Ordem de demolição de povoado em território ocupado provoca protestos dos EUA e da UE
BEATRIZ LECUMBERRI Susya (Palestina) 26 JUL 2015 - 10:56 BRT
Crianças palestinas brincam em Susya na terça-feira. / MAJDI MOHAMMED (AP)
Nasser Nawajah encabeça a manifestação com passo decidido, alheio ao sufocante calor e à presença nas proximidades de veículos doExército e da polícia israelense. Tem 33 anos e nasceu em Susya, o povoado palestino sobre o qual pesa uma ordem de demolição emitida pela Justiça de Israel. Os mais de 300 habitantes dessa aldeia do sul da Cisjordânia sabem que as escavadeiras estão para chegar e não escondem seu medo. A presença de cerca de 200 ativistas pró-direitos humanos que foram até a aldeia para se manifestarem a seu lado não consegue confortá-los. “Mas não sairemos. Se vierem e destruírem nossas casas, isso não adiantará nada porque voltaremos a construí-las”, diz, confiante, Nawajah.
Susya se situa na chamada área C da Cisjordânia, controlada administrativa e militarmente por Israel. Seus habitantes vivem cercados por um assentamento israelense com o mesmo nome e uma zona arqueológica preservada, onde foram encontradas ruínas de uma sinagoga. Ao longo de 30 anos os habitantes dessa aldeia viram suas casas serem destruídas em ao menos três ocasiões e atualmente vivem em precários casebres de lona e plástico, em uma terra da qual muitos possuem títulos de propriedade emitidos há décadas.
A escola, o pequeno posto médico, o sistema de energia elétrica, graças a painéis solares, e várias das frágeis casas receberam financiamento de países europeus, incluindo a Espanha, explica a ONG israelense Rabinos pelos Direitos Humanos, que defende os habitantes de Susya nos tribunais.
Mas para a Administração israelense os palestinos dessa aldeia são “intrusos” que têm construído há anos moradias de forma ilegal e sem nenhuma permissão. A batalha judicial englobou diversas sentenças e apelações, até que em maio o Supremo Tribunal ordenou a demolição de uma parte do povoado.
Os habitantes de Susya e a Rabinos pelos Direitos Humanos ressaltam que vários planos de construção e saneamento foram apresentados, mas as permissões sempre foram negadas. Edificar na área C é quase uma missão impossível para os palestinos, e a ONG israelense Bimkom estima que 95% dos pedidos apresentados são rejeitados.
“A Administração civil israelense nos disse que não haverá demolições até terça-feira. Depois, não sabemos o que vai acontecer. O risco é iminente, e se não houve derrubadas até agora é graças à pressão internacional que fez com que Susya exista”, explica a este jornal Quamar Mishriqi Asad, advogada que defende os habitantes da aldeia.
Nos últimos dias, a União Europeia e os EUA pediram a Israel que não execute as demolições. O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, John Kirby, considerou que a derrubada de Susya constituiria uma “provocação” e um “ato nocivo”, e instou as autoridades israelenses a traçar um plano de urbanização para os moradores da aldeia.
“Susya se transformou em sinônimo das políticas que privam os palestinos de suas terras e seus recursos”, disse John Gatt Rutter, representante da UE nos territórios palestinos, durante uma recente visita à aldeia. Em um comunicado, os ministros de Relações Exteriores da UE exortaram as autoridades israelenses a renunciarem aos planos de demolição.
Para Mishriqi, o Governo é “refém da pressão dos colonos”. A advogada recorda que, nos anos oitenta, Plia Albeck, jurista considerada a “mãe dos assentamentos” israelenses, se referiu a Susya como uma aldeia cujas terras eram propriedade de seus povoadores árabes.
“Nunca existiu um povoado árabe chamado Susya (...). Estamos diante do nebuloso oportunismo de organizações de esquerda que querem tomar o controle da zona C”, disse na semana passada, categórico, o vice-ministro da Defesa, Eliyahu Ben-Dahan, do partido ultranacionalista religioso Lar Judaico.
As bandeiras palestinas tremulam em cada casa de Susya. No total, 37 edificações, ou seja, a metade do povoado, podem ser destruídas dentro de alguns dias, entre elas várias casas, o posto médico e vários armazéns e estábulos.
“Prefiro pensar que isso não vai acontecer, que a comunidade internacional nos vai salvar”, acredita Wajda Nawajah, que tem três filhos e vive em um dos casebres que estão na lista da demolição.
Fonte: EL PAIS
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