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segunda-feira, 10 de março de 2014

Na Ucrânia de Putin até os judeus são nazistas



CAIO BLINDER

A máquina de propaganda de Vladimir Putin acusa o governo interino na Ucrânia de ser ilegítimo, nazista e antissemita. É uma agitprop tosca, mas funciona para os incautos, coisa digna de um script de Sacha Baron Cohen (o nosso querido Borat). São muitas mentiras desta agitprop, mas nesta coluna vou me concentrar no antissemitismo.

Timothy Snyder, professor da Universidade de Yale e autor do livro Bloodlands (sobre a tragédia de países como a Ucrânia, sob o stalinismo e sob o nazismo) tem sido infatigável para desmascarar a agitprop. Basta lembrar que judeus (praticantes ou não) estão entre os líderes do governo interino em Kiev. Estamos, portanto, diante de uma conspiração nazista liderada por judeus. Para quem tiver tempo e inglês razoável, aqui está entrevista com Snyder na rádio americana, desconstruindo a farsa de Putin.

Sem dúvida que a situação é complexa. Há inclusive uma confusão sobre a origem judaica do primeiro-ministro interino Arseney Yatsenyuk, do partido Pátria, da ex-primeira-ministro Yulia Tymoshenko. Uma teoria é que ele esconde sua origem judaica, pois a base partidária fica no oeste do país, onde o nacionalismo ucraniano é mais forte, assim como o antissemitismo. O perigo antissemita é real, assim como sua manipulação por Putin, hoje paladino conservador de um nacionalismo étnico de alta combustão, mas, ao tempo tempo, abusador da narrativa de resistência soviética contra o nazismo.



Com esta complexidade, existe terreno fértil para a disseminação da agitprop, tanto por muitos militantes de extrema esquerda (silenciosos diante das diatribes dos aiatolás iranianos ou do regime chavista nessta questão), como por sites ligados à figuras da direita bizarra americana, como Lyndon LaRouche e Ron Paul, obcecados com o besteirol de uma nova ordem mundial, que vai levar a um governo da ONU, da qual Barack Obama e lideres da União Europeia são sinistros advogados.

Ninguém nega a presença de uma extrema direita neonazista e antissemita na insurreição ucraniana que levou à queda do governo de Viktor Yanukovich no mês passado (e infelizmente ela integra o governo interino), mas a mobilização foi multipartidária e multiétnica, contando com diferentes correntes cristãs, judeus, muçulmanos e também gays. Na repressão, o governo Yanukovich instruía sua tropa de choque que a oposição era liderada por judeus, enquanto dizia ao mundo que os oponentes eram neonazistas.

Há um terrível histórico de antissemitismo na Ucrânia (e falo isto com visceral conhecimento de causa por ser descendente de judeus ucranianos). Metade dos 900 mil judeus ucranianos foram exterminados pelo nazismo, com cooperação da população local, mas este histórico não deve ser manipulado por Vladimir Putin.

Esta semana, o rabino-chefe da Ucrânia, Jacob Dov Bleich, foi no ponto. Ele acusou a Rússia de propagar a cantilena neonazista e de encenar “provocações antissemitas” na Crimeia para justificar a invasão desta república autônoma da Ucrânia. O rabino Bleich, que é vice-presidente do Congresso Judaico Mundial, esteve reunido com o secretário de Estado americano John Kerry, ao lado de outras lideranças religiosas da Ucrânia na terça-feira, em Kiev, como parte do esforço de neutralizar a propaganda russa.

Claro que as lideranças judaicas no mundo expressam preocupação com antissemitismo na Ucrânia e fazem muito bem. A situação no país é tensa, frágil e caótica. Nestas horas, sobra para os judeus. E setores da comunidade judaica que vivem na área russa do país, submetidos à histérica propaganda da TV russa, embarcam na onda sobre um governo interino nazista e antissemita. Leia aqui a carta aberta de líderes da comunidade judaica ucraniana a Putin

Enquanto isto em Moscou, a figura-chave do Kremlin para a questão ucraniana é Sergei Glazyev, que, como o bizarro cientista político Aleksandr Dugin, é adepto de um troço chamado nacional-bolchevismo, uma combinação de nacionalismo radical com nostalgia bolchevista.

Glazyev foi membro do Partido Comunista e com o fim da URSS foi cofundador de um partido de extrema direita chamado Rodina, ou pátria-mãe. Em 2005, alguns dos seus deputados assinaram uma petição enviada ao ministério da Justiça pedindo que todas as organizações judaicas fosses banidas na Rússia Ainda em 2005, o partido foi proibido de participar de eleições, acusado de incitar o ódio racial.

No entanto, gente como Glaziev fala pelo Kremlin para denunciar nazismo e antissemitismo na Ucrânia.

Fonte: COISAS JUDAICAS

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