Imagem de capela em Niterói perde as feições originais depois de restauração mal feita e lembra caso do Cristo transfigurado em cidade da Espanha
Santa Bárbara: à esquerda, a imagem original, à direita, a "restaurada" (Milton Teixeira/Arquivo Pessoal)
Frequentador há mais de 20 anos da Capela de Santa Bárbara, na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, o historiador Milton Teixeira levou um susto ao entrar no local no sábado passado e se deparar com uma imagem totalmente diferente no altar. A santa, que data do início do século XIX, ganhou contornos fortes nos olhos, um rosto mais pálido e lábios vermelhos. "Acabaram com a imagem, colocando sobrancelhas e batom. O rosto, que antes tinha toda uma gradação de cores, está branco. Transformaram Santa Bárbara em Barbie", compara.
Amante e colecionador de arte sacra, Milton conta que tem um levantamento fotográfico extenso da imagem, desde 2002, e que acompanha sua evolução há pelo menos 20 anos. Ele não se lembra de ter visto uma grande intervenção antes. E destaca que ela estava em ótimas condições. "Não precisava de nada disso. No máximo, uma limpeza. Era original, e agora virou piada", lamenta ele, que desconhece o "profissional" contratado para o trabalho. "Não consigo imaginar um restaurador fazendo aquilo. É só uma pintura, uma pintura grosseira."
Ecce Homo - O caso que revoltou o historiador lembra outra restauração bizarra recente: a da obra Ecce Homo, do pintor Elias Garcia Martinez, em uma igreja da cidade de Borja, na Espanha. Uma idosa de 80 anos decidiu "recuperar" o afresco do século XIX por conta própria e o deixou totalmente desfigurado. Mas o caso repercutiu com tanto sucesso pelas redes sociais, que a igreja hoje cobra ingresso para os curioso que quiserem conhecer de perto a "obra da velhinha".
A Capela de Santa Bárbara é uma das mais antigas do Rio de Janeiro. Sua construção teria sido concluída em 1612, e passou por uma restauração completa 300 anos depois. A imagem original da santa, entalhada em madeira portuguesa, tem 1,73 metro de altura e cerca de 200 anos. A Arquidiocese de Niterói, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que vai se manifestar sobre o caso em um comunicado oficial, que ainda não foi divulgado.
Milton Teixeira/Arquivo Pessoal
Santa Bárbara: até as roupas originais (à esq). receberam pintura nova
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