O acidente, além das vítimas fatais e dos feridos, teve desdobramentos lamentáveis, dentre eles a apropriação indébita de jóias de passageiros por policiais civis, dentro da Delegacia, circunstâncias que foram posteriormente apuradas, além do furto de diversos objetos pertencentes à tripulação e aos passageiros, por moradores da redondeza e por pessoas de outras comunidades que correram para o local da tragédia nas primeiras horas.
ACIDENTE DA TRANSBRASIL
O sábado, 12 de abril de 1980, foi um dia nublado que se transformou em uma noite chuvosa. Estávamos em Pinheiral, município de Major Gercino, na casa que o Colégio Catarinense lá mantém até hoje, com um grupo de alunos do ensino médio do referido colégio.
Naquela época, em Pinheiral não havia telefone. Também não tínhamos aparelho de televisão na casa, assim, realmente estávamos em “outro mundo”, participando de uma atividade pedagógica muito especial.
À noite, após atividades apenas dentro de casa, pois não havia ginásio de esportes nem outro ambiente que permitisse atividades com aproximadamente 40 alunos fora da mesma, fizemos a nossa “reunião da noite” e ficamos conversando. Brincando, cantando, tocando violão. Éramos senhores de nosso tempo.
Na ocasião, eu era o coordenador da atividade, como professor do Colégio Catarinense. Tinha recém completado 23 anos. Conosco estava um ser maravilhoso, o amigo Padre Guido Sthäl, jesuíta, na época com quase 50 anos. Os alunos e alunas tinham idades entre 14 anos e 19 anos, portanto éramos um grupo bastante jovem, com a presença de vários adolescentes.
No dia seguinte, domingo, pela manhã tivemos uma das atividades mais esperadas pelos alunos: uma partida de futebol contra o time de moradores de Pinheiral. Durante o jogo começaram alguns cochichos, com pessoas de Pinheiral falando que tinha acontecido um acidente em Florianópolis. Ao tentar inteirar-me do ocorrido, descobri que alguns dos sobre-nomes das pessoas acidentadas eram de alunos que lá estavam.
Fogo na mata indicava o local da queda do aviãoE agora?
Na volta, todos já sabiam que um avião tinha caído em nossa capital, mas não imaginávamos a tragédia ocorrida. Apenas ao chegarmos ao colégio, em torno das 19 horas, é que descobrimos a intensidade do acontecido.
Na noite anterior, sábado, 12 de abril de 1980, um avião da Transbrasil, cujo vôo tinha começado em Belém e depois veio fazendo escalas em muitas outras capitais, com cinqüenta passageiros e oito tripulantes, havia colidido com o “Morro da Virgínia”, em Ratones, no interior da Ilha.
Segundo consta, o avião havia sobrevoado o aeroporto, preparando-se para aterrissar, quando foi solicitado que fizesse mais uma volta e aterrissasse após alguns minutos.
Trágicos minutos!
Como era uma noite de sábado, muitos parentes e amigos tinham ido ao aeroporto esperar os que vinham naquele vôo. Assim, quando o avião foi fazer mais uma volta e não retornou, o desespero foi grande.
Dois minutos antes da queda o comandante da aeronave entrou em contato com a torre do aeroporto, e nenhuma informação sobre condições ruins da aeronave foram passadas. Supõe-se que, no instante da colisão, o avião estivesse com velocidade de 600 km/h. Se sua altura fosse 80 metros mais do que era, certamente teria passado sobre o morro e nada teria ocorrido.
Alguns instantes após a torre perder o contato, via radar, com a aeronave, o Comando de Busca Salvamento da Base Aérea de Florianópolis foi acionado. Um helicóptero foi enviado para a região e logo localizou o clarão na mata no alto do morro, indicando que acontecera o pior.
Mas, quando algumas horas depois as equipes de salvamento chegaram ao local, mesmo os mais pessimistas se surpreenderam com a tragédia.
Apenas quatro pessoas sobreviveram ao acidente. E uma delas veio a falecer, dias depois, no Rio de Janeiro. Noventa por cento dos passageiros do vôo eram de Florianópolis. Ou era aqui seu destino, naquela noite.
Um pedaço do avião – apenas na manhã seguinte foi possível ver a dimensão da tragédia.Quando a lista de passageiros foi divulgada é que se dimensionou a tragédia.
Médicos, engenheiros, advogados, professores, líderes sindicais, juízes, comerciantes e pessoas da sociedade constavam da relação.
Muitas pessoas tentaram subir o morro para prestar ajuda, para levar cobertores para os sobreviventes, que se esperava fossem vários. Parentes desesperados, amigos e curiosos, enfrentaram a noite e o lamaçal, mas apenas uns poucos chegaram ao local do acidente, onde encontraram vivos o casal Cleber e Marlene Moreira, que não eram de Florianópolis e que perderam o filho no acidente, Flávio Barreto e a médica Denise Moritz Pereira, que morreu dias depois.
Domingo: a cidade enterrando seus mortosOs outros se foram. Quando, no domingo, os corpos identificados (a maioria dos corpos estava carbonizada e muito mutilados) começou a sair do instituto médico legal para o sepultamento, a cidade parou. E chorou!
Nós, professores, perdemos vários colegas, como o professor de Matemática da UFSC, Walter Castelan, e o colega Rômulo Coutinho de Azevedo, médico e Professor de História (e que professor!) do Curso Barriga Verde – pré-vestibular.
De quando em quando me pergunto: e se o avião estivesse 80 metros mais alto? E se o acidente não tivesse ocorrido?
Até hoje muitas histórias desse acidente não foram explicadas. Foi falha humana realmente? Dizem que não era o comandante que estava pilotando aeronave. Será?!
Tem ainda a história de uma maleta com jóias, que um joalheiro aqui estabelecido trazia de São Paulo, que depois sumiu. Ela foi achada?
Mas isso não importa nada para quem perdeu algum ente querido naquele acidente.
Autor: Edson Osni Ramos (Cebola)
Fonte: O Estado, edição de 14 de abril de 1980
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