Ver gente como Barack Obama e François Holande, que vivem oprimindo povos mundo afora, falar em defesa dos valores supostamente pregados por Mandela, acaba ensejando vontade de vomitar. Eles representam os interesses dos brancos, aos quais interessa a África do Sul em estado de letargia social, ou seja, "pacificada", para que as classes dominantes continuem a explorar as riquezas daquela nação.
Os norte-americanos, que se afirmam paladinos da justiça e da democracia, no interesse econômico das suas grandes companhias (principalmente as de petróleo) vivem esmagando anseios de liberdade e de independência de povos do oriente médio e "metendo os cornos" em muitos outros cantos do mundo, inclusive para assassinar gente inocente (incluindo crianças e idosos) com suas armas não tripuladas, os famigerados drones.
Os franceses, ao seu turno, também historicamente opressores, sob o governo de Holande, têm sido cruéis com os ciganos, quase imitando Hitler, na sua intolerância.
Basta destacar as duas manifestações, dentre outras igualmente asquerosas, para mostrar que Mandela nunca foi, nem será, em verdade, a unanimidade que parece ser.
Tem mais: quando Mandela capitulou, após massacrantes anos de cadeia, assinando uma espécie de paz com o governante do seu país, para mim, jogou na lata do lixo todo o seu ideal e todo o enorme sacrifício que lhe haviam imposto. "Pacificou" o seu povo, isto é, tirou-lhe a razão de lutar por uma liberdade efetiva. Reconduziu os negros de lá à velha condição de semi-escravidão. A conciliação promovida por Mandela, ao meu modo de ver, foi mais perniciosa que auspiciosa para o seu povo, quando se pensa em liberdade efetiva e não falaciosa. A África do Sul é tão independente quanto o Brasil, isto é, nossos povos conquistaram a "liberdade de se esfalfar", em prol dos capitalistas nacionais e internacionais. Somos colônias do Vaticano e dos banqueiros, das mineradoras e de outras potências econômicas. Basta ver que a homenagem a Mandela será centralizada numa "missa" católica, sinônimo da dominação européia que prevalece, inabalada.
Terão mudado as propriedades das minas de diamante da África do Sul, no governo de Mandela ou do seu sucessor?
Estarão os negros que trabalham nas minas ganhando melhores salários, ou continuam explorados pelos brancos que dominam a economia local?
Terá Mandela se mantido fiel ao seu povo, ou, premido pelas circunstâncias da sua prolongada prisão, capitulou em favor dos interesses dos capitalistas brancos?
Terá Mandela se mantido fiel ao seu povo, ou, premido pelas circunstâncias da sua prolongada prisão, capitulou em favor dos interesses dos capitalistas brancos?
Lembram-se que operários negros fizeram manifestações e reivindicações por melhores condições de trabalho, por ocasião das obras nos estádios da Copa do Mundo lá realizada?
Ao serviço de quem estará trabalhando o sucessor de Mandela?Só para refrescar a memória dos leitores, posto uma matéria sobre o fuzilamento de trabalhadores daquele sofrido povo africano, ainda em 2012:
O legado repressivo da copa na África do Sul: 36 mortos e 78 feridos em greve
Publicado em 30 de novembro de 2012por uniaoanarquista
Polícia africana após o fuzilamento de trabalhadores mineiros
Apesar do “fim” do regime racista do apartheid na África do Sul desde 1994, no dia 16 de agosto de 2012 todo o mundo viu através das câmeras o fuzilamento de trabalhadores da empresa britânica Lonmin. Estes trabalhadores estavam em greve desde o dia 10 de agosto em uma mina localizada na cidade Marikana, de onde a Lonmin extrai 96% da platina que exporta para o mundo. Durante os cinco dias de mobilizações que antecederam o massacre, a governista N.U.M (União Nacional dos Mineiros) se esforçava para desmobilizar os trabalhadores e acabar com greve, enquanto a ascendente Associação dos Mineiros e Trabalhadores da Construção (A.M.C.U, fundada por dissidentes da N.U.M) se posicionou a favor da greve e atuou pela conquista da pauta reivindicativa. Tal divergência causou muitos confrontos entre os associados das duas forças e serviu de pretexto para a intervenção policial durante os piquetes, resultando em oito mineiros mortos e dois policiais justiçados.
As reivindicações dos mineiros giravam em torno de melhores condições de trabalho, aumento salarial e exigiam o fim da relação trabalhista de semiescravidão que é imposta através de vigilância armada e muita punição. Após o massacre, 270 mineiros foram presos acusados pelo assassinato de seus próprios companheiros, pois foram enquadrados em uma lei da época do apartheid que responsabiliza todos os envolvidos em uma manifestação por qualquer morte ocorrida durante a mesma. Somente após forte pressão social a acusação de homicídio foi retirada e parte dos trabalhadores foram libertados sem pagar fiança, mas devem se apresentar à Justiça em fevereiro de 2013.
O massacre ocorreu dois anos após a Copa do Mundo, que prometia um legado de desenvolvimento e diminuição da desigualdade social. Porém, o que se vê na África do Sul é um abismo social onde existem ilhas privadas de segurança e luxo que contrastam com a miséria dos guetos. Foram gastos bilhões em construção de estádios que hoje estão inutilizados, pois a manutenção é milionária e enquanto isso a população sai às ruas por direitos essenciais como saneamento, água potável e emprego. O desemprego atinge 25% da população e em localidades da capital, como em Soweto (reduto negro e símbolo da resistência ao apartheid), o índice de desemprego chega aos alarmantes 48%. O único legado que a classe trabalhadora herdou dos investimentos públicos para realização da Copa do Mundo foi uma polícia bem armada para defender os interesses da burguesia nacional e internacional, assassinando e controlando os trabalhadores que ousam lutar por direitos básicos, e que custaram U$ 115 milhões para os cofres públicos. Já a burguesia e os governantes herdaram da Copa segurança, enriquecimento ilícito e aumento patrimonial.
No Brasil, a indústria de segurança está em plena ascensão, impulsionada pelos altos investimentos nos megaeventos (sobretudo Copa e Olimpíadas). A Security Industry Association (SIA) estima que o setor faturará até 2017 cerca de R$ 3,7 bilhões de reais tirados do povo e que serão usados contra o povo. A aprovação do uso do exército para reprimir manifestações e greves durante os megaeventos pelo governo brasileiro já indica quea classe trabalhadora haverá de passar por um período de repressão extrema contra as mobilizações populares, assim como passam nossos irmãos africanos.
Os trabalhadores continuarão a ser assassinados na África do Sul, no Brasil e pelo mundo enquanto as organizações da classe trabalhadora legitimarem e fortalecerem o seu próprio assassino, o Estado. É necessário denunciar e execrar do seio da classe trabalhadora lideranças, sindicatos e centrais que promovam a conciliação de classe, assim como jogar no lixo todo o legalismo que só traz derrotas e luto. Precisamos, enfim, que a classe trabalhadora resgate o sindicalismo livre e revolucionário comprometido com nossa luta e autodefesa.
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