Em outubro de 2021, o artista alemão Gil Ofarim alegou que recebera tratamento antissemita num hotel de Leipzig. Ministério Público estabelece que imagens de câmeras de segurança não corroboram seu relato.
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O músico alemão Gil Ofarim está ameaçado de processo por levantar falsa suspeita e difamação, depois de serem desmentidas suas acusações, feitas em 2021, de que o funcionário de um hotel de Leipzig lhe fizera comentários antissemíticos.
Como anunciou o Ministério Público da cidade nesta quinta-feira (31/03), investigações detalhadas não revelaram "nenhuma prova" que corroborasse as afirmações do artista, concluindo-se que o incidente não ocorreu como narrado por ele.
Em 5 de outubro de 2021, Ofarim, que é judeu, postou um vídeo no Instagram relatando um episódio supostamente ocorrido na noite da véspera, no Westin Leipzig Hotel. Ele tentava fazer seu check-in, esperando numa longa fila diante da recepção, criada por um problema no computador do hotel. Supostamente ele portava no pescoço uma corrente com estrela de Davi.
Outros que estavam na fila atrás dele eram chamados, enquanto ele era ignorado, contou. Depois de 15 minutos, teria perguntado ao funcionário da recepção: "O que está acontecendo? Por que todo mundo está sendo chamado antes de mim?"
O funcionário respondeu que era para "endireitar" a fila. "Eu também estava na fila. Aí alguém gritou de um canto: 'Guarda a tua estrela.'" O recepcionista teria repetido a frase, acrescentando que se Ofarim guardasse o símbolo judaico, poderia fazer o check-in. "Que m****a doente", concluía sua postagem na rede social.
Instância superior decide sobre abertura de processo
Na época, o vídeo causou indignação na Alemanha, especialmente entre a comunidade judaica. Houve protestos em solidariedade com Gil Ofarim e contra o antissemitismo.
Por sua vez, o funcionário acusado entrou com uma ação de difamação contra o músico e, segundo declarações da polícia, deu um relato "significativamente diferente" do incidente. O Westin Hotel suspendeu dois empregados durante o período da investigação.
Nas semanas seguintes, contudo, a análise das câmeras de segurança pela polícia suscitou dúvidas sobre a versão apresentada pelo músico, por aparentemente revelar que na ocasião ele não estaria portando uma estrela de Davi visível.
Num interrogatório, Ofarim disse que não tinha mais certeza se estava usando a corrente "por cima ou por baixo da minha camisa". Ao ser confrontado com as imagens das câmeras de segurança pelo semanário Bild am Sonntag, em meados de outubro, insistiu que "a frase veio de trás, e isso significa que alguém me reconheceu".
"A questão aqui não é a corrente", argumentou na época. "Trata-se, na verdade, de algo muito maior. Como sou visto frequentemente na televisão com a estrela de Davi, fui insultado por isso."
O jornal Leipziger Volkszeitung também citou investigadores do caso que lançavam dúvidas sobre o relato de Ofarim. Um dos vídeos de segurança mostra o músico agitado, mas, como as gravações não têm som por razões de proteção de dados, não está claro o motivo. O jornal afirmava que nas imagens não se via uma corrente com a estrela de Davi.
Agora os promotores públicos informaram que o inquérito contra o recepcionista do Westin foi arquivado, enquanto Ofarim postara o vídeo "na consciência de que era falso e teria consequências difamatórias para os funcionários do hotel". Agora cabe à instância superior, o Tribunal Regional de Leipzig, decidir se aceitará as queixas contra o artista.
Gil Ofarim, de 39 anos, cresceu na Alemanha e se define como "judeu secular". Ele é filho do músico israelense Abi Ofarim, morto em 2018. Cantor e compositor, tocou em duas bandas de rock e gravou músicas em alemão e inglês, além de ser ator de televisão.
av (AFP,DPA,ots)
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