Um médico conta como é a prática da eutanásia dentro dos hospitais
M. R. São Paulo 13 MAY 2015 - 10:26 BRT
Foto de arquivo de um paciente de hospital. / GORKA LEJARCEGI
“Um cara que pratica o aborto, um aborteiro, ele é mal visto pelos colegas médicos. Não é uma coisa bacana. Mas o cara que ajuda alguém a morrer, isso é super aceito. Não é ofensivo”. Quem conta é um médico experiente, que tem um consultório na região nobre de São Paulo e realiza cirurgias em grandes e conceituados hospitais da cidade.
No Brasil, tanto o aborto quanto a eutanásia são proibidos por lei, sob pena de detenção. Perante à lei, não há essa distinção que existe entre os médicos. Mas isso não impede que ambas as práticas sejam realizadas.
“Todo mundo já fez isso”, conta ele. “Temos até uma gíria, entre os médicos, quando a gente se refere a essa prática: Liguei o M1 no paciente”, diz. ‘M1’ é uma mistura de medicamentos (daí a letra M) com sedativos muito fortes. Eles são aplicados na veia dos pacientes que já estão em estágio terminal. “Quem toma um M1, nunca mais vai acordar”.
Ele conta que rotineiramente pacientes pedem para morrer. “É uma situação muito complicada, o cara está muito doente, sofrendo, com dores e sabe que não vai sair dessa”, diz. "Então acontece sempre de pacientes me pedirem para morrer. É muito comum".
“Mas muitos médicos prometem a cura de doenças que ele sabe que são incuráveis. E a família, naquele momento de desespero, faz o que você disser para ela fazer: entuba, paga por meses de internação. No final, o cara vai morrer do mesmo jeito, mas com muito mais sofrimento. E o médico vai estar muito mais rico. Não é raro ouvir que ‘enquanto houver dinheiro, há esperança’. É horrível isso, mas é a realidade”.
Ele contou que realizou esse procedimento na avó, que estava muito doente. “Ela tinha mais de 90 anos, estava com pneumonia, muito fraca e muito doente. Não tinha mais jeito. A minha família toda estava sofrendo há meses já, pois ela estava na cama e não respondia mais aos tratamentos. Por isso tomei essa decisão", conta. "Não disse para ninguém, até hoje, nenhum parente meu sabe. Apenas fui lá e apliquei o M1. E ela foi respirando cada vez mais devagar, sem sofrimento, e se foi", diz. "Foi melhor assim, eu suspendi o sofrimento dela. E o nosso também".
Fonte: http://brasil.elpais.com/
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