Em caso de congestionamento na estrada, basta levantar voo. Veículos alados prometem resolver muitos dos problemas da mobilidade urbana. Apesar da burocracia, essa visão futurista não está tão longe de entrar no mercado.
Imagine ter que se deslocar todos os dias 300 quilômetros de casa ao trabalho – a distância Berlim-Hannover ou São Paulo-Volta Redonda – e vice-versa. Com um carro voador, bastariam menos de duas horas para percorrer o trajeto.
Ao todo, 17 projetos ao redor do mundo visam transformar essa ideia futurista em realidade. Entre eles o MyCopter, da União Europeia, envolvendo seis universidades e institutos de pesquisa europeus, incluindo o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), em Braunschweig, a Universidade Técnica de Karlsruhe e o Instituto Max Planck de Biologia Cibernética, em Tübingen. A UE financia o projeto com 3,4 milhões de euros.
Durante quatro anos, os pesquisadores do MyCopter examinaram técnicas e concepções de veículos aéreos para uso diário. Na penúltima semana de novembro, os cientistas apresentaram seus resultados na cidade de Braunschweig. Entre outros equipamentos, desenvolveram um volante que permite pilotar um helicóptero como um carro.
"Os pilotos disseram: 'Realmente, nada mal'", orgulha-se Stefan Levedag, do Centro Aeroespacial Alemão. Até então, o volante foi testado em simulações, e atualmente está sendo instalado num helicóptero de verdade.
Todos os 17 projetos de carro voador têm o mesmo objetivo: construir um veículo que possa ser utilizado tanto na estrada como no ar. Essa é também a meta da AeroMobil, uma empresa de Bratislava, capital da Eslováquia.
Na conferência internacional sobre o futuro Pioneers Festival, realizada em Viena em outubro, a empresa apresentou seu protótipo mais recente, o AeroMobil 3.0. Ele já completou os testes na estrada e no ar com sucesso e está a apenas um passo do modelo final, apto a entrar no mercado.
O funcionário da AeroMobil Stefan Vadocz lembra que há quase cem anos se tenta construir carros voadores, em todo o mundo. "Mas o nosso é um pouco diferente: desde o início, ele foi projetado como um carro e avião comum" Sua característica especial é a possibilidade de alternar entre os dois objetos.
Falta apenas a licença europeia para o AeroMobil entrar no mercado
Carros esportivos com asas
O AeroMobil 3.0 parece um carro esportivo de luxo. Ele possui asas e rodas fabricados com materiais compostos e tudo o que é de se esperar em um carro voador: eletrônica aeronáutica, piloto automático e paraquedas. Ele utiliza gasolina comum, e, como um avião, é capaz de decolar e pousar, sobre uma superfície firme ou até mesmo sobre uma faixa de grama.
"Combinar um carro e um avião não é uma tarefa fácil", salienta Vadocz. "Um carro deve ser pesado e relativamente bem mais largo do que um avião." Um avião, no entanto, precisa ser o mais leve possível. "O fato de ser possível alternar entre os dois permite ter tanto um carro quanto um avião de pleno direito", assegura.
Fundador da AeroMobil, Thomas Klein, trabalha há 25 anos em carros voadores
Depois de alguns testes bem sucedidos e da apresentação no Pioneers Festival, os construtores do AutoMobil 3.0 precisam acima de tudo resolver a papelada burocrática. Pois o carro voador precisa de licenças europeias para a estrada e para o ar.
Jan Lesinsky, professor de Técnica de Transportes e Automóveis da Universidade Técnica Eslovaca, em Bratislava, se entusiasma com a nova tecnologia por trás dos carros voadores. Mas ele não espera que o AeroMobil receba as autorizações necessárias, e muito menos que carros voadores se tornem em breve uma forma de transporte de massa.
"A ideia de simplesmente decolar, quando se esbarra num congestionamento, soa fantástica. Mas o que acontece quando carros voadores, digamos, somam 10% do tráfego? Quando os carros estiverem se movendo entre 20 e 100 metros de altura no transporte aéreo, serão necessárias regras de segurança muito claras", alerta.
Os proprietários também precisam ser ao mesmo tempo motoristas e pilotos. E o motorista precisaria se comunicar de forma organizada com uma espécie de torre de comando, para decidir quem segue por onde.
"Definitivamente não sou pessimista quando se trata de projetos como este. Mas acredito que é pouco provável que num futuro próximo vamos ver carros voando em qualquer lugar", afirma Lesinsky. Stefan Levedag, do DLR, segue a mesma linha: "Com certeza não iremos ver o carro voador por um bom tempo."
AeroMobil 3.0 deverá custar algumas centenas de milhares de euros
Só para ricos
De qualquer maneira, segundo Lesinsky, a maioria das pessoas não teria como pagar um carro voador. Vadocz, da AeroMobil, também admite que seu veículo é um produto de luxo. "O preço deve ficar entre o de um carro esportivo e o de um pequeno avião esportivo, ou seja, algumas centenas de milhares de euros."
O funcionário acrescenta que já há interessados, embora atualmente a AeroMobil não esteja aceitando encomendas. "Mas estamos bastante felizes que o mundo esteja interessado em comprar o nosso veículo. Vamos cuidar rapidamente de todas as licenças e regularizações", o que deve ser questão de alguns anos.
Caso a AeroMobil realmente adquira as autorizações necessárias, os veículos alados poderão estar voando por aí mais rápido do que muitos imaginam. No entanto, para a maioria o que sobrará é o gostinho de observar o voo dos carros alados a partir do solo.
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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