MONTEIRO LOBATO - A onda verde - Editora Brasiliense Ltda/SP/1957, p. 62:
Vossa vida, animais, é perfeita de ritmo e de beleza. Se nela há perturbações; se vos estraçoam as aves a tiros; se vos deixam os ninhos órfãos para que morram de fome os implumes inocentes; se vos pescam nas águas com armadilhas traiçoeiras; se todas as vossas passagens andam tomadas de arapucas, de mundéus, de ratoeiras; se vos roubam os ovos no ninho ou o mel nas colmeias; se vos aprisionam em gaiolas os cantores e nas jaulas os que sabem defender-se; se vos jungem às carroças, a carros pesadíssimos, à canga dos arados; se vos furam o focinho para meter argolas dolorosas; se vos enfreiam a boca com ferros cruéis; se vos caçam no mar a arpão de aço e na terra a balas explosivas; se penduram nos açougues a carne dos vossos cadáveres; se vos invadem todos os domínios, e vos incendeiam os campos, e vos inundam as matas, e vos secam as águas e vos drenam os pântanos - é ele que o faz. Ele, o macaco glabro, o rei por maquiavelice da má inteligência. Ele, o cultor consciente da arte da dor.
Em toda parte está o Homo como o próprio mal encarnado, matando, esfolando, torturando, saqueando, desnaturando, perturbando a harmonia das coisas.
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ARTHUR SCHOPENHAUER - Da morte e sua relação com a indestrutilibidade do nosso ser-em-si - Edit. Martin Claret/2002, p. 25:
Em cada animal, junto com o cuidado inato com a conservação está também o medo inato da aniquilação absoluta: é este, portanto, e não o simples desejo de evitar a dor, o que se manifesta na preocupação inquieta do animal, o qual procura garantir a si próprio, e mais ainda à sua prole, contra todo inimigo capaz de lhes causar mal.
Por que o animal foge, treme e procura se esconder?
Porque ele é pura vontade de vida, mas, como tal, destinado à morte, quer ganhar tempo.
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- ARTHUR SCHOPENHAUER - Da morte e sua relação com a indestrutibilidade do nosso ser-em-si - Martin Claret Editor/SP/2002, p. 119:
Não consigo ver um cachorro preso sem experimentar imensa compaixão por ele e profunda indignação contra seu dono, e lembro-me com satisfação do caso relatado no Times, há alguns anos, em que um lord, dono de um imenso cão, que mantinha sempre acorrentado, certo dia, passeando pelo jardim, tentou acariciá-lo, e como resposta o cão arrancou-lhe o braço - e com toda razão! Com isso certamente queria dizer: “Não és meu dono, mas meu demônio, fazendo um inferno a minha curta existência”. que todos que deixam cães acorrentados sofram o mesmo!
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