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terça-feira, 21 de julho de 2015

CRISTOFOBIA NO BRASIL?

"Fobia" significa aversão. ou medo, de alguma coisa, instituição ou alguém. Não gostar, por exemplo, da Igreja Católica, que é cristã, não significa ser contra os crentes da religião em destaque, temê-los ou querer trucidá-los. O mesmo raciocínio vale para as demais confissões cristãs.
Ninguém está obrigado a comungar das crenças cristãs, mas daí até concluir que se possui aversão aos crentes vai uma distância enorme. 
O problema surge exatamente no raciocínio inverso: quando as lideranças cristãs empenham-se em impor os dogmas e o  modus vivendi  ditado pelos seus preceitos. Contra eles, os pregadores fundamentalistas, é que existe visível resistência, principalmente entre as cabeças mais lúcidas, ou menos ingênuas. Contra o comportamento conservador - leia-se antidemocrático - é que há forte oposição.
A aversão mais estigmatizante é praticada pelos cristãos, há muito tempo. Possuem o maior prazer em rotular os crentes de outros credos e os não religiosos como "hereges". Contra os umbandistas ,então, proclamam as maiores acusações, rotulando a religião como "seita". Os muçulmanos também foram/são muito estigmatizados e, ao seu turno, também estigmatizam.
No fundo, há uma concorrência desleal entre os que disputam ferozmente o "mercado religioso". O verdadeiro deus de todos é o dinheiro. Todos padecem da chamada fome sagrada de ouro. Desqualificar e desvalorizar os concorrentes é uma tática quase unânime.
Quando da invenção do deus único, todos os deuses que formavam os panteões romano, grego e egípcio, por exemplo, foram ridicularizados. Assim, já se disse, com muita propriedade que, no fundo, todos os que acreditam no deus único são ateus, em relação aos deuses que foram desprezados.

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por Theo Hotz



Hotz: Estado laico 
é um pressuposto
da democracia


É no mínimo curioso dizer que no Brasil existe cristofobia porque no Ocidente o cristianismo se tornou rapidamente hegemônico e majoritário no Império Romano.

Talvez o que existe da parte de alguns é uma aversão à instituição religiosa. É um fato, porque a gente vive em um mundo que é laico.

A luta por um Estado laico também está na ordem do dia de qualquer democracia. É um pressuposto de qualquer democracia porque não dá para se ter uma religião de Estado como era no antigo regime.

Essa luta também existe em Israel. 

Embora lá haja um órgão como o rabinato central ligado ao Ministério do Interior, as leis civis não são necessariamente judaicas, religiosas.

Também é um fato que a maioria da população de Israel é laica. E não há um deputado religioso ortodoxo que diga “ah, existe uma judeufobia dentro do Estado de Israel”.

É claro que esse deputado tem o direito de lutar por certo status religioso que os ortodoxos acabaram adquirindo dentro do Estado de Israel. Mas não é viável querer impor isso em uma democracia.

Em 2012, havia uma discussão na cidade de Tel Aviv sobre se os ônibus iam ou não funcionar durante o Shabat, porque em boa parte de Israel não há transporte público nesse período. 

A população religiosa de Tel Aviv é pequena e, lá, para as pessoas essa questão não tem importância e o que elas querem mesmo é o transporte público.

Ao ser entrevistado, o rabino chefe na ocasião afirmou ser um absurdo que a gente tente impor a nossa visão religiosa sobre uma administração pública.

Nesse sentido, acrescentou o rabino, não havia nenhum problema que o transporte público funcionasse. Ele apenas aconselhou que no Shabat se evitasse que motoristas e cobradores fossem judeus.

Isso mostra que existem os dois lados da moeda. A religião tem um papel importante naquele Estado, mas não é uma religião de Estado. E o Estado é democrático. Ninguém vai dizer que isso é judeufobia.

Fazendo um paralelo com o Brasil, fica engraçado se falar em cristofobia no maior país cristão do mundo. É quase uma piada

Esse texto é transcrição de uma palestra de Theo Hotz. Ele é coordenador do Departamento de Culto da Congregação Israelita Paulista. 


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