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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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terça-feira, 7 de maio de 2019

Remorsos de um velho cavaleiro


Sem o mínimo de consciência dos teus limites, sentimentos e desejos, manipulando tua vida, apartaram-te dos teus, isolando-te da tropa, te castraram sem anestesia, te palanquearam, te esfolaram, te "quebraram", te "domaram", sem atentarem para os teus olhos e os teus suspiros, que extravasavam tanto sofrimento.

O bocal de couro cru no queixo. O relho na garupa, as esporas nos flancos. A sela que machucou teu lombo, a cincha que teu peito esfolou e fez chagas, não foram capazes de despertar um mínimo de piedade nos teus algozes. 

Os arrancos, correrias, saltos e "esbarros", que teus nervos distenderam e teu espírito apavoraram, foram tidos como atos de heroísmo de quem os praticou.

O freio,  impiedoso metal que tua boca lacerou, a barbela que te cortou o queixo, nas sofrenadas impiedosas e a gamara que te manteve de cabeça baixa, não foram considerados instrumentos de suplício, porque, afinal, és apenas um "animal irracional", um bicho, sem dignidade, sem qualquer direito a rebeldia, devendo manter-se manso, obediente, disposto a qualquer sacrifício, por mais cruel que se afigure.

A fome, a sede, que desumanamente te infligiram os insensíveis cavaleiros, os quais, por vaidade, se exibiram, a mostrar-se, falsos heróis,  foram consideradas coisa de nenhuma relevância. 

Como se fosses de aço, sem vontade e direitos, malditos que afirmam-te "de estimação", te exploraram, exauriram tuas energias, abusaram da tua resignação. 

Intolerantes com qualquer pulo de rebeldia, castigaram-te severamente, chicoteando-te até na cara e, vasando-te o olho, ao mesmo tempo em que te cortaram o couro, usando rosetas de esporas, acicates abomináveis.

Exibiram-te como um troféu depois de terem te forçado a subir barrancos, descer ladeiras íngremes, saltar valas, superar atoleiros, sofrer espetadas de espinhos e de chifres bovinos, pisar sobre pedras e pontas de paus, isto tudo com uma ferradura mal colocada (furado o "mole") a magoar-te o casco. 

A passeio, amarraram-te a uma árvore, encilhado, suado, esgotado, arrasado, reunindo forças para padecer novas sessões de tortura infindável.

Nem para urinar e defecar te pararam. Tiveste que fazer tudo andando, debulhando-te em suor, por horas seguidas, sem direito a uma gota de água. 

Puseram-te a dormir sobre bosta e mijo acumulados, numa cocheira infecta, que acumula dejetos de dias, meses, anos, não removidos por completo, insalubre ambiente que a maldade e a preguiça não permitem modificar, para dar-te o mínimo do merecido descanso e conforto.

Oh, donos ingratos, que não reconhecem os incontáveis sacrifícios da tua espécie, em prol do desenvolvimento da "humanidade". 

E, por fim, velho, exaurido, sem mais força alguma para viver, sofrendo dores atrozes, boletos inchados, incontáveis sinóvias, dentes jogados para a frente, o pelo já sem brilho e esbranquiçado, com dificuldades para comer, antes que começasses a emagrecer,  mandaram-te para o matadouro, esquecidos dos teus serviços e sacrifícios, para que virasses sabão.

Suprema covardia e ingratidão.

E, o cúmulo: a ti chamam "bruto", "cavalo", quando querem externar repulsa ao outro, que têm por incivilizado.

5 comentários:

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Como não tenho o teu e-mail me valho desse espaço para perguntar quem é o autor de tão brilhante texto, brilhante e verdadeiro?

I.A.S. disse...

Se quiser reproduzir no seu blog, fique à vontade.

I.A.S. disse...

Autoria minha.

Unknown disse...

Texto fantástico meu amigo!!!

I.A.S. disse...

Grato. Vindo de você, dado a manifestações sinceras, fico envaidecido.