Para Ed Motta, "a ruindade musical é mundial"; ouça nova faixa
Cantor fala sobre o novo disco e diz que álbum deve ser ouvido "dentro de um carro conversível passando por coqueiros pelo Rio, Miami e Havaí"
Susan Souza , iG São Paulo | 24/04/2013 06:00:01
Ed Motta é um ávido colecionador de música, com quase 30 mil discos em seu acervo.
À própria discografia, ele acrescenta agora mais um disco, "AOR", o 10º da carreira, que foi lançado nesta semana. Crítico observador do cenário musical, o cantor afirma em entrevista ao iG que "a música passa por um hiato criativo" e que a "ruindade musical não é exclusividade do Brasil, mas mundial".
Ed Motta lança "AOR". Foto: Divulgação
Sobrinho de Tim Maia, por quem ele diz não ter sido influenciado, Ed foca "AOR" em "músicas adulto-contemporâneas", relacionadas ao termo "Adult Oriented Rock" ("Rock Orientado a Adultos" em tradução livre), cunhado pelas rádios norte-americanas dos anos 1970. "É um álbum para ser ouvido dentro de um carro conversível passando por muitos coqueiros pelo Rio de Janeiro, Los Angeles, Miami, Havaí", descreve.
O artista de 41 anos entrou na mira dos internautas quando usou o Facebook, em 2011, para publicar controversas frases sobre a beleza do povo brasileiro. Na época, aspas como "mulher feia tem que cantar igual Sarah Vaughan, se não eu não tenho tempo hahaha!" incomodaram várias pessoas.
Ouça abaixo a música "S.O.S. Amor" e leia a entrevista de Ed Motta ao iG .
iG: O nome do novo disco, "AOR", é um termo que classifica música para adultos. Isso indicaria que este trabalho não é para jovens?
Ed Motta: Acho que não. Na verdade, esse é um tipo de música com uma nomenclatura que não é tão conhecida, mas que no Brasil toca em rádio o tempo inteiro, nas chamadas "rádios adultas contemporâneas", as "AOR". Mas isso não impede que os jovens ouçam. Existe um movimento muito forte de AOR na Escandinávia e são todos muito jovens. Eu tenho um grupo no Facebook de "AOR" há uns quatro anos e há muitos jovens ali que não são europeus, mas brasileiros. Fiquei surpreso de ver os jovens inteirados nisso.
iG: Você já pensou em fazer músicas baseadas nas reações negativas dos internautas aos seus posts no Facebook?
Ed Motta: Não. Na verdade, isso fica na vida da gente, são coisas que a gente aprende com os erros. A minha música é estritamente musical. A mensagem dela é essa, meu discurso é de música o tempo inteiro. É uma ode ao abstracionismo, e no momento eu gostaria que minha música não fosse um retrato da realidade, mas sim do abstrato, não teria resposta com nada de pragmático.
Reprodução
A capa do disco 'AOR', de Ed Motta
iG: O uso que você faz da internet está mais reservado?
Ed Motta: Eu uso muito a internet, sou viciado nela e desde que o computador entrou em casa foi uma revolução para mim. A grande coisa que faço com a internet são minhas páginas de Facebook e Twitter, ouço rádios online, busco milhares de informações sobre muitos assuntos. A Isso tem muito mais peso e relevância do que qualquer outra coisa.
iG: Você já declarou que os artistas da nova MPB precisavam frequentar o conservatório. Nada te agrada no cenário atual?
Ed Motta: Essa exclusividade de ruindade musical não é do Brasil, ela é mundial. A música passa por um hiato criativo mundial, mas tem artistas que fazem coisas relevantes dentro do universo de música. Tem um cara do Espírito Santo que lançou um disco semana passada na Europa, e que deve sair no Brasil, que se chama Lucas Arruda. Essa é a grande novidade para mim. Ele é multi-instrumentista, jovem e tem uma competência absurda. Ele é a antítese dessa geração que está aí falando coisas em um discurso incompetente. O Lucas Arruda é brilhante, para mim, é o disco de 2013.
iG: E você tem prestado atenção em mais alguém?
Ed Motta: Atenção eu sempre presto, mas, de resto, mais me assusta do que qualquer outra coisa (risos).
iG: Você também é conhecido por sua vasta coleção de discos. Que artistas ou gêneros musicais jamais fariam parte dela?
Ed Motta: São quase 30 mil discos. Minha coleção é baseada em música dos anos 1980 para baixo, entre os anos 1930 e 1980. Talvez o que não entre seja dos 1990, porque não sou muito interessado. Mesmo os artistas de jazz que eu gosto eu não escuto muito os discos novos deles, é raro. Mas o Donald Fagen, do Steely Dan, é um cara que eu sempre acompanho. O (violonista brasileiro) Guinga também. Quando tem disco novo do Guinga eu saio correndo até a loja para comprar. Antes de ele escutar, eu já estou ouvindo o disco em casa.
iG: Com tantos discos não deve dar tempo de ouvir mais novidades...
Ed Motta: Quando você é um colecionador de discos, ficar ouvindo coisa nova é insanidade, não tem lógica. A novidade para mim é um disco antigo chegando pelos Correios, o novo para mim sempre foi a coisa mais antiga do mundo! Isso talvez seja decorrente de eu ser colecionador. Sempre disse: "Se tinha uma coisa que não era moderno, era o moderno". Mas, enfim, eu não posso reclamar de nada, a resposta do disco novo está sendo ótima, eu reclamo mesmo é porque eu sou ranzinza.
iG: Voce se considera um reclamão?
Ed Motta: Para caramba, reclamar é o tempo inteiro (risos).
iG: O que mais tira você do sério?
Ed Motta: Olha, o que me tira do sério é sempre alguma coisa que faça mal à arte. Sou obcecado por arte, eu sou um soldado da arte, e sou meio louco com quem faz mal a ela, meio homem-bomba. Sou capaz de jogar o meu corpo cheio de bombas para que não existisse mais aquilo (risos).
iG: No começo da sua carreira ligavam muito o seu nome ao de Tim Maia, seu tio. Isso ainda é frequente?
Ed Motta: Não, mas isso é natural que aconteça, é uma coisa histórica, está no sangue da família.
iG: As músicas dele já foram referência?
Ed Motta: Nunca foram. Eu sempre achei muito bom, mas nunca foi coisa que me espelhei para fazer absolutamente nada. Sempre fui muito mais ligado ao Cassiano (cantor e guitarrista paraibano considerado como o precursor da soul music brasileira e cuja primeira coletânea Ed Motta organizou).
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