A Agência chamou o líder afro-americano de "besta anormal", segundo o 'New York Times'
Luther King, em seu histórico discurso em Washington, em agosto de 1963. /REUTERS
"Demônio". "Besta anormal". "Animal antinatural". Estes são alguns dos termos desqualificadores que o FBI —a Agência Federal de Investigação norte-americana— empregou em 1964 para designar o líder do movimento dos direitos civis, Martin Luther King, em uma carta publicada na terça-feira pelo diário The New York Times.
A missiva é considerada como uma tentativa de chantagem na que William Sullivan, o número dois de J. Edgar Hoover —chefe do FBI na época— se fazia passar por um ativista negro que ameaçava revelar todos os segredos e supostos "escândalos sexuais" de Luther King, segundo o diário nova-iorquino. A carta estava acompanhada por uma fita que continha conversas telefônicas gravadas em sua casa e em hotéis, prova de que Luther King estava mantendo relações extraconjugais. "Ouça, repugnante animal antinatural. Todos os seus atos adúlteros, suas orgias sexuais, foram registrados. Isso é apenas uma pequena amostra", afirma a carta.
Além dos insultos racistas ao histórico líder afro-americano, o número dois do FBI pretendia fazê-lo ver na carta que a única solução para que seus escândalos pessoais não fossem revelados era cometer suicídio, tese defendida também pelos assessores com quem o ativista se reuniu imediatamente depois de receber a carta intimidadora. "Há algo que você tem de fazer, já sabe o que é. Não se pode crer em Deus e agir assim". Quatro anos depois, foi assassinado em Memphis aos 39 anos.
Em 1976, o Senado norte-americano, em uma audiência que analisava o "jogo sujo" da Agência de Investigação, concluiu que o escrito "claramente dá a entender que o suicídio seria um gesto adequado para o Dr. King".
Apesar de o texto ser anônimo e ter sido redigido em uma máquina de escrever, o que dificultava averiguar o autor, o Senado dos Estados Unidos confirmou nesta semana que provinha do FBI.
O texto, que entrou na história dos EUA como a "carta de suicídio" de Martin Luther King, já havia sido publicado, mas com as expressões mais duras censuradas. Agora o NYT publicou o conteúdo integral do escrito graças a Beverly Gage, uma historiadora da Universidade de Yale que descobriu uma cópia não editada no Arquivo Nacional quando pesquisava para escrever um livro sobre o histórico diretor do FBI, Hoover.
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