Popular e desolador distrito de Los Angeles exemplifica o crescente drama dos sem-teto nos Estados Unidos
Mónica Montero
Um morador de rua em Skid Row. Suitcase Joe
20 JUL 2019 - 19:00 BRT
Los Angeles pode ser o lugar das estrelas de Hollywood, das madeixas loiras em luxuosos conversíveis e dos patinetes avançando por Venice Beach. Mas Los Angeles também é Skid Row. Estamos no epicentro da crise das pessoas sem-teto que assola os Estados Unidos. Nas calçadas de seus escassos dois quilômetros quadrados vivem aproximadamente 12.000 almas sem água potável e higiene. A expectativa média de vida aqui é de 48 anos. A de um californiano médio é de 80. Skid Row é uma enorme desgraça que a ONU compara a um acampamento de refugiados. E está crescendo. Os números mais recentes constatam que, no último ano, o número de pessoas sem teto na cidade de Los Angeles aumentou 16%. É preciso lembrar que o Estado da Califórnia é a quinta economia mais poderosa do mundo, superando o PIB do Reino Unido e da França.
As imagens desse bairro são desoladoras: ruas cheias de barracas, seringas jogadas e um odor penetrante e persistente de urina. Com apenas nove banheiros públicos, uma quantidade inferior à que seria encontrada em um campo de refugiados, os habitantes do Skid Row cuidam de sua higiene como podem, normalmente com baldes de plástico. Não é de se estranhar os surtos de tuberculose e hepatite. As autoridades limpam as ruas a cada duas semanas com jatos de água e desinfetante para controlar essa bomba relógio que ameaça a saúde pública da cidade.
Um ditado local diz: “Você acha que chegou ao fundo do poço até que se encontra morando em Skid Row”. O culpado é o aumento exorbitante do preço dos aluguéis e o congelamento dos salários. São em número cada vez maior os que não podem pagar um teto sob o qual dormir em Los Angeles. Isso ganha o acréscimo de outros fatores como o vício em drogas, em particular a crise de opioides que assola o país; os problemas de saúde mental e os jovens recém-saídos de programas de abrigo sem nenhum local para onde ir. Muitos colocam a origem do problema nas políticas introduzidas por Ronald Reagan, que privatizaram os hospitais psiquiátricos e reduziram em 77% os fundos dedicados à moradia de pessoas vulneráveis. Autoridades e ativistas acertaram uma área delimitada para concentrar as pessoas sem-teto. O objetivo era duplo: evitar que se espalhassem pela cidade e ao mesmo tempo protegê-los do crescimento imobiliário da região.
Os moradores de Los Angeles estão cansados da situação da cidade e votaram esmagadoramente a favor de novos impostos para construir alojamentos e para instaurar mais serviços sociais. Mas o caminho a percorrer é longo e os últimos números mostram que para cada 133 pessoas que conseguiram abrigo em 2018 existiam outras 150 sem-teto.
Os residentes do Skid Row formam um grupo heterogêneo que inclui mães solteiras, medalhistas de ouro olímpico, antigos CEOs, músicos e milionários que perderam tudo. Não faltam os que escolhem o bairro para viver à margem da sociedade, sem impostos e contas a pagar, personificando o espírito errante do Oeste americano exibido nas obras de Jack Kerouac. Mas são a minoria.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/18/eps/1563465699_723712.html
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