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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

POLUIÇÃO AMBIENTAL - Investimento de $180 mil milhões nos EUA vai aumentar produção de plástico em 40%





Jeff J Mitchell / Getty Images

“Se autorizada a avançar, esta expansão vai inundar o mercado global com ainda mais plástico descartável e impossível de gerir ao longo das próximas décadas”



O consumo global de plástico, que já está a ameaçar oceanos, habitats e cadeias de alimentação, vai aumentar “dramaticamente” ao longo dos próximos dez anos graças ao investimento multimilionário em novas fábricas de plástico nos EUA. Segundo o diário britânico “The Guardian”, empresas que negoceiam combustíveis fósseis estão entre as que investiram mais de 180 mil milhões de dólares (151,6 mil milhões de euros) desde 2010 na criação de novas infraestruturas que vão produzir plástico em bruto para embalagens, garrafas e outros produtos altamente poluentes.

Especialistas apontam que as novas infraestruturas, a serem desenvolvidas, entre outras, por gigantes petrolíferas como a ExxonMobil Chemical e a Shell Chemical, vão contribuir para um aumento de 40% na quantidade de plástico produzido, consumido e descartado ao longo da próxima década, exacerbando uma crise que os cientistas dizem já estar prestes a provocar a “poluição quase permanente da Terra”.

“Estamos a alargar a produção de plásticos por várias décadas precisamente numa altura em que o mundo está a aperceber-se de que devia usá-lo menos”, aponta Carroll Muffett, presidente do Center for International Environmental Law (CIEL) dos EUA, que esteve a analisar a indústria do plástico e o seu impacto no ambiente. “Cerca de 99% da matéria-prima dos plásticos vem de combustíveis fósseis, portanto estamos a lidar com as mesmas empresas, como a Exxon e a Shell, que ajudaram a criar esta crise climática. Existe uma relação profunda e difusa entre empresas de petróleo e gás e os plásticos.”

A culpa do gás de xisto


Para Louise Edge, ativista da Greenpeace britânica para a defesa dos oceanos, qualquer aumento na quantidade de plástico que acaba por ir parar aos oceanos terá um impacto desastroso. “Já estamos a produzir mais plástico descartável do que aquele com que conseguimos lidar, mais na última década do que em todo o século XX, e milhões de toneladas desse plástico estão a acabar nos nossos oceanos.”

O grande investimento analisado à lupa pelo CIEL tem sido, pelo menos em parte, alimentado pelo boom de gás de xisto nos EUA, que por sua vez levou à queda do preço dos líquidos de gás natural, que são usados para produzir resina de plástico. O Conselho Americano de Química (ACC, na sigla inglesa) diz que, desde 2010, esta baixa de preços levou a que fossem investidos 186 mil milhões de dólares (156,7 mil milhões de euros) em 318 novos projetos, quase metade deles já completos ou em construção, os restantes ainda numa fase de planeamento.

“Posso sumarizar [este aumento do número de fábricas de produção de plástico] em três palavras: gás de xisto”, refere o economista do ACC Kevin Swift. “Os EUA têm registado uma revolução das tecnologias de gás de xisto, com o fracking [fraturamente hidráulico] e perfurações horizontais”, o que levou “o custo da nossa base de matérias-primas a decrescer em cerca de dois terços”.

Um “armagedão nos oceanos”


O estudo do CIEL surge numa altura de crescentes preocupações com a escala da poluição ambiental por plásticos em todo o mundo, com os cientistas a avisarem a cada ano que o uso desmesurado do material arrisca contaminar o planeta de forma quase permanente e irreversível. Numa conferência da ONU dedicada ao ambiente, que teve lugar este mês no Quénia, a escala de plástico que usamos e descartamos — e que, em grande medida, vai parar aos nossos mares — foi descrita como um “armagedão nos oceanos”.

Em junho, uma investigação do “The Guardian” tinha revelado que há um milhão de garrafas de plástico a serem vendidas em todo o mundo a cada minuto e que a maioria acaba em aterros ou no mar, com a série televisiva de David Attenborough, Blue Planet II, a demonstrar meses depois os danos que o plástico está a causar ao planeta Terra. Apesar das crescentes preocupações, os ativistas ambientais dizem que há poderosas corporações que continuam a avançar com uma nova geração de infraestruturas de produção de plástico, que vão minar os esforços das economias globais para acabar com o uso de plásticos descartáveis.

“A ligação entre o boom de gás de xisto nos EUA e a corrente crise global de plástico, que está a acelerar, não podem ser ignoradas”, refere Steven Feit, investigador do CIEL. “Nos EUA, as empresas de combustíveis fósseis e petroquímicas estão a investir centenas de milhares de milhões de dólares para expandir as capacidades de produção de plástico. Se autorizada a avançar, esta expansão vai inundar o mercado global com ainda mais plástico descartável e impossível de gerir ao longo das próximas décadas.”

Fonte: EXPRESSO PT

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