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domingo, 2 de março de 2014

Alfred Wallace, o outro pai da Teoria da Evolução


No centenário de sua morte, cientista britânico é relembrado por suas ideias sobre seleção natural similares à de Darwin


ROBERTA JANSEN(EMAIL·TWITTER)
Publicado:1/03/14 - 6h00


Alfred Wallace: teoria da Evolução não se aplicaria à mente humana, que teria origem divina Reprodução


RIO - A despeito de toda polêmica fomentada por fundamentalistas religiosos, a Teoria da Evolução é considerada um dos pilares da ciência e, seu autor, um dos mais conhecidos e influentes cientistas e pensadores do mundo. Mesmo quem não é capaz de citar muitos nomes de cientistas costuma se lembrar de Charles Darwin. Curiosamente isso ocorre — ao menos em parte — por conta da seleção natural e da sobrevivência das ideias do mais bem adaptado no mundo acadêmico. No caso, Darwin.

É que, na verdade, ele não foi o único autor da ideia da evolução pela seleção natural. Um outro naturalista britânico, Alfred Russel Wallace, desenvolveu ideias semelhantes em paralelo às de Darwin e acabou apresentando com ele os primeiros estudos sobre o tema, em 1858. Entretanto, atualmente, poucos se lembram da contribuição de Wallace, morto há um século. Isso faz sentido porque, embora fosse um sujeito de ideias revolucionárias, ele não era capaz de desenvolvê-las. Mesmo assim, explicam especialistas, se antecipou a Darwin na preparação de um esboço de estudo e, se não tivesse decidido submeter o seu trabalho ao colega, poderia ter tido a primazia da publicação.

— Wallace era o cara que tinha o estudo pronto para publicação — disse o curador do Museu de História Natural de Londres, George Baccaloni, em entrevista ao jornal “Independent”. — Se ele tivesse mandado o trabalho diretamente para a academia, ele teria sido publicado e a seleção natural teria sido uma descoberta de Wallace.

Darwin e Wallace percorreram caminhos muito diferentes para chegar a ideias similares. Darwin era de uma família tradicional, endinheirada, teve uma educação formal, frequentava o meio acadêmico, era meticuloso e passou anos estudando. Wallace nunca foi à universidade. Era um autodidata e rodava pelo mundo em viagens de campo. Com pouco mais de 20 anos, já tinha lido todo tipo de relato disponível na época que mencionasse a possibilidade de transformação das espécies.

— Alguns autores achavam que isso era possível, mas não havia nenhum mecanismo proposto, tudo era muito especulativo — contou o professor Ricardo Campos da Paz, responsável pela cadeira de evolução na Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio). — Um dos livros mais populares sobre o tema, do naturalista Robert Chambers, era muito criticado na academia por não trazer evidências sólidas sobre a questão. Mas Wallace estava convencido de que as espécies se transformavam e buscava uma explicação para isso.

Darwin, por sua vez, quando embarcou no Beagle, em 1831, não estava muito preocupado com isso. A ideia de que as espécies se transformavam e o mecanismo que tornaria isso capaz foram amadurecendo ao longo dos cinco anos de viagem e, sobretudo, durante muito tempo depois, enquanto trabalhava, sem pressa, e com muito apuro, em seus estudos.

Wallace foi bem mais rápido. Durante uma expedição nas Ilhas Molucas, na Indonésia, ele escreveu um ensaio no qual definia as principais bases da Teoria da Evolução e o enviou a Charles Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do trabalho e o posterior encaminhamento ao geólogo Charles Lyell para publicação. Ao ler a correspondência, Darwin rapidamente percebeu que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria praticamente igual à sua, na qual vinha trabalhando em segredo por duas décadas. De forma correta, Darwin encaminhou o ensaio a Lyell recomendando a publicação, mas desabafou: “Nunca vi uma coincidência maior. (...) Toda a minha originalidade será esmagada.”

Foi então que Lyell e o botânico Joseph Hooker, também amigo de Darwin, propuseram que os trabalhos fossem apresentados juntos à Sociedade Linnean de Londres, na época um dos mais importante centro de estudos de história natural do Reino Unido. O que foi feito. Darwin, no entanto, correu para concluir o livro que vinha escrevendo, “A origem das espécies”, que acabou sendo lançado um ano depois, em 1859, com 500 páginas (originalmente, seria muito maior). Se os estudos não chamaram muita atenção, o livro causou, de cara, grande polêmica.

— É da publicação do livro que vem o grande debate — afirmou Ricardo Campos da Paz.

O livro fez com que as ideias contidas na Teoria da Evolução circulassem fora da academia. Vale lembrar que o trabalho não só ofereceu uma explicação científica para a evolução das espécies, incluindo a humana, mas também baniu o sobrenatural das ciências naturais, reduzindo o poder das religiões nos assuntos terrenos.

A teoria derruba de vez a ideia de que o homem poderia ter uma origem divina e ainda sustenta que ele compartilha um ancestral comum com os macacos. E é justamente aí que os caminhos de Wallace e Darwin se separam.

Wallace acreditava que a seleção natural explicava toda a diversidade biológica, menos a mente humana — que ele considera complexa demais para ser explicada dessa forma. Para explicá-la, Wallace evoca um “espírito superior”, o que enfurece Darwin.

— Wallace fez contribuições importantíssimas para a ciência. Se você é zoólogo, biólogo, certamente vai prestar-lhe refeverência — afirmou a bióloga Maria Isabel Landim, do Museu de Zoologia da USP, criadora do Dia de Darwin no Brasil, há dez anos. — Mas Darwin é um marco importantíssimo das ciências biológicas porque foi ele quem baniu, de uma vez por todas, o sobrenatural como hipótese válida para responder perguntas sobre fenômenos naturais. Isso não ocorreu com Wallace, que não deu o passo decisivo, não foi às últimas consequências.

Não só Wallace defende a existência de “um criador” para explicar a mente humana, como envereda por caminhos cada vez menos científicos, interessando-se por espiritismo, hipnose, esoterismo. No severo mundo acadêmico do Reino Unido, Wallace passou a ser visto mais como um excêntrico do que como um cientista.

Em grande parte, acabou sendo esquecido. Darwin, por sua vez, mais bem adaptado ao seu meio e preparado como cientista, perseverou, tornando-se um dos maiores nomes da ciência. É a seleção natural atuando sobre seus próprios criadores.


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