Sheila Oliveira
Saulo Araújo
A suspeita de falsificação de documentos para esconder a troca ilegal de médicos auxiliares por técnicos em enfermagem durante cirurgias realizadas em hospitais particulares do Distrito Federal será investigada. O Correio teve acesso a documentos que comprovam a prática em um dos principais estabelecimentos da capital do país, o Hospital Anchieta, em Taguatinga (veja fac-símile). Em fichas nas quais os especialistas descrevem os procedimentos adotados nas intervenções cirúrgicas, a mesma equipe aparece como responsável por operar duas pacientes, no mesmo dia e em horários coincidentes. Algo impossível de ser realizado, segundo profissionais da área.
Os dois prontuários filmados por um técnico em enfermagem mostram horários sobrepostos de cirurgias que teriam sido feitas pela mesma dupla de médicos
De acordo com denúncia dos funcionários da instituição, os dois cirurgiões deveriam tratar de apenas uma paciente. No entanto, para lucrar mais dos planos de saúde, optaram por se dividir, ignorar as regras do Conselho Regional de Medicina (CRM) — que obriga a participação de médicos assistentes nas cirurgias — e trabalhar apenas na companhia de um empregado de nível médio, sem conhecimento aprofundado em anatomia e, portanto, despreparado para o ofício.
As fichas foram preenchidas no último dia 9. Um dos relatórios sugere que uma paciente deu entrada na sala de operação às 10h30 e o procedimento foi concluído ao meio-dia. Às 11h40, segundo as anotações, os mesmos médicos iniciaram um nova cirurgia em outra mulher. O funcionário do Anchieta autor das denúncias garante que tais irregularidades ocorrem há três anos, com a conivência dos gestores. “Desde 2009, isso vem ocorrendo no centro cirúrgico e pode ser comprovado pelos relatórios das cirurgias. Cansamos do desvio de função e da pressão psicológica”, protesta.
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