LGBTs defendem Estado laico, cobram respeito e repudiam retrocesso
Três comissões da Câmara promovem o 10º Seminário LGBT: “Liberdades, abram as asas sobre nós”. | Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados
Da Agência Câmara de Notícias
Em seminário promovido por três comissões da Câmara, LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) defenderam o Estado laico, cobraram respeito aos direitos humanos e repudiaram propostas chamadas de “retrógradas”. Com o slogan “Liberdades, abram as asas sobre nós”, as comissões de Cultura; de Educação; e de Legislação Participativa, em parceria com a Frente Mista pela Cidadania LGBT e a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos promoveram, nesta terça-feira (14), um amplo debate em torno de religião e diversidade sexual.
Em sua 10ª edição, o seminário lotou um dos plenários da Câmara dos Deputados, em Brasília. Além de parlamentares de variadas crenças, o evento contou com a presença de teólogos e representantes de movimentos sociais, do governo e das entidades da sociedade civil. Eles identificam um cenário de “fundamentalismo e intolerância religiosa”, que impediria a cidadania plena e estaria na base da violência crescente contra os homossexuais.
Denúncias de violências
Coordenador de promoção dos direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Gustavo Bernardes admite que o fato preocupa o governo, que tem investido em ações coordenadas para enfrentá-lo.
“Quando esse fundamentalismo religioso se transforma em violência, homofobia, lesbofobia ou transfobia, isso preocupa o Estado brasileiro”, ressaltou Bernardes.
“Nós temos o nosso Disque Direitos Humanos, o Disque 100, que recebe denúncias. E temos apurado [as denúncias] e feito campanhas para conscientizar as pessoas de que elas devem denunciar essas violências”, acrescentou o representante do governo. “E também estamos construindo agora um sistema nacional LGBT, que vai articular as coordenações e os conselhos estaduais para fazer uma frente nacional de enfrentamento à violência contra a população LGBT.”
Sem dogmas religiosos
Houve defesa unânime de um Estado laico, que não se paute por dogmas religiosos. O teólogo Roberto Daniel, mais conhecido como padre Beto e que acaba de ser excomungado pela diocese católica paulista, disse que a defesa da laicidade deveria partir das próprias religiões.
No entanto, o ex-padre não tem muita esperança de avanços por parte das cúpulas religiosas. “Eu aprendi cidadania na paróquia: cidadania que lutava para o bem comum de todos”, destacou Roberto Daniel. “Infelizmente, temos hoje uma igreja de homens extremamente dogmáticos, que prefere expulsar alguém a dialogar com esse alguém, tentando amadurecer a ideia de como aceitar a diversidade sexual, por exemplo. Infelizmente, a Igreja está retrocedendo, sim. Nós estamos criando – e isso é muito perigoso – gerações jovens com cabeças extremamente inflexíveis, dogmatizadas. É seguir uma fé cega.”
Propostas “retrógradas”
“Seminário LGBT é resposta à intolerância e uma defesa de temas que interessam os homossexuais”, diz Jean Wyllys. | Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados
A Frente Parlamentar Evangélica também foi alvo de críticas devido à atuação incisiva em propostas consideradas “retrógradas” pelos homossexuais. Foram distribuídos panfletos contrários, por exemplo, ao projeto (PDC 234/11) da chamada “cura gay”.
O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) disse que o seminário LGBT é uma “resposta à intolerância” e visa “qualificar a atuação” dos parlamentares no debate de temas de interesse dos homossexuais.
“A cada seminário, a gente espera que a atuação dos deputados que se envolvem nele seja qualificada; e que possam sair, daí, proposições legislativas favoráveis à população LGBT”, afirmou o parlamentar. “A gente não vai avançar na garantia do casamento civil dos homossexuais nem na criminalização da homofobia se a gente não enfrentar a raiz disso, que é o fundamentalismo religioso ou certa interpretação dos dogmas de uma religião.”
A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, Cris Stephani, se disse “envergonhada” quando políticos usam o nome de Deus no Parlamento e confundem “a liberdade de expressão com a liberdade de opressão”.
Fonte: SUL 21
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