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A Europa acordou há poucos anos para um problema que não será fácil resolver: o grande número de muçulmanos que vive hoje nos países europeus mais desenvolvidos, entre eles a França, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos e a forma como estes aceitam a cultura local e se integram (ou não) nos países de acolhimento.
Na Alemanha são 4 milhões, na França, 5 milhões, no Reino Unido, cerca de 3 milhões. O crescimento demográfico da população muçulmana é muito superior ao da restante população. A grande percentagem de habitantes muçulmanos em algumas cidades francesas como Lille, Paris, Lyon ou Marselha tem gerado medo e desconfiança, especialmente após a decapitação de vários ocidentais por jihadistas do Estado Islâmico e depois de ser conhecido que muitos jovens europeus convertidos ao Islã estão combatendo nas fileiras do EI.
A polêmica sobre o Islã e o fundamentalismo islâmico, sobre o que são os “valores europeus”, está na mídia, nas campanhas eleitorais, nas universidades. Na França, as organizações de muçulmanos acusam de islamofobia quem denuncia o fundamentalismo. Depois das decapitações do turista francês Gourdel Hervé, dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff e do funcionário humanitário britânico David Haines, várias vozes pediram aos muçulmanos que "saíssem às ruas para denunciar os bárbaros".
A classe média muçulmana em França (e no Reino Unido também, com a campanhaNotInMyName) achou necessário demarcar-se de tais barbaridades.
Mohammed Arkoun, professor de História do Pensamento Islâmico na Sorbonne, escreveu: "Se quisermos sair dessas repetidas tragédias e evitar a corrupção do nosso Alcorão por loucos, precisamos remover as cercas que paralisam o pensamento, reconstruir o lugar da religião no mundo moderno e, acima de tudo, proclamar um humanismo religioso. Isso significa aceitar os outros e suas diferenças ".
Mas essa demarcação não parece ter sido suficiente.
Num artigo de Ivan Rioufol publicado pelo Le Figaro sob o título "A barbárie do Islã exige autocrítica", o editor pergunta: “Será a condenação das atrocidades do Estado Islâmico pelos muçulmanos franceses suficiente?”
Fateh Komouche, partidário de um Islã ortodoxo, contrapõe: "Condeno totalmente estes terroristas, mas considero insuportável que os muçulmanos sejam intimados a reagir".
O antigo ministro do Interior francês Manuel Valls chegou a falar do “inimigo interno”, referindo-se aos jovens jihadistas franceses que responderam ao apelo da guerra santa e são incentivados a matar seus compatriotas.
Estará a França sendo islamizada, como afirma a Frente Nacional (FN)? Pelo menos há quem o deseje, como o ativista Muhammad Marwan, que afirmou recentemente: "Quem tem o direito de dizer que a França, em trinta ou quarenta anos não será um país muçulmano? Ninguém neste país tem o direito de nos tirar isso. Ninguém tem o direito de nos negar essa esperança. Negar-nos o direito de esperar uma verdadeira sociedade baseada no Islã. Ninguém tem o direito neste país de definir por nós o que é a identidade francesa".
Do outro lado, estão os que afirmam: “A França é um país cristão há mais de 1.500 anos. E deve continuar assim. Caso contrário, não é a França.” (FN)
Há quem sugira a adaptação da França aos seus imigrantes e não o contrário. Há quem concorde que os símbolos católicos do Natal sejam retirados das escolas, que as piscinas públicas tenham espaços separados para muçulmanos, que não seja servida carne de porco nas escolas com alunos muçulmanos, que estes possam ter horas livres para observar o Ramadã e espaços especiais nas universidades para fazer as cinco orações diárias.
Em Londres, o pregador islamita Abu Izzadeen, diz: "Sejamos claros, como comunidade, nós somos uma parte única da sociedade. Não vamos perder a nossa identidade e integrarmo-nos”. E o apelo não podia ser mais claro: "Shariah para o Reino Unido!” Na verdade, na Grã-Bretanha já há zonas que são praticamente islâmicas, onde a maioria vive de acordo com a sua própria cultura, onde há milícias que vigiam o cumprimento da lei islâmica nos costumes, onde a polícia e os bombeiros têm dificuldade em entrar.
Em Portugal
No entanto, ao contrário dos países mais desenvolvidos com grande percentagem de imigrantes muçulmanos, os pequenos países do sul da Europa, como Portugal, felizmente desconhecem tais polêmicas e problemas.
Portugal conta com apenas cerca de 65 mil fiéis muçulmanos. A prática organizada desta religião no país é relativamente recente: os primeiros seguidores do Islã chegaram ao país no fim dos anos 70 do século XX, após a descolonização, maioritariamente vindos de Moçambique e da Guiné.
Nos últimos anos, em parte devido aos muitos especialistas portugueses que trabalham em países árabes como o Dubai e o Qatar, o número de fiéis muçulmanos e de conversões tem aumentado. Só que muitos fazem segredo da sua escolha, por medo de represálias no emprego ou na família.
Paralelamente, há muitos imigrantes muçulmanos que, devido à crise, estão abandonando Portugal e indo para outros países europeus. Segundo o presidente da Comunidade Islâmica, Abdool Vakil, no país não foram registrados casos de radicalismo. Os poucos jovens portugueses que foram notícia por se juntarem aos fundamentalistas na Síria não viviam em Portugal, mas sim em outros países europeus, eram filhos de emigrantes portugueses.
Portugal parece pois passar ao lado quer da polêmica da islamização, quer do radicalismo. O problema não preocupa nem a população, nem a mídia, nem as elites. A integração de todos os imigrantes é vista como o caminho mais certo para manter a coesão social. Há casos em que um país mais periférico e menos rico ganha. Este parece ser um deles.
Fonte: https://www.blogger.com
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