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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Rádio ATEIA - Beliebers ou bestalhões?

Os adolescentes querem acampar por dois meses no Sambódromo para o show de Justin Bieber são inocentes inúteis. Os culpados são os pais e responsáveis legais

LUÍS ANTÔNIO GIRON


Entendo as burradas dos adolescentes, mas não perdoo os que beijam os pés do astro canadense Justin Bieber. São os chamados beliebers. Eles não passam de menores ingênuos fascinados pela fama alheia – que é só o que lhes parece restar nesta vida. Vivem da glória de chegar perto de uma estrela qualquer da música pop. Eu que pensava que tal comportamento idiota já tinha sido enterrado com os Jonas Brothers e Miley Cyrus. Ou com os “monstrinhos” de Lady Gaga. Doce fantasia. Eis os beliebers a enxamear e emporcalhar os espaços públicos com seus atos erráticos, faltando aulas e vadiando só para se aproximar da grade do palco do ídolo.

Como agir? Claro, neste caso o mais recomendável é chamar a polícia. Foi o que fizeram o Ministério Público e a Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro. As duas instituições determinaram a remoção de 150 adolescentes que estão acampados no Sambódromo do Rio de Janeiro desde 16 de setembro – para conseguir bons lugares no show de Bieber, em 3 de novembro. Mais ainda, exigem que os pais e responsáveis desses menores sejam interpelados judicialmente. Os jovens foram expulsos. Mas, batendo palmas, dizem que pretendem resistir e voltar, alegando seu direito à diversão e à liberdade religiosa. Na Arena Anhembi em São Paulo, os beliebers já formam fila... para o show de 2 de novembro. Mas não ousaram acampar por lá.

Talvez seja ocioso refletir sobre as motivações que levam os beliebers a cultuar alguém como Justin Bieber. Mas vamos tentar mais uma vez. Sim, eu sei, eu já cheguei a chamar Justin Bieber de Mozart em uma crônica antiga. Mea maxima culpa. Ele mudou tanto desde a última vez que veio ao Brasil em 2011. São apenas dois anos, mas para um adolescente vale por uma eternidade. Hoje o ex-menino-prodígio foi convertido em em menino-produto. Ele não costuma descer do palco. Fica lá em cima, bem protegido, sincronizando passos robóticos, de preferência fingindo que canta as músicas pré-gravadas. Não sei o que os beliebers pretendem obter dessa divindade falsa que fica no pedestal.

Os fanáticos menores de idade parecem se identificar de alguma forma com Bieber. O totemismo bieberiano consiste na veneração da beleza imberbe do astro louro e esbelto de 19 anos. Todos parecem nutrir um anseio de conquistar a beleza do canoro efebo. O pacote Bieber é completo: reúne beleza, talento e carisma. Ele é famoso por ser “legal” com os fãs, pois sempre os trata bem e diz amá-los muito. O comportamento dos admiradores trai um desejo de alcançar a angélica pureza do rapaz. Os belieers repetem também rituais primitivos, como o culto aos animais. Quando Bieber anunciou em março a morte de Pac, o seu hamster de estimação, a horda de beliebers lançou orações para os céus e enviou condolências ao Twitter do astro. Hoje Pac merece um pequeno oratório na casa de cada belieber. 


Os beliebers acham que compartilham os valores emitidos pelas canções de Bieber. São valores de felicidade total. Compreendem a conquista da namorada, a vida feliz em família, de preferência ganhando milhões de dólares. Assim, ele acena com a derrubada da barreira entre artista e público. Pena que não cumpra a promessa, porque sempre reforça a sua posição superior. Quanto mais Bieber finge não desprezar os beliebers, mais eles reforçam sua crença enlouquecida. Os seres humanos, bem como os seres adolescentes, apaixonam-se com facilidade. Nada mais comum que se apaixonar por Justin Bieber.

No entanto, na realidade, ele não entrega o que vende. Bieber é dado a namoros efêmeros e a desilusões em relação ao restante da humanidade. Não raro se mostra infeliz, isso quando a multidão de fãs não se rasga do amor que ele precisa receber para inflar seu ego descomunal. Outro dia ele postou um tuite depressivo, em que dizia algo como: “Que belo dia para morrer...” Logo o deletou, com medo que desencadeasse uma onda de suicídios entre seus seguidores. Ele assim salvou vidas, afirma o seu rebanho.

Por trás de tanto fanatismo por essa entidade, a verdadeira motivação dos beliebers é conquistar uma fama instantânea. Os acampados passaram na televisão, foram entrevistados e ganharam uma voz no mundo. Viraram alguém porque passaram a ser vistos, mesmo que sob a espécie de uma horda de bobos. Os beliebers não acampam nos shows para ver Bieber, mas para ser vistos por seja lá quem for, já que eles não têm esperanças de ser notados pelo amado deus menino.

Onde estão os adultos responsáveis por esses adolescentes numa hora destas? Devem estar aliviados diante de suas televisões, assistindo aos filhos que não gostam de estudo brilharem de alguma forma. Quanta irresponsabilidade. Se eu estivesse no lugar deles, ia lá passar um corretivo na garotada e gritar: “Voltem pra casa, vagabundos! Será que não sabem que basta chegar um pouco antes do espetáculo para conseguir um bom lugar diante do palco? Vocês são beliebers ou são bestas?”

O sacrifício de jovens que fazem o corpo purgar por semanas a fio ao relento parece valer a pena – sobretudo para Justin Bieber e a alma de seu hamster. Se Beiber não melhora sua música, pelo menos aumenta sua mística


Fonte: ÉPOCA

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