Adolf Hitler, pelo menos, era direto, não sutil, como o Coiso, que procura inviabilizar o ensino público, atinge universidades com redução de verbas, manda extinguir o ensino de Filosofia e Sociologia, o que os golpistas de 1964, bem me lembro, fizeram, em relação à última matéria, já no tempo em que eu era secundarista, no curriculum das Escolas Técnicas.
A intenção é pra lá de óbvia: evitar que o povo se instrua, aprenda a votar e defenestre picareta como ele e seus filhos, que são "contra o Estado", mas vivem pendurados nas tetas do mesmo.
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A praça da ignorância
Em Berlim, Bebelplatz foi palco de um dos episódios
mais emblemáticos do nazismo: a queima dos livros. Fogueira pública
marcou auge da perseguição a intelectuais, que começara com denúncias
contra professores.
De praça, quase não tem nada: não há banco para descanso, árvore ou
gramado. Parece mais um calçadão, que liga a avenida Unter den Linden à
rua Behrenstrasse. No meio da Bebelplatz, no entanto, algo chama a
atenção dos mais atentos: uma placa de vidro cobrindo um buraco no chão.
Dentro dele, prateleiras brancas vazias.
O monumento lembra um
dos episódios mais emblemáticos do período nazista. Em 10 de maio de
1933, livros de intelectuais considerados críticos ou que não se
encaixavam no padrão pregado pelo regime de extrema direita comandado por Adolf Hitler foram queimados em praças públicas em várias cidades da Alemanha.
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Em
Berlim, o palco deste ato de intolerância foi a Bebelplatz, que na
época era chamada de Praça da Ópera. Em frente à praça estava o prédio
da Universidade Humboldt de Berlim. Muitos universitários participaram
deste ato de barbárie. Os livros queimados pertenciam principalmente às
bibliotecas públicas e universitárias.
Entre
os autores dos livros queimados estavam Karl Marx, Friedrich Engels,
Sigmund Freud, Stefan Zweig, Thomas Mann, Bertold Brecht, Erich Kästner,
e Ricarda Huch. A maior parte da "lista negra" dos extremistas de
direita era composta por obras de Ciências Humanas. Deveriam ser
banidos, sobretudo, livros de filosofia, sociologia, história e ciências
políticas que colocassem em xeque a ideologia do regime ou abrissem
espaço para um debate.
A queima dos livros marcou o auge da
perseguição aos intelectuais, que havia começado lentamente e vinha
sendo praticamente ignorada pela opinião pública por muito tempo. A
propaganda era alma do negócio para atrair seguidores.
Primeiro
foi publicado um manifesto defendendo a cultura alemã e pregando acabar
com supostas mentiras. Logo em seguida veio a perseguição a professores.
Estudantes deveriam denunciar professores judeus, comunistas e aqueles
que fizessem críticas ao regime ou a Hitler.
Depois veio a
decisão de banir livros de intelectuais que "alienavam a cultura alemã".
Obras foram saqueadas de bibliotecas e, em 10 de maio de 1933, jogadas
em fogueira pública. Em Berlim, o ato símbolo da intolerância contou com
a presença de Joseph Goebbels – o ministro da Propaganda do regime
nazista.
Hoje na Bebelplatz, próximo ao monumento que lembra
deste episódio histórico, há uma placa com a frase do poeta alemão
Heinrich Heine (1797-1856): "Onde se queimam livros, acabam-se queimando
pessoas." A frase, escrita décadas antes, soa como uma premonição dos
horrores que estavam por vir nos anos seguintes...
A Bebelplatz
ganhou esse nome após a Segunda Guerra Mundial, mas poderia muito bem
ser chamada de praça da ignorância. Afinal, marca o episódio que visava
combater o conhecimento, a capacidade de reflexão proporcionada pela
leitura e silenciar qualquer debate crítico. Ao acusar intelectuais, o
regime nazista buscava a hegemonia de seu viés ideológico de extrema
direita e promovia a ignorância como meio de manipulação da população.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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