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sábado, 23 de maio de 2015

Budismo radical está por trás de crise humanitária

Beawiharta / ReutersImigrantes rohingya em porto na Indonésia: muçulmanos também sofrem perseguição religiosa.

ÁSIA

Perseguidos por monges que pregam “pureza racial”, islâmicos da etnia rohingya são lançados ao mar em Mianmar

AGÊNCIA O GLOBO

Abandonados em barcos, membros de uma minoria muçulmana expulsa de Mianmar por monges radicais são personagens centrais de uma crise humanitária que põe à deriva o senso comum de que o budismo está sempre associado ao pacifismo. Milhares de homens, mulheres e crianças rohingyas teriam sido impelidos para o alto-mar e carregados por meses em barcos de pesca, com pouca água e comida, por extremistas budistas no país do Sudeste Asiático.

Fazry Ismail / EFE

Protesto contra a perseguição à minoria rohingya na Malásia.

As imagens de náufragos da etnia rohingya não aceitos por países como Indonésia e Malásia põem em evidência recentes trabalhos acadêmicos que estudam a violência no budismo. Especialistas avaliam que, embora textos da religião preguem a não violência, a agressividade é frequente.

“Trata-se mais de propaganda que o budismo é relacionado ao pacifismo. A mídia ocidental e Hollywood têm nos alimentado de uma imagem tranquila, mas o budismo é tão propenso à corrupção como qualquer outra religião”, diz Sufian bin Uzayr, escritor especialista em assuntos religioso que vive na Índia.Veja também

Para Uzayr, a principal causa do atual embate é um discurso a favor de uma pretensa pureza racial. “Eles (extremistas de Mianmar) sequer chamam o rohingya de ‘rohingya’, mas de ’bengalês’, alegando que deveriam deixar Mianmar”, afirma. Outro problema, diz ele, são as fronteiras desenhadas pelos colonialistas britânicos — Arakan e Rakhine, que poderiam ser independentes, foram fundidos à Birmânia (antigo nome de Mianmar).

Uzayr acrescenta que o governo do país, em que os budistas chegam a 90% da população, legitimou a violência ao aprovar leis que proibiram membros da minoria de terem filhos sem permissão e lhes negaram o direito a educação e saúde.

Frank Usarski, professor de Ciências da Religião da PUC-SP, diz que é crescente o número de pesquisas sobre violência e budismo. “Esses estudos relativizam a imagem do budismo como ultrapacifista. A ideia principal é a não violência, mas a religião é praticada por seres humanos e já estamos três mil anos depois de Buda”, avalia.

Ele lembra a Guerra Civil do Sri Lanka, iniciada na década de 1980: ao reagir contra os Tigres Tâmeis, organização separatista, parte da maioria budista adotou o discurso da manutenção da autenticidade do budismo no país, atacando hindus e muçulmanos. A guerra terminou em 2009 e os separatistas perderam, mas os ataques de extremistas budistas continuam.

O caso cingalês pode ter influência no radicalismo de Mianmar. Usarski diz que motivações econômicas e sociais, além de um discurso global anti-Islã, são ingredientes centrais. Ele cita o Movimento 969, fundado pelo monge Ashin Wirathu, que se autointitula “Bin Laden birmanês”. “Religião alguma é totalmente pacifista. Há sempre tradições ambíguas dentro dos seus repertórios”.

Fonte: GAZETA DO POVO

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