Relato consta da gravação entregue à reportagem e ao motorista do ônibus queimado pela facção
Integrantes do PGC queimaram ônibus e entregaram gravações para motorista repassar à polícia Foto: Guto Kuerten / Agencia RBS
Gabriela Rovai
Denúncias de abusos contra mães e mulheres de presos estão por trás do novo atentado do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), em Santa Catarina. Nesta segunda-feira de manhã, dois homens atearam fogo em um ônibus em São José e entregaram dois DVDs ao motorista.
O material também foi entregue com exclusividade à reportagem que repassou as denúncias ao Ministério da Justiça, levando à abertura de um processo. A facção afirma querer expor à sociedade o que acontece dentro do sistema e garante que os detentos querem seus direitos. Caso contrário, o PGC ameaça agir com força total.
As novas denúncias que já são do conhecimento do Ministério da Justiça trazem uma novidade: a de que familiares de detentos da Penitenciária de São Pedro de Alcântara estão sendo submetidas a exames ginecológicos realizados por agentes femininas e uma enfermeira após as visitas na unidade. As familiares são levadas a uma sala, deitadas em uma maca e tocadas ilegalmente, conforme a denúncia.
— Isso é inaceitável. Este procedimento está sendo realizado em São Pedro de Alcântara. Não podem tocar em uma visita sem um mandado. A visita passa por um procedimento de entrada e agora estão constrangendo com esse procedimento na saída. Responderemos a altura. Nossa família é tudo o que ainda temos — diz o integrante da facção.
Segundo o relato, funcionários da unidade alegam que a medida de revista está sendo tomada para coibir a comunicação do crime organizado.
O mensageiro que preferiu não se identificar tem voz pausada e bem articulada. Ele parece ler a mensagem que não tem erros de português e demonstra bom conhecimento de legislação, principalmente sobre a Lei de Execuções Penais (LEP).
O homem afirma que a mensagem é em nome de toda massa carcerária de SC.
Na gravação também é mencionado a falta de banho de sol, trabalho e de atendimento médico, e a má qualidade da alimentação no sistema prisional de Santa Catarina.
As ondas de ataques no Estado, em novembro e fevereiro, segundo o PGC, teve um único propósito: mobilizar os órgãos competentes a fim de coibir os abusos do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), órgão subordinado a Secretaria de Justiça e Cidadania.
— Por isso estávamos dispostos a sacrificar até mesmo nossas vidas, pois já nao aguentávamos mais. Com isso, os orgãos se mobilizaram, se reuniram e até fizeram várias visitas a várias unidades prisionais do Estado onde constataram todas as irregularidades denunciadas através de veículos de comunicação. No entanto, nada mudou e por esse motivo estamos novamente nos organizando — diz o membro da facção.
Com base nos relatos dos presos, a titular da Ouvidoria do Sistema Penitenciário do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, Valdirene Daufemback, abriu processo para apurar as denúncias.
— E para tomarmos as providências cabíveis, além de servir de insumo para o monitoramento que já está em andamento — observou Valdirene.
Contraponto do diretor do Deap, Leandro Lima:
Revistas ilegais nas familiares_Nunca ouvi falar disso. Não acredito que esteja acontecendo. Entrarei em contato com a direção da unidade para que as denúncias sejam apuradas. Nós nem temos enfermeira o suficiente para atender a demanda normal como é que vai ter para fazer uma coisa dessas? É uma inverdade.
Más condições em São Pedro_Temos trabalhado bastante para melhorar as condições. O pátio (banho de sol), por exemplo, está voltando ao normal, muito melhor do que acontecia antes. Há um clima bem favorável por parte da atual direção. A gente tem colocado o máximo de servidores, mas evidentemente temos problema de falta de pessoal lá. Só vai resolver com concurso público cujo edital está previsto para sair agora em maio.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE
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