“Se autorizada a avançar, esta expansão vai inundar o mercado global com ainda mais plástico descartável e impossível de gerir ao longo das próximas décadas”
O consumo global de plástico, que já está a ameaçar oceanos, habitats e cadeias de alimentação, vai aumentar “dramaticamente” ao longo dos próximos dez anos
graças ao investimento multimilionário em novas fábricas de plástico
nos EUA. Segundo o diário britânico “The Guardian”, empresas que
negoceiam combustíveis fósseis estão entre as que investiram mais de 180
mil milhões de dólares (151,6 mil milhões de euros) desde 2010 na
criação de novas infraestruturas que vão produzir plástico em bruto para
embalagens, garrafas e outros produtos altamente poluentes.
Especialistas
apontam que as novas infraestruturas, a serem desenvolvidas, entre
outras, por gigantes petrolíferas como a ExxonMobil Chemical e a Shell
Chemical, vão contribuir para um aumento de 40% na quantidade de
plástico produzido, consumido e descartado ao longo da próxima década,
exacerbando uma crise que os cientistas dizem já estar prestes a
provocar a “poluição quase permanente da Terra”.
“Estamos
a alargar a produção de plásticos por várias décadas precisamente numa
altura em que o mundo está a aperceber-se de que devia usá-lo menos”,
aponta Carroll Muffett, presidente do Center for International
Environmental Law (CIEL) dos EUA, que esteve a analisar a indústria do plástico
e o seu impacto no ambiente. “Cerca de 99% da matéria-prima dos
plásticos vem de combustíveis fósseis, portanto estamos a lidar com as
mesmas empresas, como a Exxon e a Shell, que ajudaram a criar esta crise
climática. Existe uma relação profunda e difusa entre empresas de
petróleo e gás e os plásticos.”
A culpa do gás de xisto
Para
Louise Edge, ativista da Greenpeace britânica para a defesa dos
oceanos, qualquer aumento na quantidade de plástico que acaba por ir
parar aos oceanos terá um impacto desastroso. “Já estamos a produzir
mais plástico descartável do que aquele com que conseguimos lidar, mais
na última década do que em todo o século XX, e milhões de toneladas desse plástico estão a acabar nos nossos oceanos.”
O grande investimento analisado à lupa pelo CIEL tem sido, pelo menos em parte, alimentado pelo boom
de gás de xisto nos EUA, que por sua vez levou à queda do preço dos
líquidos de gás natural, que são usados para produzir resina de
plástico. O Conselho Americano de Química (ACC, na sigla inglesa) diz
que, desde 2010, esta baixa de preços levou a que fossem investidos 186
mil milhões de dólares (156,7 mil milhões de euros) em 318 novos
projetos, quase metade deles já completos ou em construção, os restantes
ainda numa fase de planeamento.
“Posso sumarizar [este aumento
do número de fábricas de produção de plástico] em três palavras: gás de
xisto”, refere o economista do ACC Kevin Swift. “Os EUA têm registado
uma revolução das tecnologias de gás de xisto, com o fracking
[fraturamente hidráulico] e perfurações horizontais”, o que levou “o
custo da nossa base de matérias-primas a decrescer em cerca de dois
terços”.
Um “armagedão nos oceanos”
O estudo do CIEL
surge numa altura de crescentes preocupações com a escala da poluição
ambiental por plásticos em todo o mundo, com os cientistas a avisarem a
cada ano que o uso desmesurado do material arrisca contaminar o planeta de forma quase permanente
e irreversível. Numa conferência da ONU dedicada ao ambiente, que teve
lugar este mês no Quénia, a escala de plástico que usamos e descartamos —
e que, em grande medida, vai parar aos nossos mares — foi descrita como
um “armagedão nos oceanos”.
Em junho, uma investigação do “The Guardian” tinha revelado
que há um milhão de garrafas de plástico a serem vendidas em todo o
mundo a cada minuto e que a maioria acaba em aterros ou no mar, com a
série televisiva de David Attenborough, Blue Planet II, a demonstrar
meses depois os danos que o plástico está a causar ao planeta Terra.
Apesar das crescentes preocupações, os ativistas ambientais dizem que
há poderosas corporações que continuam a avançar com uma nova geração de
infraestruturas de produção de plástico, que vão minar os esforços das
economias globais para acabar com o uso de plásticos descartáveis.
“A ligação entre o boom
de gás de xisto nos EUA e a corrente crise global de plástico, que está
a acelerar, não podem ser ignoradas”, refere Steven Feit, investigador do CIEL.
“Nos EUA, as empresas de combustíveis fósseis e petroquímicas estão a
investir centenas de milhares de milhões de dólares para expandir as
capacidades de produção de plástico. Se autorizada a avançar, esta
expansão vai inundar o mercado global com ainda mais plástico
descartável e impossível de gerir ao longo das próximas décadas.”
Fonte: EXPRESSO PT
Fonte: EXPRESSO PT
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