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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Israel mantém 2.000 refugiados africanos em cadeia no deserto


Imigrantes sem papeis não têm direitos reconhecidos por governo isralenese; temperatura em Saharonim chega a 40 graus




Hotline For Migrant Workers
Presos ficam em barracas e mulheres não recebem visitas médicas em Saharonim

Na prisão de Saharonim, que fica no deserto do Negev, no sul de Israel, se encontram homens, mulheres e crianças do Sudão e da Eritreia, que tentaram entrar no país a pé, através da península egípcia do Sinai.

Desde que Israel concluiu a construção da cerca que separa o Sinai do sul do país, em 2012, houve uma queda de mais de 99% no número de refugiados africanos que conseguem entrar no território israelense.


Os poucos que conseguem ultrapassar a cerca (desde o inicio de 2013 foram apenas 34) são imediatamente levados para a prisão de Saharonim.

No entanto, de 2007 a 2012, cerca de 60.000 cidadãos da Eritreia e do Sudão, que fugiram de seus países para salvar suas vidas, conseguiram entrar em Israel.

Essas pessoas vivem no país sem qualquer reconhecimento de sua condição de refugiados e sem que o Estado avalie as circunstâncias nas quais deixaram seus países e entraram em Israel. "Se entrevistassem essas pessoas, se as ouvissem, descobririam que a grande maioria delas é de refugiados políticos e que merecem receber o status e os direitos de refugiados", afirmou Sigal Rozen, da ONG israelense Hotline for Migrant Workers (centro de assistencia a trabalhadores estrangeiros, em tradução livre).

"Se verificassem a situação delas, as autoridades seriam obrigadas, pela lei internacional, a conceder o status de refugiado a dezenas de milhares de pessoas, então preferem nem avaliar", acrescentou aOpera Mundi.

A lei internacional proíbe que um país repatrie pessoas cujas vidas podem estar ameaçadas em seu país de origem. Esse é o caso do Sudão, assolado por uma sangrenta guerra civil e da Eritreia, controlada por uma das ditaduras militares mais cruéis do planeta.

Ódio racial

Sem documentos e sem direito de trabalhar legalmente, a população de refugiados africanos vive em condições precárias e se concentra principalmente na região sul da cidade de Tel Aviv.

Essa área da cidade, que é a mais pobre da grande metrópole israelense, virou cenário de ódio racial por parte dos habitantes originais contra os refugiados africanos.

Esse ódio, parte em consequência do incitamento conduzido por políticos de direita contra os refugiados africanos, e parte em decorrência das condições de vida nos bairros pobres e densos da cidade, vem se alastrando e, nos últimos dois anos, já causou algumas erupções violentas.

Em 2012, houve uma série de ataques por parte de israelenses racistas contra casas e pequenos negócios de africanos, deixando vários lugares depredados e pessoas feridas.

Entre os políticos de direita que incitam contra os africanos está a deputada Miri Regev, do partido governista Likud e chefe da Comissão de Interior do Parlamento. Regev chegou a qualificar os refugiados africanos como "câncer no corpo da nação".

"Politica de avestruz"

ONGs de direitos humanos acusam o governo israelense de conduzir uma "politica de avestruz" na questão dos refugiados africanos. "Em vez de enfrentar o problema e tentar resolvê-lo, simplesmente deixam os refugiados jogados nas áreas mais pobres de Tel Aviv, sem assistência médica ou social", disse Rozen.


O governo israelense qualifica os refugiados africanos como "infiltradores", ou seja, pessoas que "se infiltram" pela fronteira, supostamente para procurar trabalho no país, e não os reconhece como refugiados.

O ministro do Interior, Gideon Saar, afirmou que "precisamos continuar agindo energicamente para barrar esse fenômeno, continuaremos com a política do governo de repatriar infiltradores para seus países de origem ou para terceiros países".

Nos últimos meses, porta-vozes oficiais vêm afirmando que o governo está conduzindo negociações com países africanos para que recebam os cidadãos eritreus e sudaneses que se encontram em Israel. Porém ainda não se sabe se algum país se dispôs a recebê-los.

De acordo com o ministro, Israel "é o único país ocidental que tem fronteira com a África e, se não agirmos de maneira clara e sem concessões, o país será inundado por infiltradores ilegais".

Endurecimento das leis

Segundo a Lei de Prevenção de Infiltração, aprovada pelo Parlamento de Israel em junho de 2012, qualquer refugiado africano que tente entrar sem documentos no país pode ser preso por um período de pelo menos três anos.

Nos últimos meses, o Parlamento também aprovou uma nova cláusula à mesma lei, que permite que qualquer imigrante sem papeis que for suspeito de contravenções seja imediatamente enviado à prisão de Saharonim.

Fonte: OPERA MUNDI


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