by Jorge MagalhãesMagal
O que é a menorá?
Por: Rabino Eliahu Birnbaum - Tradução: David Salgado
A Menorá (candelabro) é um dos utensílios mais importantes que havia no Tabernáculo no deserto e no Templo Sagrado de Jerusalém. Foi construída de uma só peça de ouro puro e adornada com gravuras e flores que lhe outorgavam um aspecto belo e imponente.
A Menorá do Tabernáculo tinha sete braços. O braço central era a parte fundamental da Menorá e dele saiam três braços para cada lado. Cada braço estava decorado com copas em forma de flores de amêndoas. Quando a Menorá estava acesa, as três velas dos lados estavam dirigidas a vela do meio. A vela central simboliza o princípio fundamental, a luz central.
O azeite para a Menorá era de grande pureza e estava destilado especialmente para servir a tal propósito.
É necessário assinalar que enquanto a Menorá do Tabernáculo possuía sete braços, a Menorá de Chanucá, a que estas habituados em nossos dias, possui oito braços, em lembrança do milagre de Chanucá, quando a Menorá ardeu durante oito dias com um recipiente de azeite que era suficiente apenas para um dia.
A menorá era o único utensílio do Tabernáculo e do Templo que estava construído totalmente em ouro. O ouro, o metal precioso, não sofre mudanças diante das condições ambientais, o tempo e o clima; não oxida nem se deteriora. O material do qual está construída a Menorá simboliza o princípio estável que não se modifica nem está sujeito a influência alguma.
Aaron o Cohen e depois seus filhos, os Cohanim Haguedolim (grandes sacerdotes), acendiam todas as manhãs as velas de azeite da Menorá. No momento do acendimento ordenavam e limpavam as velas, preparavam as mechas e retiravam as mechas queimadas do dia anterior. A Menorá deveria estar acesa durante todas as horas do dia e da noite, todos os dias do ano.
Na época do Segundo Templo, a Menorá estava construída de estanho. Quando a situação econômica melhorou, ela foi banhada em prata. Depois o corpo central da Menorá foi banhado em ouro, em forma similar a Menorá do Primeiro Templo.
Durante a destruição do Templo, a Menorá foi saqueada junto com os demais objetos sagrados, desconhecendo-se seu paradeiro. Com base na gravação do Arco do Triunfo em Roma, no qual aparece com clareza a Menorá, existem os que sustentas a teoria de que ela foi levada para Roma. Outros, ao invés disso, acreditam que os romanos não conseguiram levar a Menorá, pois esta foi escondida pelos judeus nas catacumbas abaixo do Templo, para evitar que os conquistadores a levassem.
Podemos considerar que a Menorá de sete braços do Templo que aparece na nossa parashá e em outras parashiot, era um instrumento ritual que tinha o único objetivo de cumprir com uma função religiosa: entretanto, podemos contemplá-la de forma alegórica, simbólica. Em nosso caso, parece que este é o significado profundo da Menorá e dos demais utensílios do Templo.
A Menorá não era apenas um ornamento do Templo. A Menorá e sua luz possuíam um valor simbólico que a Torá busca comunicar ao povo. A função da Menorá é a de dar luz através de suas velas. Na Torá e no judaísmo a luz simboliza a sabedoria e a inteligência. O poder da vela é sua influência sobre o homem. A luz da vela penetra no homem através dos olhos, porém exerce sua influência também sobre sua mente e sua alma.
A luz da vela, com o fogo que sobe e desce, não é estática, mas muda constantemente de cor e de forma; está em eterno movimento. Por isso o homem se deleita na contemplação do fogo, que lhe recorda seu próprio movimento interior, seu desejo de avançar e mudar, obter resultados, elevar-se constantemente.
Existem aqueles que acreditam que a Menorá representa o homem. As velas que estão voltadas para o centro ensinam ao homem a contemplar o seu interior, rever seus próprios atos. O judeu que contempla a Menorá de ouro aprende sobre o significado da vida saudável. A Menorá ensina que o segredo da felicidade humana depende de sua possibilidade de pôr seu espírito e seu corpo a serviço de um objetivo superior e elevado, um objetivo altruísta, que lhe outorgue a sua alma a união e a paz.
No marco de uma interpretação alegórica do Templo como representação simbólica de todo o universo, Filón de Alexandria acredita que a Menorá representa o céu, que irradia a luz. As sete velas representam os sete satélites que existem no céu, segundo a astronomia da antiguidade.
As velas da Menorá deram origem a vários costumes e leis, como as velas do Shabat, a vela da recordação (Yzkor – em memória de um ente querido) e a luz eterna (Ner Tamid).
As velas de Shabat foram escolhidas como símbolo deste dia e servem para diferenciar entre os seis dias da semana e o Shabat. A luz assinala o limite do tempo, entre o dia e a noite, e também entre os seis dias da semana e o Shabat. A luz marca uma divisão no passar do tempo e o correr dos dias.
Os textos de nossos sábios fazem especial referência as velas do Shabat, mas além da função prática de iluminar a mesa al redor da qual se sentam os convidados no Shabat. Os sábios consideram que as velas simbolizam aqueles valores que transcendem a percepção sensorial e simbolizam o mundo dos conceitos metafísicos nas esferas do espírito e do pensamento.
A luz simboliza também a presença da luz Divina no lar e no mundo hoje, mediante seu acendimento, simbolizamos sua existência.
Assim como as velas do Shabat representam a entrada do Shabat e a santificação do dia, também acendemos a vela de Havdalá (Separação) na saída do Shabat. Ela diferencia entre o santo e o profano, entre a luz e a escuridão, entre Israel e os demais povos (segundo a própria bênção).
Depois do falecimento de uma pessoa alguns costumam acender duas velas e colocá-las próximo a cabeça do morto. Existem aqueles que deixam uma vela acessa durante todo o primeiro ano do luto, e outros o fazem apenas durante os sete dias após o falecimento. Todos acendem uma vela no dia do aniversário de morte.
A luz de recordação simboliza a relação que existe entre a pessoa que faleceu e seus parentes. A luz nos lembra que o morte não foi esquecido, e sua lembrança permanece em nosso coração e nos acompanha.
Em lembrança da Menorá que ardia constantemente no Templo, acostumamos deixar uma luz acesa permanentemente ao lado da arca no Beit Hakenesset (Sinagoga).
A Menorá, o símbolo religioso mais importante na história do povo judeu, constitui hoje o símbolo nacional do povo que voltou a sua terra. Uma das razões das quais a Menorá é o símbolo do Estado de Israel, foi criar um antagonismo em relação a menorá que aparece no arco de Tito. Lá, a menorá simboliza a derrota e a humilhação dos judeus perante outros povos. Entretanto, a Menorá como símbolo do Estado de Israel representa a libertação, a independência, o orgulho judaico.
Sobre o significado da Menorá e a luz da vela, podemos aprender de um conto chassídico que descreve a ação da vela: Um Rabino pediu a um aluno seu que baixasse ao sótão para buscar-lhe um livro. O discípulo foi ao sótão, porém a total escuridão que reinava aí o impediu de cumprir com o pedido de seu rabino. Retornou ao rabino e lhe disse: “Tudo está escuro e não pude encontrar o livro”. O rabino lhe contestou: “Qual é o problema? Pega um cajado e vai novamente ao sótão, golpeie a escuridão e então poderás espantá-la e encontrarás o que buscas”.
Retornou o aluno novamente ao sótão fazendo o que lhe disse seu rabino e mesmo assim, mais uma vez não conseguiu cumprir com seu objetivo.
Voltou ao seu rabino e lhe disse: “Não consegui espantar a escuridão”.
Então lhe disse o rabino: “Toma essa pequena vela, acenda-a e a pequena luz espantará a escuridão. Não é possível espantar a escuridão, o mal, a negação, sem acendermos uma pequena luz que espante a escuridão e ilumine um grande salão”.
O povo de Israel compreende que a Menorá não constitui apenas um objeto de culto, mas é também um meio de recordação. O homem a contempla e acende suas velas para acender a menorá de sua vida que então lhe outorgará a luz de seu sustento.
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