizem que os funcionários do colégio estariam ameaçando retirar as bolsas de estudos dos alunos envolvidos na reivindicação. Outra aluna informa que funcionários da escola estariam vasculhando os perfis dos estudantes no Facebook para monitorar os comentários a respeito da demissão dos professores.

Nesta terça-feira (21), um grupo de alunos do 6º, do 7º e do 8º ano protestaram em frente à sede da mantenedora da Rede La Salle Brasil-Chile. Eles conseguiram uma reunião com o presidente da rede, irmão Jardelino Menegat.

“Ele disse que não podemos receber ameaças dentro da escola por lutarmos por nossos direitos e disse que eles não têm o direito de nos colocar contra a parede”, conta o ex-aluno Bruno Luz Fraga, que integra o grupo de jovens do colégio e participou da reunião com o irmão Jardelino.


Alunos do 6º, 7º e 8º ano realizaram a manifestação | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Cláudia Amodeo, mãe de um aluno do 7º ano, também participou da reunião e conta que o presidente garantiu que não haverá represálias a estudantes. “Os pais ficaram muito decepcionados com a demissão do Giovanni, é um ótimo professor. Foi um susto vermos as crianças saindo da escola chorando, arrasadas. O irmão nos deu um respaldo e garantiu que não haverá punição a professores, muito menos a alunos”, comenta.

De acordo com a assessoria de imprensa da Rede La Salle, o irmão irá conversar pessoalmente com o diretor do colégio La Salle Pão dos Pobres e com os dois professores afastados. As reuniões serão marcadas ainda ao longo desta semana.

“Não vou impor religiosidade”, diz professor demitido

Enquanto os alunos protestavam em frente à sede da mantenedora da Rede La Salle Brasil-Chile, em Porto Alegre, os professores Giovanni Biazzetto e Gabriela Bercht aguardavam um desfecho próximo ao local. Eles não escondiam a emoção de ver os estudantes engajados na mobilização contra o que acreditavam ser injusto.


Giovanni Biazzetto diz que não há clima de trabalho na escola com o atual diretor | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Sentimos muito orgulho. Eles aprenderam que precisam lutar pelo que consideram justo. Eu tenho princípios e valores educacionais, ter sido demitido por causa disso é motivo de orgulho”, diz Giovanni.

Ele trabalhava há quatro anos e nove meses no colégio La Salle Pão dos Pobres e conta que a situação se tornou tensa depois de janeiro, quando o novo diretor tomou posse. A pessoa que entregou a folha de demissão ao professor informou que, de acordo com o diretor, “não interessava” qual era a razão do afastamento e que se tratavam de “motivos pessoais” do irmão Olir Facchinello.

Giovanni conta que, em uma conversa, o diretor teria dito que ele era “uma pessoa desagregadora”. “Se eu fosse uma pessoa desagregadora, os alunos não estariam aqui agora e não teria colega se demitindo em solidariedade”, rebate.

Ele explica que a escola sempre realizava um período de reflexões na parte da manhã, antes das aulas, em que os professores refletiam sobre algum tema de livre escolha. Nesses momentos, o diretor tentava influenciar o debate com assuntos religiosos.


Alunos dizem que funcionários da escola estão vasculhando seus perfis nas redes sociais | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Muitas vezes, depois que eu falava, ele aplicava algo estritamente religioso e doutrinário. Chegou a dizer que todos os professores e alunos têm que saber o que é o Pentecostes e os sete dons do Espírito Santo. Ele não pode impor isso aos alunos e professores. Eu sou cristão, mas não vou impor religiosidade”, critica.

O professor afirma que não voltará para a escola caso o diretor permaneça. “Não existe clima de trabalho com ele, nem com a coordenadora e com a orientadora educacional. Essas pessoas seguem a linha do diretor e estão ameaçando os alunos, junto com o responsável do serviço de coordenação de turma. Os estudantes têm 10, 11, 12 e 13 anos. Como dizem para eles, crianças e adolescentes, que irão expulsá-los?”, indigna-se.

Giovanni diz que os professores do colégio temem que novas demissões possam ocorrer. “Tem gente que está indo para a sala de aula chorando, com medo que aconteça a mesma coisa”, lamenta.

“A autonomia do professor estava sendo limitada”, denuncia Gabriela

Professora de Filosofia, Gabriela Bercht trabalhava há mais de dois anos na escola La Salle Pão dos Pobres. Ela decidiu se desligar da instituição após a demissão do colega Giovanni Biazzetto.

“Desde a entrada do atual diretor, o clima tem se tornado hostil. Sempre soube que era uma escola cristã, mas quando me contrataram nunca perguntaram se eu era cristã, não falaram que eu deveria promover esse tipo de fé dentro da sala de aula”, comenta.

Professora Gabriela Bercht se demitiu após ficar sabendo do afastamento do colega | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Gabriela afirma que estava se sentindo “cada vez mais coagida a trabalhar em aula questões ligadas a conteúdos religiosos”. “A autonomia do professor estava sendo limitada. Não é possível trabalhar em uma escola onde estamos o tempo inteiro olhando por trás das costas para ver se podemos falar o que queremos. Para dar aula de Filosofia, temos que ter uma liberdade quase plena”, observa.

Ela também estava emocionada com a mobilização dos alunos contra a atitude do diretor. “Trabalho com eles conteúdos relacionados à alienação e à presença da ideologia na sociedade. Me senti extremamente gratificada em perceber que eles se movimentam em torno de uma injustiça que identificam”, conclui.


Fonte: SUL 21

Nenhum comentário: