Ivonaldo Alexandre/Arquivo Gazeta do PovoMamógrafo é capaz de detectar tumores não palpáveis, abaixo de 0,5 cm de diâmetro
DIAGNÓSTICOS IMPRECISOS
DIAGNÓSTICOS IMPRECISOS
Médicos divergem sobre prejuízos da mamografia
Ainda não há consenso sobre qual a melhor idade para iniciar o rastreamento nem qual a periodicidade mais adequada
03/12/2012 | 00:12 | VANESSA FOGAÇA PRATEANO
A mamografia, vista como grande aliada da saúde feminina e utilizada há mais de três décadas para detectar o câncer de mama, é, na verdade, um tema polêmico na comunidade médica. Ao mesmo tempo em que o exame se aperfeiçoa e atinge mais mulheres, cresce o temor de que seu uso indiscriminado aumente os casos de falsos positivos, levando a tratamentos e estresse desnecessários.
Também há críticas por causa de registros de falsos negativos – em torno de 10% – em que cânceres agressivos não são detectados pela mamografia, sendo descobertos numa fase avançada.
Preparo
Mulheres devem ser alertadas sobre casos de falso positivo
Em relação aos tratamentos classificados como desnecessários, os médicos afirmam que é impossível afirmar que um câncer supostamente inofensivo não se tornaria fatal poucos anos depois, e que os benefícios devem falar mais alto, assim como o princípio da precaução. Por isso, defendem que as mulheres sejam bem informadas, em uma conversa franca com o médico, para que fiquem conscientes do que está em jogo.
De acordo com pesquisas, o grande número de sobrediagnósticos ocorre porque há cada vez mais mulheres fazendo o exame antes dos 50 anos (a orientação que mais tem adeptos é de que o exame seja feito a partir desta faixa etária), quando o risco de falso positivo é maior. Mulheres mais jovens têm a mama mais densa, o que dificulta a detecção precisa por meio dos raios-X.
“No entanto, é preciso lembrar que os casos de câncer em mulheres com 40 anos têm aumentado, e esses números não são desprezíveis. E quanto antes se iniciar o tratamento, menor a chance de ter de fazer uma mastectomia ou quimioterapia”, explica o mastologista do Hospital Nossa Senhora das Graças e professor da Universidade Positivo Cícero Urban. “E as próprias mulheres, quando alertadas, preferem fazer a biópsia para ter certeza do diagnóstico”. (VFP)
A melhor idade
Ainda há discussão sobre a partir de quando a mulher deve iniciar os exames periódicos de mamografia. No Brasil, a indicação do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é a partir dos 50 anos. Em outros países a recomendação é a partir dos 40, por conta do surgimento de novos casos nesta faixa etária. Para mulheres que têm histórico da doença na família, o ideal é começar antes, por volta dos 35 anos. Depois dos 40 anos, a recomendação da maioria dos médicos é que sejam feitos um exame a cada dois anos e um por ano depois dos 50 anos.
Apesar dessas contrariedades, estudo publicado recentemente pelo Independent UK Panel on Breast Cancer Screening, uma associação de pesquisadores da área, chegou à conclusão de que, apesar dos riscos, o benefício do exame ainda é maior.
O estudo do painel sugeriu que as mulheres sejam mais bem esclarecidas sobre tais riscos, para que possam decidir, em caso de a mamografia não apresentar resultados precisos, se realmente querem se submeter a uma biópsia para ter certeza do diagnóstico, ou a uma cirurgia preventiva.
Vidas salvas
O painel, que analisou registros de mulheres de 50 a 70 anos que fizeram o exame a cada três anos em quatro países, comprovou o que outros já haviam mostrado: a mamografia salva vidas. Foram evitadas 1,3 mil mortes a cada ano. Porém, cerca de 4 mil também receberam ‘sobrediagnóstico’, ou seja, foram tratadas de cânceres que cresceriam muito lentamente e não seriam fatais.
De acordo com Sérgio Hatschbach, oncologista do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto Paranaense de Oncologia, a mamografia ainda é o melhor método para detectar tumores não palpáveis e em estágio precoce, abaixo de 0,5 cm de diâmetro. O autoexame (feito pela mulher), segundo ele, só consegue detectar nódulos a partir de 1,5 cm, e o médico, a partir de 1 cm.
“Só a mamografia pode detectar as microcalcificações, lesões não palpáveis que não podem ser detectadas clinicamente. E cerca de 30% dessas microcalcificações são malignas”, afirma. Quando as lesões já são palpáveis, há grande risco de que tenham se tornado infiltrativas, quando há liberação de células tumorosas para as correntes sanguínea e linfática, daí a importância do diagnóstico precoce. Consequentemente, também evitam-se as cirurgias agressivas e mutilações, e as chances de recidivas também são menores.
No Brasil, 52,6 mil novos casos de de câncer de mama foram diagnosticados em 2012. Cerca de 12 mil pessoas morrem por ano, sendo que a maioria mulheres (mas a doença também atinge homens).
Fonte: GAZETA DO POVO
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