O país da América Central seria a segunda nação latino-americana, após o Uruguai, a descriminalizar o cultivo
JOSÉ ELÍAS Guatemala 4 ABR 2014 - 11:01 BRT
A polícia da Guatemala destrói cultivos de papoula. / NUESTRO DIARIO
O presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, reiterou nesta quarta-feira no Panamá sua intenção de legalizar os cultivos de maconha e papoula em algumas zonas vigiadas do país para satisfazer as demandas das farmacêuticas. O presidente explicou que uma comissão específica, criada pelo Governo para estudar o assunto, fará um relatório sobre os impactos que a despenalização teria no país. “Se o relatório for favorável... o Executivo enviará uma iniciativa em tal sentido ao Congresso (legislativo, unicameral) e esse será o debate daqui até outubro”, acrescentou Pérez Molina.
A despenalização, anunciada em seu discurso de posse em 14 de janeiro de 2012, provocou surpresa na Guatemala. Durante sua campanha ofereceu lutar contra as quadrilhas de narcotraficantes empregando aos kaibiles –tropas de elite do Exército– para neutralizá-las.
Geograficamente, a Guatemala é a penúltima fronteira que os produtores sul-americanos da droga têm que superar antes de chegar ao mercado norte-americano. As lutas pelo território entre cartéis rivais elevou a violência até colocar a Guatemala como um dos países mais violentos da América, só superado por Honduras e o El Salvador.
A guerra declarada pelo ex-presidente de México, Felipe Calderón, contra as máfias de narcotraficantes, provocou que seus líderes se mudassem para o sul e encontrassem na fragilidade extrema deste país um centro de operações para suas atividades. Esta realidade e a impotência do Estado para combater grupos economicamente superiores e melhor armados fez com que Pérez chegasse à conclusão de que esta é uma guerra perdida. Solicitou à comunidade internacional uma proposta diferente que, no caso da Guatemala, se traduziria na legalização da produção da maconha e a papoula, esta última a matéria prima para produzir a heroína e a morfina.
Nos municípios guatemaltecos fronteiriços com o México estes cultivos substituíram aos tradicionais de milho e feijão de comunidades paupérrimas. O agreste do terreno, que sempre foi um obstáculo para levar os produtos ao mercado, se tornou uma vantagem estratégica na hora de debochar os esforços das autoridades guatemaltecas para a erradicação desses cultivos ‘ilegais’.
As forças de segurança visitam essas áreas duas vezes por ano, segundo o presidente, para destruir os cultivos. “Não se prende ninguém porque teríamos que mandar para a prisão famílias inteiras”, disse o presidente.
Muitos setores da sociedade guatemalteca resistem à possibilidade da legalização porque consideram que tornaria o país um paraíso para os produtores e traficantes das substâncias ilícitas.
O bispo Álvaro Ramazzini, que por décadas realizou seu trabalho pastoral nos departamentos de San Marcos e Huehuetenango, onde o fenômeno se dá com mais frequência, adverte aos seus fieis que, embora o cultivo da papoula os permita obter ganhos muito maiores aos da semeia de grãos básicos, devem pensar nos danos que causam nos viciados e em suas famílias. “Quem e como os vai regular?”, pergunta-se o bispo, que lembra que o Estado se mostrou incapaz de controlar a venda de produtos que requerem receita médica para ser adquiridos.
Fonte: EL PAIS
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