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terça-feira, 19 de maio de 2015

Pinhão precoce dá viabilidade ao cultivo de araucária


Pesquisa acelera ciclo de produção do alimento e comprova que cultivo controlado é economicamente viável – com ganho ambiental

O pesquisador da Embrapa Ivar Wendling. Árvore símbolo do Paraná tem seu manejo e lucratividade detalhados em pesquisas científicas.
Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo


Autor: Igor Castanho

Pinhões prontos para consumo na metade do tempo e que podem ser colhidos ao alcance das mãos. Se depender dos pesquisadores da Embrapa, os fãs do alimento podem comemorar. Especialistas da entidade criaram um método que acelera o crescimento e diminui o tamanho das araucárias, numa estratégia que viabiliza pomares da árvore típica do Paraná. Além do que ganho ambiental, o modelo tenta conquistar os agricultores com promessa de fonte alternativa de renda.

Os estudos são conduzidos desde 2002 nas estufas e laboratórios da Embrapa Florestas, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. As primeiras tentativas fracassaram: as árvores ficavam tortas ou simplesmente não produziram. Foi preciso mais de uma década para que fossem colhidos literalmente os primeiros frutos – ou melhor, sementes.

Saiba Mais
Receitas: pinhão alimenta paladar gourmet.

4,6 toneladas 
de pinhão são colhidas por ano no Paraná, metade da safra nacional. E 500 quilos saem do município de Pinhão (Centro).

Pesquisador responsável pelo projeto, Ivar Wendling explica que numa situação normal uma araucária precisa de 12 a 15 anos para produzir os primeiros pinhões, quando a árvore atinge entre 10 e 15 metros de altura. Com as novas mudas, criadas por meio da enxertia, o tempo cai para um intervalo entre 6 e 8 anos e as plantas atingem apenas dois metros de altura, facilitando a colheita.

A criação das primeiras mudas foi a parte mais trabalhosa e definiu a eficiência do método, diz Wendling. É preciso buscar os enxertos na copa de pinheiros que já estejam produzindo. Depois, basta amarrá-los ao “cavalo”, plantas de cerca de 1 ano de vida.

“Isso faz com que a muda incorpore a idade dessa planta mais velha, se comportando com uma árvore adulta e acelerando a produção”, detalha o pesquisador. Depois basta multiplicar o resultado usando o caule da planta resultante, o que dispensa a necessidade de novas escaladas até o topo de árvores adultas. Nos campos da Embrapa, está sendo estruturado um pequeno pomar que servirá como banco genético para a produção em escala e a formação de viveiros privados.

Mais do que agilidade na produção, o modelo também permite a seleção de outros atributos como sexo da planta, época de início da produção, tamanho e valor nutricional dos pinhões. “Basta que exista uma árvore que já produza nas condições desejadas e isso pode ser replicado”, acrescenta o especialista.

Com isso, pode-se fazer o cultivo de machos na proporção mais recomendada (20%) e ainda garantir que haja produção durante todo o ano. A safra do pinhão normalmente começa em abril e segue até o início do segundo semestre.

Para Wendling, o principal ganho com o método é fomentar a conservação ambiental aliada à exploração econômica. “As araucárias estão ameaçadas de extinção e não há grande interesse em seu cultivo comercial”, lembra. Como a demanda crescente tira boa parte dos pinhões do campo a multiplicação da espécie fica ainda mais comprometida, complementa.

Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a retração na produção de pinhão. Foram colhidas 4,6 mil toneladas em 2013 no Paraná, tombo de 23% ante o ano anterior. O segundo maior produtor é Santa Catarina, com 3,2 mil toneladas. Na sequência vêm Rio Grande do Sul (830 mil t) e Minas Gerais (280 mil t), somando 8,9 mil t em todo o país.

Produção na adolescência


Pomar - Pinheiros normais crescem alinhados em cultivo semelhante ao de árvores frutíferas. Eles vão receber enxerto de galhos tirados da copa de árvores adultas.

Cavalo - Com 1 ano, os pinheirinhos têm a ponta cortada. No meio do caule, são introduzidos galhos tirados da copa de árvores adultas, o que determina a idade e o gênero das novas araucárias, também chamadas de clones.


Experiência - As primeiras pinhas estão se formando nos canteiros experimentais da Embrapa Florestas, em Colombo. A partir da comprovação de resultados, a técnica será difundida a agricultores interessados em produzir pinhão.

Causa coletiva

A preservação da araucária tende a ser estimulada no agronegócio a partir de pesquisas que dão viabilidade ao cultivo.

Manejo

Pesquisas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolvidas nas últimas três décadas detalham como é possível dominar o cultivo da árvore. A técnica de enxerto, que era vista apenas como uma das alternativas, mostrou que é possível determinar se o pinheiro será macho ou fêmea, por exemplo.

Tronco, caule, folhas

O pesquisador da UFPR Flávio Zanette explica que o pinheiro tem três tipos de estrutura. No troco, crescem galhos e folhas. Nos galhos, somente folhas, Nas folhas, não surgem pinhas. Assim, se um galho tem a ponta enterrada, desenvolve raíz, mas não vai se tornar uma árvore tradicional e tende a pender para os lados.

Espécies

O pinheiro São José rende pinhões menores, a partir do Dia de São José (19 de março) e o Macaco tem safra no meio do ano, mas as pinhas são de mais difícil colheita. O pinhão mais amplamente consumido é o Caiová, que dá pinhões maiores a partir de abril, quando é liberada a comercialização no Paraná.

Rendimento

Aos 12 anos, um pinheiro fêmea dá até 30 pinhas por fêmea (aproximadamente 30 quilos de pinhão). Num pomar de um hectare (com 80 fêmeas e 20 machos), é possível colher 2,4 mil quilos, com receita de R$ 9,6 mil (R$ 4 por quilo). O valor é o dobro do alcançado na soja e pode ser obtido durante décadas apenas com manejo do pomar.

Estímulo

O cultivo de pinheiros ganha força num momento em que surge mais respaldo legal para a exploração comercial de áreas verdes. O Novo Código Florestal permite que a recomposição do déficit de reserva legal também seja aproveitado economicamente. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) permite o plantio e corte comercial das araucárias, desde que haja comprovação legal da atividade.

Incerteza

Apesar de décadas de trabalho, as pesquisas ainda estão sendo difundidas. Pomares demonstrativos estão em formação. Mudas são distribuídas pela UFPR a produtores isolados. Como o cultivo requer longo prazo, as primeiras experiências é que devem endossar as indicações dos pesquisadores.

Fonte: http://agro.gazetadopovo.com.br/

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