“Dane-se a União Europeia”, diz secretária dos EUA à diplomata
A gravação de um diálogo entre diplomatas dos EUA publicada no Youtube eleva a tensão com a Rússia
Os diplomatas debatem sobre como apoiar a oposição ucraniana
CRISTINA F. PEREDA Washington 7 FEV 2014 - 18:01 BRST
O presidente da Ucrânia, Víktor Yanukóvich (Izda.), estreita a mão à secretária de Estado anexa de EUA para Assuntos Europeus, Vitória Nuland. / MYKHAILO MARKIV / POOL (EFE)
Uma conversa telefônica sobre a Ucrânia entre diplomatas norte-americanos gravada e publicada no Youtube nesta quinta-feira elevou ainda mais a tensão na crise sobre o futuro do país. Na gravação, Vitória Nuland, secretária de Estado para Assuntos Europeus dos EUA, e Geoffrey Pyatt, embaixador norte-americano em Kiev, mantêm uma esclarecedora conversa na que se debate a capacidade de alguns líderes da oposição para participar em um futuro governo ucraniano; discute-se como facilitar que o protesto contra o atual Governo dê certo; e é feita uma referência displicente à União Europeia.
A Casa Branca responsabilizou o governo russo de estar atrás do vazamento. Vitória Nuland, se desculpou pelas suas declarações, segundo informou o Departamento de Estado. O Governo russo afirmou que a conversa demonstra que Washington manobra para que tome corpo um golpe contra o governo ucraniano.
A gravação, publicada no Youtube, contém um diálogo de pouco mais de quatro minutos entre Nuland e Pyatt.
Nuland faz referência durante a conversa telefônica de que a ONU poderia nomear nos próximos dias a um novo enviado especial para a Ucrânia e que isto ajudaria a promover o final da crise diante da suposta inação da União Europeia. "E já sabe, dane-se a UE", afirma a secretária. "Exatamente", responde o embaixador.
Um porta-voz do Governo alemão disse nesta sexta-feira que a chanceler alemã Angela Merkel considera "totalmente inaceitável" o comentário de Nuland.
Os dois diplomatas trabalham na capital ucraniana para promover um acordo entre o Governo e a oposição que ponha fim à crise política que afeta o país desde o último mês de novembro. Nuland reuniu-se nesta mesma quinta-feira com o presidente Viktor Yanukóvich para tentar reiniciar as conversas com a oposição.
O vídeo, intitulado “As marionetes de Maidán”, em referência aos manifestantes na praça de Kiev onde se iniciaram os protestos, foi compartilhado nesta terça-feira por um assistente do primeiro-ministro russo na sua conta no Twitter. Na sua mensagem anunciava “umas afirmações controversas de Nuland a respeito da União Europeia”. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, assegurou nesta quinta-feira que “isto diz algo do Governo russo”. Sua homóloga no Departamento de Estado, Jen Psaki, qualificou o vazamento como “um novo ponto baixo” da Rússia.
O Departamento de Estado não avaliou os termos empregados por Nuland alegando que se tratava de uma “conversa diplomática privada”. No áudio, Nuland afirma ao embaixador que considera que Vitaly Klitschko, ex-boxeador e um dos líderes da oposição, não deveria formar parte do governo ucraniano, como havia proposto seu presidente no último 25 de janeiro. “Não acho que seja necessário, não é uma boa ideia”, declara Nuland, alegando sua falta de experiência. A seguir, ambos debatem diferentes estratégias para trabalhar com outros representantes, como Arseny Yatseniuk e Oleh Tyahnybok.
A secretária norte-americana acrescenta que o envolvimento das Nações Unidas nos diferentes esforços para resolver a crise de Kiev “ajudaria a solidificar” o plano. “Acho que temos que fazer algo para que aguente porque se começa a ganhar altura, os russos vão trabalhar nos bastidores para boicotá-lo”, acrescenta o embaixador.
O vazamento acontece meses depois de que Edward Snowden, ex-empregado de inteligência dos EUA refugiado agora em Moscou, revelasse que a Agência Nacional de Segurança gravava conversas de numerosos líderes internacionais, entre eles, a chanceler alemã, Angela Merkel. O presidente Obama anunciou em janeiro o cancelamento de alguns dos programas mais controversos e desde o primeiro vazamento alegou que os membros da diplomacia norte-americana também são espiados por outros governos
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