Ativista buscava dados sobre morte da mãe no Holocausto; Alois Hudal ajudou a acobertar comandante da SS
Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, centenas de sobreviventes do Holocausto passaram a procurar nazistas fugitivos para tentar levá-los à Justiça ou fazê-la com as próprias mãos. Aquele que ficou mais conhecido com essa iniciativa foi Simon Wiesenthal (1908-2005), cuja história se ligou à de Otto Wächter, comandante da SS e ex-governador da Cracóvia, na Polônia, e da Galícia, noroeste da Ucrânia.
Em seu livro “Assassinos Entre Nós”, Wiesenthal diz ter visto Wächter no dia 15 de agosto de 1942 coordenando os trens da morte que levaram judeus de Lemberg, hoje Ucrânia, para o extermínio. Cerca de quatro mil idosos foram arregimentados e enviados para campos de concentração. Entre eles, relembra o ativista judeu, estava a mãe que nunca mais tornaria a ver.
O filho de Wächter, Horst, nega a informação. Ao receber a reportagem de Opera Mundi no Castelo Hagenberg, Horst apresentou como prova uma carta do líder nazista à mulher, dizendo que estava em reunião do partido na Cracóvia. Ele diz ainda que Wiesenthal confundiu seu pai com Fritz Katzmann, que era o chefe da SS em Lemberg.
Carreira de Wiesenthal
Em favor da versão de Horst, além do documento, está o histórico de erros da obra de Wiesenthal. Ao tentar capturar o famoso médico de Auschwitz Joseph Mengele (1911-1979), que veio para o Brasil após a guerra, o pesquisador disseminou ao menos duas informações falsas.
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A primeira delas dizia que Mengele estava em Porto São Vicente, na região do Alto Paraná. No entanto, autoridades paraguaias responderam que tal localidade nem sequer existia. Antes disso, em novembro de 1968, Wiesenthal distribuiu à imprensa e aos órgãos policiais supostas fotos de Mengele nas ruas de Assunção. O fotografado, porém, não era o médico de Auschwitz.
O trabalho de Wiesenthal, no entanto, foi fundamental para muitos sucessos em prisões de nazistas. Teve papel relevante nas buscas por Adolf Eichmann (1906-1962), finalmente capturado em 1960 na Argentina e levado a Israel por agentes do serviço secreto do país, o Mossad.
Eichmann foi o responsável pela montagem burocrática do sistema de extermínio nazista, e seu julgamento, em 1962, foi um marco na história da condenação de criminosos de guerra. O caso também é bastante conhecido por ter sido objeto de reflexão da filósofa Hannah Arendt, que resultou no livro “Eichmann em Jerusalém”.
A prisão de outro nazista de alto coturno, o chefe do campo de Treblink, Franz Stangl (1908-1971), é resultado direto das pesquisas de Wiesenthal. Um genro de Stangl teria fornecido ao austríaco, já famoso pela busca de nazistas, a localização de Stangl, preso em 1967 no Brasil. Na época, ele trabalhava com o nome verdadeiro na Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP) e foi extraditado para a Alemanha, onde foi julgado e condenado a prisão perpétua.
Logo em seguida à prisão de Eichmann, animado com a captura, passou a considerar Wächter “o fugitivo nazista mais odiado”. Seu paradeiro, até então, era desconhecido e as circunstâncias de sua morte, duvidosas.
O comandante da SS e governador havia escapado para Roma sob nome falso, no pós-guerra. Passara a se chamar Alfredo Reinhardt e estava sob os cuidados do bispo austríaco Alois Hudal, responsável pela chamada “Linha dos Ratos”, que acobertou e facilitou a fuga de criminosos de guerra para a América do Sul – entre eles, Mengele e Stangl. Ele manteve sob proteção Wächter e seu arquivo, conhecido como “Arquivo Wächter”, no mosteiro Santa Maria Dell’Anima, perto da Piazza Navona, em Roma.
Opera Mundi teve acesso às correspondências do ativista judeu depositadas no Instituto Simon Wiesenthal, em Viena, que narram a investigação sobre o paradeiro do comandante da SS e sobre seu arquivo, uma caixa de documentos do governo nazista na Galícia, que continha informações importantes sobre a morte de milhares de judeus no leste europeu.
Em sua investigação, Wiesenthal conseguiu reunir farta documentação proveniente de Berlim, como a ficha completa do comandante da SS e todos os seus passos na carreira militar, mas ainda buscava informações relevantes sobre os guetos e os trens da morte de Cracóvia, na Polônia, e Lviv, hoje Ucrânia, de onde saíram as locomotivas e vagões que levaram sua mãe.
Governo da Polônia
Otto Wächter (esq.) com Heinrich Himmler (centro), durante a ocupação alemã na Polônia
As correspondências, porém, mostram que os pedidos de informações preciosas sobre o paradeiro de Wächter e seu arquivo esbarraram nas negativas do esquivo bispo Hudal.
Insistência e frustração
Durante as décadas de 1950 e 1960, período em que Wiesenthal mais se esforçou em encontrar o arquivo, a morte de Wächter em Roma já havia sido noticiada por jornais austríacos e italianos. Mesmo assim, desconfiado das circunstâncias, o ativista judeu pediu diversas vezes ajuda a terceiros, que sondaram o bispo Alois Hudal sobre a morte e os pertences do comandante da SS.
“Meu colega, um alto aristocrata austríaco, visitou o bispo Hudal em 1950 e perguntou sobre o Arquivo Wächter. Hudal disse a ele que o arquivo estava depositado na ‘Anima’, mas que ele não poderia acessá-lo”, escreveu Wiesenthal em 21 de junho de 1961 a um procurador da cidade de Waldshut, no sul da Alemanha.
Sem desistir, Wiesenthal endereçou mais cartas a procuradores alemães e italianos, expondo a necessidade de encontrar os documentos. Em 28 de março de 1962, o ativista judeu recebeu uma resposta desanimadora da procuradoria de Ludwigsburg, dedicada a investigar os crimes do nazismo.
“Bispo Hudal declarou que nunca viu o Arquivo Wächter. Ele viu Wächter uma única vez e ele tinha sido envenenado, morrendo em um hospital de Roma. Ele é o diretor da igreja alemã assim chamada e deu a ele o último sacramento”, afirma o procurador. Ele continua: “Não vejo necessidade de continuar a investigação, afinal, as informações comprovam que Dr. Wächter não está mais vivo.”
Mesmo depois da negativa, Wiesenthal manteve correspondência com um de seus informantes, Theodor Faber, em Salzburgo. Em 3 de abril de 1962, pouco depois de receber a carta da procuradoria de Ludwigsburg, o ativista judeu afirmou que ainda acreditava que os documentos estariam na igreja, confiando na primeira informação recebida. No entanto, o arquivo nunca foi encontrado.
Em carta do arquivo, Wächter fala em fugir para o Brasil
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O destino do arquivo
Horst Wächter, filho do comandante da SS, afirmou a Opera Mundi que sua mãe, “desesperada e sem saber o que fazer com os documentos”, destruiu o arquivo e deixou para sempre uma lacuna na história. Mesmo sem acesso aos números, dados e protocolos da administração nazista na Galícia, há documentos depositados no Castelo Haggenberg e compilados por Horst, sob análise de acadêmicos alemães, que podem ser considerados uma nova fonte de valor incalculável para a história do nazismo.
São centenas de fotos e correspondências entre Otto Wächter e sua mulher, Charlotte Bleckmann, que trazem informações inéditas sobre a atuação do comandante da SS à frente da administração da Galícia. As cartas atravessam a Segunda Guerra Mundial e chegam ao período em que o nazista estava escondido em Roma, sob proteção do bispo Hudal. As informações desenham um perfil detalhado do nazista, que encheriam os olhos de Simon Wiesenthal.
O ativista judeu morreu em 2005 sem saber o paradeiro daquele que considerava seu maior inimigo. Wiesenthal tentou, até a década de 1980, buscar mais informações sobre Wächter, novamente sem sucesso. Horst afirma que, àquela época, “não estava preparado” para abrir o arquivo. Foi a partir dos anos 2000 que mergulhou nos documentos. “Com o passar dos anos, a necessidade de dizer a verdade aumentou, assim como a reação contrária da minha família”.
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- antonio_leite (via yahoo)Não peço (nem tenho que pedir) aos judeus que perdoem os nazis pelas atrocidades sofridas. Há, no entanto, duas questões que importa trazer á colação: Houve colaboracionistas e delatores judeus que não constam nos anais porque a vergonham cairia sobre suas cabeças. Por outro lado a perseguição aos nazis patrocinada pela Mossad e governo israelita é cada vez mais uma anacronia se tivermos memoria do genocidio palestiniano que o "povo escolhido de Deus" tem levado acabo desde 1948. Não deveria valer tudo na Haganah... e quando se fala de verdade ela tem de ser toda e não a que convém.
- Luiz Eduardo Da Silva Santiago · Funcionário Público na empresa Prefeitura Municipal de MacaéQuando é q começa no TPI o julgamento do genocídio PALESTINO por ISRAEL? !!!O mundo aguarda esse julgamento desse crime HEDIONDO!!!!
- Lucas Torres · Quem mais comentou · BlumenauBom, a verdade sempre aparace, mais hora menos hora, espero que a recusa da família deste assassino, em trazer a luz os fatos, sejam por vergonha dos feitos deste. E não para omitir e ou ostentar memorias "limpas" a este bandido!
- Samuel Haddad Carvalho · Quem mais comentouAntes de criticar qualquer religioso que tenha protegido nazistas, vamos lembrar, com respeito, de milhares deles que perderam suas vidas protegendo judeus e outras minorias. Ninguém tem dúvidas que houve um crime que manchou ainda mais a já trágica história humana: o assassinato em massa de judeus. Não acho que números sejam determinantes. Se seis mil ou seis milhões o que fica claro é um crime bárbaro contra pessoas desarmadas. Mas o tempo passa e as pessoas esquecem. A história humana lembra um carro em um atoleiro: roda, roda e não sai do lugar. Hoje, os perseguidos do passado são os algozes do presente, com a vantagem de ser protegidos pelas potência hegemônicas. Em um futuro distante espero que surjam "caçadores de sionistas assassinos".
- Sérgio Novaes · Quem mais comentouEsse Bispo de caca, se igualou. Mentiroso. Esta igreja ajudou a muitos, pois era a igreja catolica que conseguiam identidades falsas para esses assassinos e os escondiam, diverssos deles. Tudo corja e farinha do mesmo saco. Fanaticos e idolatras ñ ve o q é pq ñ qr.
- Samuel Haddad Carvalho · Quem mais comentouCalma! Onde houver pessoas haverá os bons e os nem tanto! Não diminua o heroísmo de milhares de religiosos que deram a vida protegendo judeus e outras minorias. Cor da pele, sexo e....batina, não determinam caráter de ninguém.Responder · · 24 de setembro às 06:05
- João Lima · Advogado na empresa PROFISIO0NAL LIBERALSimon Wiesenthal tem seu valor na busca aos nazistas fugitivos, mas contou para seu trabalho com financiamento secreto do Estado de Israel, conforme admitido depois que ele morreu.
Fonte: Opera Mundi
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