Político, pastor e empresário usam serviços de ‘laranja’ no Panamá
5/12/2013 9:25
Por Redação - de Brasília
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, teria participação em uma empresa offshore, no Panamá
A movimentação de recursos financeiros entre empresários, pastores protestantes e políticos brasileiros, em território panamenho, passou a ser notícia no país após a divulgação, na terça-feira, em um dos noticiosos de maior audiência na TV brasileira, da transação que resultou na venda do Hotel St. Peter, em Brasília, a um grupo econômico abrigado pelas leis do Panamá, que garantem o sigilo da operação comercial. Este é o hotel onde, uma vez aprovado por um tribunal de Justiça, o ex-ministro José Dirceu cumprirá pena em regime semi aberto. Além do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e sua família, a Editora Abril, que edita a revista semanal de ultradireita Veja, também teriam usado os serviços do suposto ‘laranja’ José Eugenio Silva Ritter, na Cidade do Panamá.
“Embora não tenha conseguido estabelecer uma conexão direta entre Dirceu e a empresa no Panamá, uma vez que o contrato do St. Peter envolvia o empresário Paulo Abreu e o suposto laranja, o Jornal Nacional (JN, da Rede Globo) deixou no ar a insinuação de que o St. Peter talvez pertencesse ao próprio ex-ministro. Ou seja: Dirceu estaria sendo contratado por ele próprio, o que seria um argumento a mais para que a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal negasse a ele o direito ao regime de prisão semiaberto – ao qual, diga-se de passagem, foi condenado”, afirma o site de notícias Brasil 247.
A mesma página, na internet, também revelou, nesta quinta-feira, “que Jose Eugenio Silva Ritter atuou em outras transações importantes no Brasil. Uma delas, a compra de três operações da TVAvendidas pelo grupo Abril, que edita a revista Veja – a mesma cujo colunista mais notório, Reinaldo Azevedo, vinha usando o caso panamenho para pressionar juízes a negar a oferta de emprego a Dirceu”.
Ainda segundo o 247, “Jose Eugenio Silva Ritter já foi dono de duas empresas offshore que hoje pertencem à família do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. As empresas se chamam Conval Corporation e Vittenau Corporation. A primeira foi constituída em 12 de junho de 2008 e a segunda uma semana depois, em 19 de junho daquele ano – o mesmo em que Eduardo Paes se elegeu pela primeira vez para governar a cidade. Hoje elas pertencem a Valmar Souza Paes, pai do prefeito, Consuelo da Costa Paes, a mãe, e Letícia da Costa Paes, a irmã caçula”.
“Cada uma delas tem um capital social de US$ 4 millhões, ou seja, US$ 8 milhões, que, hoje, equivaleriam a cerca de R$ 20 milhões. Ambas foram constituídas pelo escritório Morgan y Morgan, um dos mais atuantes no Panamá, que, ao que tudo indica, tem farta clientela no Brasil. Informações trazidas ao 247 revelam que Jose Eugenio Silva Ritter é ou foi “dono” de mais de 1,5 mil empresas – a maioria delas no país”.
Grupo Abril e TVA
Conforme apurou o site, “o grupo Abril vendeu as operações da TVA em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – três das principais praças comerciais do Brasil – para a Truston International Inc. Quem está por trás dos negócio, no entanto, é o Bispo RR Soares. Em agosto deste ano, a Anatel autorizou a venda de três operadoras de TVA para o cunhado de Edir Macedo, e que criou a Igreja Internacional da Graça de Deus, em 1980, depois de se desentender com seu mentor”.
“O pedido de anuência prévia para a venda desses canais foi aditado em 2012, porque os atores iniciais da compra – Raul Rothschild de Abreu e Cintia Rothschild de Abreu Alvarenga – também seriam quotistas de emissoras de radiodifusão e a nova lei proibiu a propriedade cruzada entre radiodifusores e operadores de telecom”, afirma o site.
E continua: “Esses primeiros compradores transferiram, então, os direitos de cessão sobre as outorgas de TVA para duas pessoas físicas, Lara Severino Vargas de Abreu e Igor de Abreu Demétrio Zarra, que ficam com 70% da empresa e a holding Compor Communication, que detém 30% restantes. A Compor é a mesma companhia que foi apontada, em rede nacional, na noite da terça-feira 3, no Jornal Nacional, como contratante do auxiliar José Eugenio Silva Ritter. Cidadão panamenho, ele seria o ‘laranja’ que se tornou proprietário do hotel St. Peter”.
Perseguição política
Na análise do jornalista Luiz Carlos Azenha, editor do site Viomundo, em artigo intitulado A lógica torta da Globo no caso de José Dirceu, “dezenas de milhares de presos brasileiros, que cumprem pena em regime semi-aberto, trabalham. Não é nenhum privilégio: está previsto na legislação. Assim como está prevista a remissão de pena, ou seja, a redução da pena em função dos dias trabalhados. Não há nada de excepcional nisso”.
“Pergunta básica sobre um preso hipotético: José da Silva é responsável pelas ações daquele que o emprega? Se a empresa que acolheu José da Silva for condenada por tráfico de drogas, se sonegar Imposto de Renda ou se for de propriedade de um laranja, José da Silva deve pagar também por isso?”, questiona.
“Resposta óbvia: não”.
E afirma: “Qualquer tentativa em sentido contrário significa punir por associação”.
Azenha reproduz a declaração de um dos advogados de Dirceu:
“A constituição societária do hotel St. Peter não diz respeito a meu cliente. Por que 400 pessoas podem trabalhar no hotel e o ex-ministro não? Esse hotel é antigo em Brasília, tradicional, mas para alguns parece que foi inaugurado ontem. Juntamos toda a documentação necessária para que meu cliente possa trabalhar e espero a decisão da Justiça’. O que o Jornal Nacional está tentando fazer é ‘punir’ um hotel que ofereceu um emprego a José Dirceu. É punir o preso por práticas supostamente ilícitas do hotel, o que é um absurdo jurídico”, afirmou.
Ainda segundo o jornalista, “ou isso, ou a Globo está tentando lançar no ar uma ilação: José Dirceu seria o dono oculto do hotel que pretende empregá-lo, através de um laranja num refúgio fiscal, o Panamá. Mas, aí, eu também posso fazer uma ilação: José Dirceu comprou parte da Abril, com o objetivo de calar Victor Civita. Sim, porque como revelou um sítio, a mesma empresa do ‘laranja’ envolvido com o hotel Saint Peter — que ofereceu emprego a José Dirceu — comprou parte da TVA, da Abril”.
“Já pensaram nisso? José Dirceu compra a Veja para torná-la uma publicação esquerdista!”, acrescenta.
E Azenha emenda: “Por falar em ironia, o blogueiro Mello desafiou a Globo a ir fundo não apenas no Panamá, mas também nas ilhas Virgens Britânicas, onde uma certa Globo Overseas comprou os direitos de transmissão das copas de 2002 e 2006 usando uma empresa de fachada. A palavra não é minha, é da Receita Federal. O que a Globo está tentando fazer no caso de Dirceu equivale ao Mello pedir que William Bonner seja punido por eventual sonegação fiscal dos empregadores dele, os irmãos Marinho!”.
“Hoje, a Globo mobilizou três pessoas para fazer valer sua tese de que o escândalo diz respeito ao preso José Dirceu: Álvaro Dias e “ministros” do Supremo Tribunal Federal. Nem Gilmar Mendes, nem Marco Aurélio Mello, ouvidos, foram assim tão enfáticos. Mello, aliás, lembrou que não falava como juiz do caso. Por motivos óbvios: a decisão de permitir ou não que José Dirceu trabalhe não tem relação alguma com o fato de o hotel pertencer a um laranja ou a marcianos”.
Na opinião do cronista político, “o que a Globo quer é vingança. É evitar que José Dirceu tenha os mesmos direitos de dezenas de milhares de outros presos que cumprem pena em regime semi aberto. Direito ao trabalho. À ressocialização. A Globo não quer que a lei seja cumprida. Ou quer que ela seja cumprida seletivamente. É isso o que se esconde por trás do ‘jornalismo’ do Ali Kamel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário