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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Brasil não nasceu cristão, nem judaico, nem muçulmano, nem umbandista


Cristã e impiedosa foi a conquista do território já habitado por tribos, as quais não tinham a mínima noção das religiões de outros países, obviamente.

Assim, a tese da Igreja Católica e outras de matrizes cristãs, no sentido de que o Brasil nasceu cristão, é de uma falsidade retumbante.

Os europeus tomaram o Brasil de assalto e impuseram - à custa de milhões de íncolas assassinados, em toda a América, inicialmente denominadas Índias Ocidentais - as religiões católica e protestante, reprimindo a prática do judaísmo e do Islamismo, vindo esta última religião no gosto dos negros, para cá trazidos como escravos.

Nenhum país "nasce" religioso. Os denominados "indígenas" tinham seus temores (daí suas crenças, pois toda religião surge e se fortalece como decorrência da ignorância, do desconhecimento dos fenômenos naturais) e seus próprios cultos, sendo chamados de pagãos.

Dom (título pomposo e petulante) Walmor não é "estreito de racionalidade", é mal intencionado, mesmo. Está a apregoar uma deslavada mentira, no afã de perenizar seu culto no domínio do País, como colônia da metrópole Vaticano.

Não é preciso que se estabeleça antagonismo entre religiões e Estado, mas separação bem clara, sem dúvida é da maior importância, pouco importando de que matriz sejam os pretendentes à mantença da confusão (mistura) entre o público e o privado.

As  religiões possuem seus próprios objetivos, que não coincidem com os do Estado. Este é maior que aquelas e tem o dever inarredável de prover as necessidades básicas da população, dentre as quais não figura a religião. Nenhuma república que se preze permite que as religiões dominem a vida nacional e espoliem os recursos arrancados, por via tributária, do povo.

Os recursos arrecadados  do povo (um universo de indivíduos, religiosos ou não), para prover as necessidades do Estado e da sociedade, não podem ser desviados para encher as burras dos espertalhões. Já bastam os privilégios resultantes de imunidades e isenções tributárias, as quais configuram excrecências, exceções à regra  de que todos devem contribuir para a receita pública. 
A Igreja Católica coloca-se como uma grande prestadora de serviços sociais. Isto é verdade, mas não é de graça. Ela recebe incontáveis benefícios para que se porte como tal. A começar por terrenos que lhes são doados, construções custeadas pelos órgãos públicos, mormente para a construção de grandes hospitais e colégios. E se ostenta o lugar de grande prestadora de serviços essenciais à população é porque soube fazer com que o Estado fosse omisso, negligente e ineficiente naquelas áreas. Ela é a grande culpada pelas mazelas do poder público na educação, na saúde e em outras áreas fundamentais, pois tem influência suficiente para manipular leis, cooptar autoridades e canalizar os recursos para si própria, além de explorar, vergonhosa e impunemente, a mão-de-obra de homens (padres) e mulheres (freiras), aos quais não reconhece, nem mesmo, o mais básico dos direitos: o vínculo de emprego, porque se considera que o serviço religioso é uma espécie de "voluntariado". Falácia pura e indigna de um país decente. 

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"Inaceitável é a compreensão da laicidade do Estado que exclui completamente a religiosidade e sua vivência"

Dom Walmor, arcebispo de Belo Horizonte, reflete sobre o Estado e a religião






A laicidade do Estado tem sido um tema recorrente nos debates e abordagens. As necessárias evoluções no entendimento sobre o Estado e a realidade religiosa justificam essas reflexões. No caso da sociedade brasileira, a religiosidade é constitutiva, independentemente das singularidades confessionais. Não se pode desconhecer e desconsiderar as raízes cristãs no nascedouro e nos desdobramentos da história da nossa sociedade. Ignorar essa importância é uma postura preconceituosa, que considera a religião como elemento descartável ou de pouca valia. Trata-se de uma avaliação que revela estreitamentos da racionalidade.


Como antidoto para essa distorcida visão, é preciso reconhecer a importância da fé cristã católica como elemento que sustenta crescimentos, avanços e configurações culturais de muita importância para o nosso país. Certamente, nesse horizonte de compreensão, é que se afirma como um dito incontestável “que o Estado é laico, mas o povo é religioso”. E o povo constitui a nação à qual o Estado está a serviço, com o compromisso de edificar e manter uma sociedade justa e solidária.

Povo é mais do que Estado, que é uma configuração sociopolítica a serviço do bem comum de uma nação, em respeito e obediência a princípios advindos da justiça, da verdade, do amor e do bem de todos. Nessa direção, portanto, não é inteligente confrontar como opostas e inconciliáveis as categorias Estado e religiosidade. A distinção é benéfica e necessária para não incorrer em misturas indevidas. Contudo, colocar essas dimensões como antagônicas é confrontar-se diretamente com o povo, a partir de uma perspectiva preconceituosa.

Trata-se de uma grande incoerência pensar o Estado como instância prestadora de serviço ao bem comum que, ao mesmo tempo, deve discriminar a religiosidade, uma dimensão importante na inteireza da vida cotidiana. Infelizmente, essa discriminação acontece de muitas maneiras. Um claro exemplo ocorre quando o Estado, por compreensões equivocadas de gestores, propõe restrições legais ao uso de espaços por instituições religiosas. É obvio que a normatização é necessária para se evitar abusos ou mau uso de espaços públicos. Sem definições regulatórias, uma sociedade plural, marcada pelo sentido de liberdade e autonomia, não pode funcionar adequadamente. Contudo, não se pode chegar ao absurdo de considerar a laicidade do Estado como uma oposição a tudo o que diz respeito à religiosidade.

É verdade que há de se considerar a seriedade de cada confissão religiosa numa sociedade plural. A própria legislação proporciona esse discernimento, com emissão de juízos de valor a respeito de igrejas e grupos religiosos. Inaceitável é a compreensão da laicidade do Estado que exclui completamente a religiosidade e sua vivência. Quem perde, obviamente, é o povo e o próprio Estado, que não se permite intercambiar com uma força que muito o ajuda na promoção do bem comum. Imagine se a Igreja Católica, por exemplo, deixasse de prestar os serviços sociais que oferece. Incontáveis iniciativas, muitas ainda desconhecidas, realizadas nas periferias, em áreas urbanas e rurais, com grande impacto, sobretudo, na vida dos pobres. Certamente os reflexos seriam muito negativos para um Estado que deve buscar o bem de todos.

A laicidade configura o Estado não como oposição à religiosidade. É um parâmetro que deve ajudar na distinção entre Estado e outras instituições, como os próprios partidos políticos, atualmente tão questionados no núcleo central de sua significação, representatividade, competência nas abordagens ideológicas e debates em vistas do bem comum. Nenhum partido pode se considerar “dono do Estado”, impondo sua própria ideologia. Além disso, a máquina de governo que um Estado precisa não pode ser “cabide de emprego”, “trampolim de promoção pessoal” e mecanismo de favorecimentos. A laicidade, quando bem entendida, não deixa que o Estado seja manipulado, permitindo, assim, um eficiente serviço ao seu povo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

Fonte: Zenit

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