CLARA BARATA
Os estrangeiros que promovem a religião cristã nas universidades chinesas são como uma doença, “uma conspiração política para dividir e ocidentalizar a China”, diz um documento emitido pelo Comité Central do Partido Comunista em Maio de 2011, e agora obtido por uma organização cristã norte-americana.
Com uma linguagem evocativa da Guerra Fria, o documento obtido pela organização China Aid foi divulgado no site do jornal The Washington Post, no original em mandarim e com uma tradução em inglês. Está datado de 15 de Maio de 2011, e tem por título “Sugestões para resistir bem ao uso da religião por indivíduos estrangeiros para se infiltrarem em institutos de ensino superior e para evitar o evangelismo nos campus universitários”.
“Com o rápido desenvolvimento económico e social da China e o crescimento continuado da força nacional, os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos estão a aumentar a intensidade das suas tentativas de contenção da China”, lê-se no documento. “As forças hostis estrangeiras têm dado grande ênfase à utilização da religião para se infiltrarem na China e desencadearem os seus planos conspirativos de ocidentalizar e dividir a China. Consideram os institutos de ensino superior como alvos prioritários se infiltrarem, usando a religião, em particular o cristianismo”, prossegue este comunicado, que teve difusão restrita – apenas 8330 cópias seriam impressas.
As recomendações têm sempre como tema de fundo “aumentar a propaganda e a educação sobre a visão marxista da religião e os princípios do partido”. Mas há ideias concretas “para atacar tanto os sintomas como a causa da doença”.
Por exemplo, controlar de forma mais apertada a concessão de vistos a estrangeiros que estudam nas universidades chinesas – que, no ano passado, tinham atingido o recorde de 290 mil, incluindo 23 mil dos EUA, adianta oWashington Post, citando números de Pequim –, para não deixar entrar quem tenha como principal interesse a evangelização dos chineses. E mesmo as viagens organizadas com motivos turísticos devem ser analisadas com atenção, pois podem servir para plantar uma semente religiosa na mente dos jovens chineses.
Por outro lado, os responsáveis das universidades devem ter mais atenção à vida espiritual e emocional dos seus estudantes – tudo para contrariar a eventual atracção pelos estrangeiros que falam em Deus. “Os conselheiros devem ter conversas longas de coração aberto com os estudantes para conhecer atempadamente o seu estado ideológico, responder a questões que os preocupem, guiar os seus sentimentos”, lê-se no documento do Comité Central do Partido Comunista Chinês.
O sétimo maior país católico
Estes ditames do Comité Central são aplicados normalmente como se fossem leis – mas é raro que se refiram apenas a religião. O Governo chinês é oficialmente ateu, embora o budismo, a religião mais popular na China, tenha agora algum apoio oficial, adianta o Washington Post.
Mas há outras religiões com as quais Pequim continua a ter relações conflituosas. O cristianismo, e nomeadamente o catolicismo, é uma delas, porque não é bem visto que os fiéis se virem para alguém com maior autoridade terrena do que o Partido Comunista – o Papa. O Governo chinês criou uma agência para supervisionar os católicos chineses e nomear os seus próprios bispos, que não têm a confiança do Vaticano e tenta forçar os protestantes a juntarem-se numa denominação de criação governamental.
Ainda assim, o cristianismo tem crescido bastante na China nos últimos anos. Estima-se que existam 68,4 milhões de cristãos na China, o que, embora seja apenas 5,1% da população, segundo dados do estudo A Paisagem Religiosa Global, do Pew Forum on Religion and Public Life divulgado na terça-feira, torna-a um dos maiores países católicos do mundo (é o sétimo país católico, com 3,1% do total dos fiéis).
Muito do crescimento do cristianismo acontece através de congregações que se reúnem em casas particulares. Algumas não têm problemas, outras têm sido forçadas a fechar, os seus membros são seguidos, detidos e enviados para campos de trabalho. Desde 1999 que o Departamento de Estado norte-americano considera a China “um país particularmente preocupante” devido a “graves violações da liberdade religiosa”.
No seu relatório anual sobre liberdade religiosa deste ano, os diplomatas dos EUA tomaram nota da prisão de vários religiosos, raides contra igrejas domiciliárias, confiscações de bíblias e de que continua em vigor a proibição do culto sem ser nos grupos religiosos autorizados pelo Governo.
Fonte: PUBLICO
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