Miriam e Milton Seligman enviaram:
Em entrevista para a revista Quem Acontece dessa semana, Edição 382 - 03/01/08 , a cantora Nana Caymmi, respondendo sobre o vício de seu filho, João Gilberto de 41 anos, saiu-se com essa bobagem. Não dá para acreditar que um dos grandes nomes da música popular brasileira tenha um pensamento ridículo e retrógrado como o mostrado abaixo, é triste…
Saulo Tavares
QUEM: Como o João consegue dinheiro para comprar maconha?
NC: Ele pede na rua. Vai ao dentista, diz que perdeu o dinheiro da passagem, pede no ponto de ônibus. É um inferno. Você não faz idéia de como é o meu drama. Fico me perguntando por que preciso sofrer tanto com isso. Não sou judia, não crucifiquei Jesus! Não é possível que tenha solução para todo mundo, e eu não tenha esperança. Já não me divirto como antes, vivo em função dele. Estou à espera de um milagre.
Abaixo a resposta que Diane Kuperman enviou à revista Quem Acontece, solicitando a sua publicação. Se desejar, pode repassá-la a quem julgar procedente. Recomendo também que todos se manifestem, não com ataques, nem xingamentos, mas mostrando o quanto o desabafo de Nana pode ser ofensivo.
B’ Shalom,
Estimada Nana,
Antes de mais nada gostaria de felicitá-la pela coragem em se expor com tamanha honestidade, de verbalizar suas críticas com total franqueza, de abrir seu coração.
Como mãe e mulher só posso me solidarizar com seu sofrimento e lhe desejar coragem nesta sua luta inglória. Lembro do Mito de Sísifo condenado pela eternidade a rolar para o cume da montanha uma pedra enorme que, ao alcançar o topo, degringola morro abaixo, devendo novamente e sempre ser empurrada de volta para cima. Este é seu calvário, sua cruz, que ninguém pode aliviar. Por falar em calvário e em cruz, devo deixar claro que sou judia praticante, membro dos diálogos Católico-Judaico, Cristão-Judaico, Abrahâmico, Inter-religioso e Interétnico. E, nesse trabalho desenvolvido nos últimos 30 anos, a luta contra preconceito e ignorância tem sido minha bandeira. Dou aulas e seminários a todas as camadas sociais, em todos os níveis educacionais. E, entre as informações que repito à exaustão por serem desconhecidas da maior parte das pessoas, estão: a condição judaica de Jesus que viveu, pregou e morreu como um bom judeu; e o reconhecimento, pelo Vaticano, de que os judeus não foram responsáveis pela morte de Jesus. As duas afirmações constam de Declaração Nostra Aetate, do Concílio Vaticano II, encerrado em junho de 1965. Nos 42 anos subseqüentes, a cúpula da Igreja vem se enfronhado na tentativa de restabelecer a verdade e retirar da cabeça dos Judeus os rótulos e preconceitos construídos ao longo de dois mil anos de catequese cristã. Aos reiterados pedidos de desculpas, soma-se um diálogo profícuo que visa estabelecer pontes através de uma genuína educação para a Paz.
Entendo seu sofrimento, querida Nana, mas, por maior que seja seu desespero, não posso aceitar sou afirmação "não sou judia, não crucifiquei Jesus"! Isto significaria que, nós, judeus (que NÃO CRUCIFICAMOS JESUS), merecemos todos os sofrimentos impingidos ao longo da história! Que gerações após gerações devem ser castigadas por um crime não cometido? Não, Nana, a admiração que tenho por você e por seu pai, que tive o privilégio de conhecer em numerosas férias passadas em Rio das Ostras, me garantem um coração generoso e aberto aos outros. Uma alma que aplica integralmente os princípios básicos da solidariedade judeo-cristã, MISERICÓRDIA e COMPAIXÃO!
Quando quiser bater um papo, para desabafar ou aprender um pouco mais sobre as relações entre nossas fés, estou às suas ordens. Desejo-lhe que o ano de 2008 lhe seja mais leve, repleto de paz e realizações de sucesso=
Diane Kuperman
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