Marian Kotleba criou uma milícia para expulsar ciganos na Eslováquia (Bloco Internacional Europeu)
A eleição do dirigente neonazi Marian Kotleba para o cargo de governador de uma região da Eslováquia é o último exemplo da ascensão da extrema direita na Europa.
Há poucos dias, radicais ultranacionalistas poloneses deitaram fogo a uma instalação artística no centro de Varsóvia e logo depois incendiaram uma guarita junto à Embaixada da Rússia. Agora, o seu confrade eslovaco Marian Kotleba conseguiu ir mais longe. No último fim de semana venceu as eleições regionais e tornou-se zupan (governador) da região de Banska Bystrica.
À frente de uma das oito regiões em que se divide administrativamente a Eslováquia está um admirador da Eslováquia fascista e da expulsão dos judeus, que gosta que lhe chamem “vudcer” (líder), criador de uma milícia contra os ciganos, a exemplo das SA de Hitler e, mais recentemente, do Jobbik húngaro, e chefe do partido “Nossa Eslováquia”, cujo programa se resume como “uma improvisação populista com elementos neonazis”.
A chegada de Kotleba ao segundo turno proporcionou uma afluência às urnas mais elevada do que a verificada nas outras regiões. Os resultados irão catapultar Kotleba para as presidenciais e o seu partido para as eleições locais do próximo ano, as consultas a realizar antes das eleições gerais de 2016.
O primeiro ministro, Robert Fico, dedicou-se a combater o alegado “perigo húngaro” nas regiões de Nitra e Trnava apoiando diretamente os candidatos do Smer, o seu partido. No entanto, não realizou qualquer esforço no mesmo sentido na província de Banska Bystrica contra Kotleba. A direita conservadora, por seu turno, recusou-se a apoiar o candidato de Fico no segundo turno, o que abriu caminho à vitória neonazi.
O sociólogo Michal Vasecka considera que existe na sociedade eslovaca, face à crise econômica, às pressões de Bruxelas e às frustrações acumuladas após a independência, um vasto eleitorado com tendências autoritárias, como demonstram êxitos anteriores do Partido Nacional Eslovaco e do HZDS de Meciar. Ideia comum a este extrato populacional é a revisão da história no sentido de negar a cumplicidade entre o Estado Eslocavo fascista de Jozef Tiso e o Holocausto. Vasecka considera que esta corrente tem vindo a ganhar peso desde meados dos anos noventa também devido à influência de uma hierarquia católica extremamente conservadora.
Os analistas explicam que Marian Kotleba soube aproveitar o facto de os partidos que têm ocupado o poder desde a independência não saberem como lidar com a comunidade cigana, que representa cerca de dez por cento da população. Tal como Kotleba, os partidos do poder consideram a questão cigana como um assunto de segurança e não de direitos humanos ou sociais, mas o dirigente neonazi decidiu agir através de uma estratégia de terror: comprou uma área onde está instalado um acampamento de ciganos e prepara-se para o desmantelar, expulsando os ocupantes, o que pretende fazer a título de exemplo para outros acampamentos.
Martin Butora, antigo dirigente do Partido Nacional Eslovaco, direitista mas que nunca se declarou admirador do nazismo e da sua vertente eslovaca, considera que a eleição de Marian Kotleba “é um caso mais sério do que parece”. Analistas políticos de Bratislava admitem que perante o perigo há duas atitudes a tomar pelos principais dirigentes políticos: tratar Kotleba como um pária, o que acabará por jogar a favor deste; ou desacreditá-lo como político no desempenho do cargo de governador. Esta opção, contudo, tem muito poucos adeptos.
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