Além disso, uso crônico da maconha está ligado à depressão na adolescência, mostram pesquisas recentes
Paloma Oliveto
Estudo com 1.136 pacientes psiquiátricos mostra que a erva aumenta em 144% a probabilidade de envolvimento em atos violentos
Há pelo menos 2 mil anos, a cannabis já era utilizada na China para combater males diversos, de dor reumática a distúrbios reprodutivos femininos. Oriente e Ocidente a viram com bons olhos até o começo do século 20, quando as preocupações com as propriedades psicotrópicas se tornaram maiores que a aceitação de suas ações medicinais. Dois estudos divulgados recentemente reforçam os riscos que a maconha pode representar para a saúde mental. Os trabalhos indicam que o uso crônico pode aumentar a agressividade de pacientes psiquiátricos e estar associado a episódios de depressão na adolescência.
No Canadá, país que discute a legalização do uso recreativo da droga, pesquisadores da Universidade de Montreal e do Instituto Philippe Pinel investigaram os efeitos da cannabis no comportamento de internos do Instituto de Saúde Mental depois que eles receberam alta. Os psiquiatras Alexandre Dumais e Stéphane Potvin avaliaram 1.136 pacientes de 18 a 40 anos com algum tipo de transtorno mental que voltaram para cinco consultas na instituição no ano seguinte à liberação da internação hospitalar. Os pesquisadores identificaram aumento das ações violentas naqueles que faziam uso contínuo da droga.
De acordo com Dumais, um estudo prévio havia mostrado que, em algumas pessoas, a maconha está associada ao comportamento violento. Agora, o novo trabalho, publicado na revista Frontiers in Psychiatry, sugere que os usuários que reportaram, em cada visita pós-alta, que continuavam usando a droga apresentaram risco 144% maior de se envolver com atos violentos, comparado aos demais. “Esse resultado confirma o papel negativo do uso de cannabis em pacientes com doenças mentais. Um dado interessante de nossos resultados é que a associação entre o uso persistente da maconha e a violência é maior que o de álcool ou cocaína”, diz. Ele destaca que essa afirmação se refere a pessoas com transtornos psiquiátricos, e não à população em geral.
Segundo o médico e pesquisador, o uso persistente da cannabis deve ser considerado um indicador de futuro comportamento violento em pacientes que deixam o hospital psiquiátrico, embora ele explique que essa tendência diminui com o tempo. “Esse decréscimo pode ser explicado por uma adesão maior ao tratamento. O paciente torna-se mais envolvido com o tratamento ao longo do tempo, além da ocorrência de um suporte maior dos amigos e familiares. Embora tenhamos observado que o comportamento violento tendia a diminuir ao longo das sessões de acompanhamento, essa associação continuava estatisticamente significante”, observa Duamis.
Prevenção
O pesquisador diz ainda que os resultados do estudo sugerem que não há uma relação recíproca; ou seja, o uso da maconha resultou em comportamento violento futuro, e não o contrário — por exemplo, uma pessoa pode usar cannabis após um episódio violento para reduzir a tensão —, como já se foi sugerido. Dumais diz que uma meta-análise recente de estudos de neuroimagem demostrou que os usuários crônicos de maconha apresentam deficits no córtex pré-frontal, uma parte do cérebro que inibe o comportamento impulsivo.
De acordo com o psiquiatra, esse resultado é importante porque oferece informações adicionais para jovens adultos, que podem avaliar riscos da erva antes de decidir se querem ou não utilizá-la. “Eles também servem como uma ferramenta para o desenvolvimento de estratégias que previnam o risco de violência associado à cannabis, já que esses riscos têm importantes consequências tanto socialmente quanto para a saúde de jovens adultos e da sociedade em geral”, afirma.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br
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