por Mauricio Dias — publicado 25/11/2016 10h10
Operação Lava Jato negocia com os réus de colarinho-branco e de mãos sujas. E os criminosos sem moeda de troca?
Pedro de Oliveira/ALEP e Fabio Rodrigues Pozzebon/ABr
Batochio enquadrou o fanfarrão: “O juiz não é dono do processo. O limite é a lei”
Parte da mídia, torcedora fanática de ações e criações de Sergio Moro, escreveu muito pouco e falou baixinho sobre o bate-boca travado entre ele, o juiz, e José Roberto Batochio, advogado de Lula, durante a audiência do ex-senador Delcídio do Amaral, no processo em que o ex-presidente é acusado de tentar obstruir a Justiça.
O silêncio em torno do episódio teve a finalidade de proteger o fiasco e a petulância do augusto magistrado. Moro, ao tentar transferir afirmações de Delcídio para atender a interesses dos procuradores da Operação Lava Jato, afrontou o Supremo Tribunal Federal. O STF já tinha mantido o processo em Brasília, longe das garras do juiz.
O advogado Batochio, no entanto, reagiu: “O juiz não é o dono do processo. Aqui os limites são a lei”. Moro afinou.
Sim. As autoridades estão submetidas a limites. Alguns pensam que não. Moro, por exemplo, cruza abusivamente essa linha, valendo-se do apoio da mídia e de parte ignorante da classe média. Ela o julga um herói da democracia.
Moro é um risco. Quando quer, transforma a autoridade em autoritarismo. Ele é a expressão dos abusos cometidos contra os réus de colarinho-branco. Esse conflito acentuou os interesses políticos da Lava Jato.
Curitiba, cenário compartilhado com ásperas palavras trocadas pelo juiz e pelo advogado, fica distante de Brasília, onde foi iniciada, recentemente, uma caminhada com o propósito de estabelecer novas regras na lei sobre abuso de autoridade.
A existente, de 1965, é considerada uma lei enferrujada. Se for verdade, o Brasil, como se comprova agora, avança de charrete. Isso quando não retroage ou estanca.
Embora tarde, mas ainda há tempo, o Senado brasileiro resgatou um projeto de lei com o objetivo de conter eventuais fúrias de funcionários públicos, dos carcereiros aos magistrados, no exercício da punição e da prisão.
A proposta, em andamento na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, justa ou injustamente nasceu com certas suspeitas, por ter sido sustentada inicialmente pelo senador Renan Calheiros. Ele tomou a decisão logo após travar um bate-boca a distância entre ele, presidente do Senado, e Cármen Lúcia, presidente do STF.
É notório, porém, que falta um contingente de réus nessa conversa. Trata-se daqueles que, efetivamente, precisam da garantia da lei. Não basta melhorar o vaso do banheiro usado pelos réus da Lava Jato. É preciso cuidar da situação assustadora vivenciada no sistema penal pelos, digamos, colarinhos-sujos.
Quem vai guarnecer esses réus das mãos dos carcereiros e dos conflitos internos de gangues traficantes?
Algum juiz vai propor para eles uma delação premiada que reduza radicalmente a pena aplicada, como faz Moro?
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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