Mais de 50 mil palestinos aderiram à paralisação total; os trabalhadores não receberam salário por conta do veto israelense
Funcionários do governo palestino na Cisjordânia iniciaram nesta quarta-feira (19/12) uma paralisação de dois dias por conta do atraso no pagamento de seus salários de novembro. Os manifestantes protestam contra a medida de Israel de bloquear o repasse de verbas a Autoridade Nacional Palestina, que seria utilizado em sua remuneração.
Cerca de 50 mil pessoas nas escolas, centros de saúde e sedes ministeriais não compareceram aos seus trabalhos nesta quarta (19/12), mas não realizaram protestos nas ruas do território palestino ocupado por não estarem contra a administração local.
“A greve é para protestar contra a pirataria de Israel que rouba o nosso dinheiro”, explicou Bassem Zakarneh, porta-voz da união dos trabalhadores públicos da Cisjordânia, citado pela agência France Press. “O governo deve se posicionar com os trabalhadores”, acrescentou.
O líder sindical caracterizou a paralisação desta quarta (19/12) de greve geral e disse que irá continuar nesta quinta-feira (20/12). “A situação é muito séria e os serviços estão amplamente reduzidos. As pessoas nem conseguem encontrar transporte para serem levados aos seus trabalhos”, contou ele.
"Nenhum centavo furado" aos palestinos
Israel anunciou que não vai repassar os impostos coletados em nome da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia para a administração local até pelo menos abril de 2013, detendo mais de 100 milhões de dólares por mês. A medida punitiva, que já foi aplicada neste mês, é uma resposta do governo israelense ao reconhecimento da Palestina como estado observador das Nações Unidas.
De acordo com os oficiais israelenses, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, rompeu com os acordos de paz ao propor o novo status na Assembleia do organismo internacional no dia 31 de novembro, sem o consenso de Israel.
“Israel não está preparado para aceitar medidas unilaterais dos palestinos e qualquer um que pensa que eles vão conseguir concessões desta forma está errado", explicou o ex- chanceler israelense, Avigdor Lieberman, ao anunciar a prorrogação de quatro meses da iniciativa. “Os palestinos devem esquecer o assunto, porque eles não vão receber nenhum centavo furado nestes próximos meses”.
Desestabilização da Autoridade Palestina
A medida desestabilizou a administração da Autoridade Nacional Palestina, que exerce poder limitado na Cisjordânia (território palestino ocupado por Israel). O governo, que já passava por uma profunda crise financeira, não conseguiu pagar seus 150 mil funcionários no mês de novembro. A tendência é de que a situação apenas se normalize quando Israel decidir devolver a renda mensal para as autoridades palestinas.
“Isso coloca cerca de um milhão de palestinos no ciclo da pobreza”, afirmou o premiê Salam Fayyad. “Nós estamos falando de dobrar a taxa de pobreza na Palestina em um período máximo de dois meses se a situação continuar assim”, acrescentou ele citado pela Reuters.
A Autoridade Monetária Palestina anunciou nesta quarta (19/10) que os bancos locais vão oferecer empréstimo de 100 milhões de dólares ao governo caso doadores realizem contribuições.
Novos assentamentos e impossibilidade do Estado palestino
Ainda como retaliação a votação na ONU, o governo israelense decidiu dar continuidade à construção de novos assentamentos na zona E1 em Jerusalém Oriental e de 3 mil casas nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia. Caso o plano seja colocado em prática, as novas colônias devem interromper a continuidade territorial entre o norte e o sul da Cisjordânia, impossibilitando, assim, a criação do Estado palestino.
Mesmo após ter sido duramente criticado por seus principais aliados, os Estados Unidos e a União Europeia, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, afirmou nesta terça-feira (18/12) que irá continuar com os planos de construção de assentamentos em territórios palestinos.
Autoridades israelenses disseram que pretendem levar adiante nesta semana planos para a construção de 6.000 novas moradias para além das fronteiras estabelecidas entre os dois povos estabelecida em 1967. Ainda nesta quarta-feira (19), autoridades israelenses aprovarão a construção de 2.610 unidades nessa área. Na quinta-feira, o Ministério do Interior deverá aprovar outras mil unidades ao sul de Gilo, sudoeste de Jerusalém e também território ocupado.
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