Bohórquez denuncia guerra dos EUA e da mídia contra Venezuela
Calúnias, guerra de informação, falsas promessas, influência dos EUA e triunfalismo. Estes são os elementos que, na opinião da ex-vice-ministra de Cultura e assessora da presidência Carmem Bohórquez, podem ter impactado a votação de Nicolás Maduro que, neste domingo (14), venceu o direitista Henrique Capriles por uma diferença de 1,65% dos votos. Carmen deixa claro, no entanto, que a pequena margem não ofusca o brilho da conquista: “foi uma grande vitória”.
Por Vanessa Silva, de Caracas
Carmem Bohórquez integra da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade
Para a integrante da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade, a Revolução Bolivariana não enfrentou apenas os partidos de direita, mas também o império norte-americano. Ela destaca o papel fundamental dos meios de comunicação neste processo: “usaram desde as redes sociais, até a imprensa escrita, incluindo programas de TV e rádio, para romper o vínculo afetivo de Maduro com Hugo Chávez” e responsabilizá-lo pelos erros da Revolução que ele não tinha como assumir, porque estava apenas há três meses na presidência.
Acompanhe a entrevista:
Portal Vermelho: Como você vê as eleições deste domingo (14) e a continuidade da revolução bolivariana com o resultado apertado de menos de 2%?
Carmen Bohórquez: Apesar de apertada, foi realmente uma grande vitória. Nós estamos enfrentando não apenas a coalizão da direita, que tinha como candidato Henrique Capriles Radonski. Estávamos enfrentando, e temos consciência muito clara disso, o império norte-americano, porque a direita venezuelana não atua isoladamente. Nestas eleições, houve toda uma estratégia desenhada dentro do Departamento de Estado dos EUA do qual participaram um conjunto de venezuelanos que estão ligados aos interesses imperialistas. Eles receberam financiamento, treinamento e “assessoria” sobre o tipo de campanha que deveriam fazer.
Durantes os 30 dias que durou a campanha, a direita empreendeu uma guerra suja contra o candidato Nicolás Maduro por meio de todas as frentes possíveis. Desde as redes sociais, até a imprensa escrita, incluindo programas de TV e rádio, para romper o vínculo afetivo de Maduro com Chávez. Em segundo lugar, trataram de concentrar em Maduro responsabilidades sobre alguns erros que certamente a Revolução Bolivariana cometeu nos últimos anos. Alguns deles geraram transtornos para a população, mas não podiam ser personificados em Maduro, que tinha apenas três meses exercendo a máxima liderança na Venezuela. Isso foi muito calculado. É preciso reconhecer que a campanha da direita esteve bem assessorada no sentido de que tinha muito bem definido qual era o objetivo e, para isso, empregou todas as armas que estavam ao seu alcance, inclusive calúnias, mentiras, distorções de informações, etc.
Por isso digo que Maduro conseguiu realmente uma proeza porque, mesmo sendo o alvo desta campanha toda, conseguiu vencer. E isso se deu em condições bastante adversas, porque Capriles já vinha há mais de dois anos se apresentando como candidato e Maduro teve apenas 10 dias de campanha. Então, creio que apesar de ser um resultado próximo, conseguimos uma grande vitória.
Com uma análise rápida, podemos perceber que o chavismo perdeu votos. Considera que esta guerra suja da imprensa influenciou nestes votos?
Ainda falta avaliar melhor, observar todos os dados, fazer um estudo aprofundado da votação nos diferentes estados, etc., mas está claro que nestas eleições uma porcentagem do chavismo votou no candidato da direita. E estas pessoas se deixaram levar por toda essa guerra suja porque faltou a eles formação política ou porque pensaram só no imediatismo. A questão é que hoje a Venezuela tem dois problemas graves e que afetam toda a população:
Um é a insegurança, o outro, a crise elétrica e podemos acrescentar também o desabastecimento de alimentos. Este, corresponde por outra das armas poderosas da direta, porque os alimentos são produzidos por um monopólio, um grupo pequeno de empresários que estão apoiando Capriles e está claro que eles mesmos são os culpados da especulação dos preços dos alimentos. Na medida em que se agravava o estado de saúde do presidente Chávez, se agravava também o desabastecimento, já preparando o terreno para o que viria.
[Com a morte de Chávez], como seriam realizadas eleições quase imediatas, tinham que forjar este descontentamento do povo, sobretudo dos setores populares que são a base principal de sustentação do chavismo. E o desabastecimento afeta muito profundamente estas pessoas. Apesar dos esforços do governo, não conseguimos minimizar o efeito desses atos. Então, isso gerou descontentamento em certos setores da população e, como Capriles sabia que iria perder e poderia então formular e prometer qualquer coisa, desenvolveu um discurso com o qual quase que por obra de mágica, no dia seguinte ao das eleições, se ganhasse, esses problemas desapareceriam quase que imediatamente. E estas pessoas se deixaram encantar por este discurso e votaram em Capriles.
Quanto isso afeta a partir de agora a revolução?
Estou certa de que vamos recuperar a força que tradicionalmente tem a revolução e conseguiremos retomar outra vez o curso da situação, melhorar as coisas que precisam ser melhoradas e trabalhar muito com os setores populares para que voltem a ter confiança de que somente com a revolução, somente com o socialismo resolverão os problemas que afetam a população.
Em 2002, Chávez enfrentou o locaute petroleiro, que foi uma tentativa de golpe. É possível fazer uma comparação com o que a direita tenta agora com o desabastecimento e, somado a isso, há as sabotagens do setor de energia, como Maduro vem denunciando há dias. Considera que a direita pode intensificar estas ações para gerar um clima de insegurança, desestabilização para que o povo saia às ruas contra Maduro?
Este é um plano que estão tentando aplicar faz tempo. Eles vêm desde sempre querendo criar situações de conflito, desestabilização, para gerar uma situação como a do golpe de Estado e o locaute petroleiro. Este é o plano permanente deles, gerado do Departamento de Estado dos EUA. Esta é a técnica que eles têm para desestabilizar os países que não se submetem. A ideia é provocar situações de desestabilização, gerar caos e com isso legitimar – e não é injustificado pensar – uma intervenção direta dos Estados Unidos na Venezuela.
Eles sabem que acabando com a revolução bolivariana terão nas mãos um instrumento para acabar com as demais revoluções na América Latina. A Venezuela é o foco principal e centro de força de todos os ataques. Eu penso que a morte do presidente Chávez foi provocada para causar com ela a morte da revolução como um todo, mas estamos decididos a enfrentar o que tivermos que enfrentar.
Maduro denunciou a presença de paramilitares colombianos que inclusive usavam fardas venezuelanas para criar uma situação de conflito e para que dissessem que havia uma guerra entre venezuelanos. A Unasul se pronunciou e reconheceu que Maduro é o presidente, Argentina, Brasil, Cuba, Equador, Bolívia, Uruguai China, Rússia e França reconheceram a vitória de Maduro. Como vê a importância do apoio internacional ao país?
À oposição venezuelana não importa a questão internacional porque sabem que tem o apoio do império planetário. Aos EUA não importa a opinião internacional quando resolve atacar um país. Em qualquer país do mundo, ainda que o resultado seja estreito, ganha quem tem mais voto, ainda que seja somente um voto.
Além destas questões de tentativas de fraude, neste domingo (14), não parecia haver tanto entusiasmo entre as pessoas...
Mas você viu a concentração em apoio a Maduro no encerramento da campanha? Ali você viu entusiasmo ou não? Havia muito entusiasmo. Pode ter havido alguma desmobilização por causa do triunfalismo. As pesquisas davam vitória a Maduro por uma margem tão ampla que muitas pessoas não foram votar porque pensaram que ganharíamos sem problemas: então ‘não precisam do meu voto’. É preciso analisar muitos elementos. Neste caso, a única coisa clara é que Maduro obteve uma maioria de 235 mil votos. O CNE provou já por muitas vezes diante da comunidade nacional e internacional que este sistema eleitoral é impecável. Então, o que diz a direita não tem sentido nenhum porque não há possibilidade de cometer fraude. Há observadores internacionais que dizem que é o melhor sistema do mundo. Não se pode mudar a vontade do eleitorado. Maduro ganhou e é assim. Esta é a verdade.
Capriles usou de plágio com símbolos, termos do chavismo. Até a maneira de vestir dos chavistas. Até começou a falar bem de Chávez, quando a vida inteira falou mal dele, para gerar confusão entre o eleitorado mal formado politicamente. Eles quiseram mostrar que era a mesma coisa votar em Maduro ou em Capriles. Porque Capriles também levaria adiante os programas sociais da revolução, quando na verdade a ideologia da direita é contra a revolução e contra a vitória destes programas sociais que só podem se desenvolver com o socialismo.
A oposição diz que não vai reconhecer o resultado. Fala-se de uma situação de instabilidade e que a qualquer momento pode haver enfrentamentos. Pensa que isso realmente pode acontecer?
Isso é possível. É um risco e uma irresponsabilidade do candidato de direita não reconhecer o resultado e mandar as pessoas às ruas. Estão fazendo isso desde domingo (14). Na hora de fechamento das mesas, foram registradas várias tentativas por parte da oposição de gerar transtornos. Mandaram seus partidários às seções e houveram enfrentamentos com as pessoas que estavam custodiando os votos.
Então é possível que com esta atitude irresponsável que estão tendo, alguns de seus seguidores possam tentar criar discórdia, podendo inclusive, gerar uma tragédia. Isso será responsabilidade de Capriles e sua gente. Esperamos que não ocorra. Espero que usem a racionalidade, porque quando se disputa eleições, pode-se ganhar e também perder.
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