ALEXANDRA PRADO COELHO (no Rio de Janeiro)
24/05/2015 - 14:55
Em dois dias, o Vinhos de Portugal no Rio recebeu 6500 visitantes e espera-se que quando fechar as portas tenham passado pelo Jockey Club 9 mil pessoas para provar e ouvir falar do “país das 300 castas”.
MULTIMÉDIA
Nunca falhou uma – o brasileiro Augusto Abreu assistiu a todas as palestras que aconteceram sexta-feira e sábado no Espaço Tomar um Copo, uma novidade este ano no Vinhos de Portugal no Rio, iniciativa dos jornais PÚBLICO (Portugal) e O Globo (Brasil) em parceria com a ViniPortugal, que nesta segunda edição se transferiu do Palácio São Clemente, residência do cônsul português, para o Jockey Club do Rio de Janeiro.
Sábado à noite, no final do segundo dia, já tinham passado pelo Jockey 6500 pessoas e a expectativa dos organizadores era que domingo às 22h, quando fecharem as portas, o evento tenha recebido perto de nove mil visitantes. E Augusto Abreu foi, sem dúvida, um dos mais assíduos na Área de Convivência, no exterior, onde, para além de se poder petiscar nas food truckse no espaço da Deli Delícia, um dos patrocinadores do evento, se podia ver as corridas de cavalos que ao mesmo tempo iam acontecendo nas pistas no Jockey. E, sobretudo, podia-se também ouvir falar de vinho.
No interior, para quem comprou bilhete, era possível estar, por períodos de duas horas, no mercado de vinhos, conhecendo os 73 produtores vindos de Portugal e provando os respectivos vinhos. E ainda assistir às provas apresentadas pelos críticos do PÚBLICO e de O Globo. Mas quem ficou apenas na zona exterior, de entrada livre, teve também oportunidade de os ouvir, de conversar com eles num ambiente mais intimista e de provar alguns vinhos no tal Espaço Tomar um Copo.
Sábado a meio da tarde, Augusto Abreu era, como já se tinha tornado habitual, o primeiro da fila para a sessão seguinte do Tomar um Copo (uma brincadeira com uma expressão portuguesa que não se usa no Brasil). “Há uns 15 anos já que me interesso por vinho”, explicou ao PÚBLICO. Desde essa altura que começou a frequentar palestras e a tentar sempre aprender mais. “Queria perceber porquê esta uva [no Brasil, casta diz-se uva] e não aquela, porquê o vinho feito desta maneira e não de outra…”.
Tinha estado no Vinhos de Portugal no Rio no ano passado e já é um conhecedor dos vinhos portugueses, mas, confidencia, este ano já fez pelo menos uma descoberta: o Avesso, casta de que nunca ouvira falar, e que é a base de um dos vinhos que foi dado a provar no Tomar um Copo, um vinho da Quinta da Covela, da região de Baião.
Mas Augusto Abreu interessa-se também muito por vinhos biológicos e biodinâmicos e, curiosamente, no mercado está um produtor português do Dão que faz vinho biológico desde a década de 90 e biodinâmico desde 2006: António Lopes Ribeiro, da Casa de Mouraz. É complicado vender um vinho com estas características no Brasil? “Trabalhamos com 18 países e o mercado brasileiro é o mais difícil, sobretudo por causa da burocracia”, diz.
Em Portugal, o interesse pelo biológico tem vindo a crescer e António acredita que o mesmo vai acontecer no Brasil. “Na sexta-feira de manhã tivemos a visita de vários sommeliers, alguns de restaurantes com estrelas Michelin [o Brasil tem desde este ano a avaliação do Guia Michelin] que já estão abertos a este tipo de produto, até porque servem alimentos biológicos, uma área em que o Brasil já é um grande produtor.”
Há países em que António trabalha com importadores especializados em biológico, mas no Brasil está numa outra fase, que é a de garantir que consegue estabilizar a relação com um importador. Para isso conta com a ajuda da empresa Azavini e da responsável desta, Carla Salomão, que faz a ponte entre os produtores e os importadores. “No caso do Brasil não chega ter um importador”, garante António. “Venho cá desde 2004 e já vou no terceiro importador. É muito importante ter uma pessoa como a Carla, que conhece bem o país.”
A Azavini representa actualmente 14 produtores de vinho e azeite de Portugal. “Eu sou os olhos do produtor aqui, escolho a importadora, acompanho a documentação, vejo quando a carga chega, vou nos restaurantes e dou treino, como se fosse eu o produtor”, conta Carla Salomão. “Há produtores portugueses com casos de bastante insucesso por várias razões. A distância propicia todo o tipo de problemas e o resultado é que os negócios entre Portugal e o Brasil de uma forma geral são muito poucos. É difícil entrar no mercado e depois é dificílimo manter-se.”
Mas Carla está optimista, até porque o seu negócio tem vindo a crescer bem. “Comecei há nove anos com dois produtores, a CARM no Douro e a Herdade dos Cotéis no Alentejo. As coisas foram crescendo e neste momento, com 14, estou na minha capacidade ideal.” Quanto ao mercado brasileiro, explica que “o Brasil tem diferentes realidades”. “Há mercados maduros com clientes já conhecedores, como São Paulo, com o melhor serviço de restauração do país. Curitiba também é bastante bom. Depois a coisa é variável, o Rio é um mercado forte mas com muitos desníveis, Belo Horizonte começou a tornar-se importante para o vinho com uma rede de supermercados que oferecem vinho de qualidade.”
Fonte: http://www.publico.pt/
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