Eugenia, racismo e miscibilidade no Brasil

Nestes tempos "bicudos", em que nos EUA explodem o descontentamento acumulado em decorrência de históricas injustiças praticadas principalmente contra negros e populações autóctones, a leitura (ou releitura) de Casa Grande e Senzala é um imperativo indeclinável, para entender idêntica situação vivida no Brasil, que também está na iminência de ser convulsionado por acontecimentos semelhantes aos de USA.

A capacidade/necessidade do português miscigenar-se com índias e negras, até para atender à demanda de mão de obra dos seus empreendimentos mundo afora (o autor destacou a mobilidade da “raça”), foi abordada por GILBERTO FREYRE  - Casa grande e senzala - Global Editora e Dist. Ltda/SP/2003, ps. 70 e subsequentes.

O autor salientou:  A escassez de capital-homem, supriram-na os portugueses com extremos de mobilidade e miscibilidade: dominando espaços enormes e onde quer que pousassem, na África ou na América, emprenhando mulheres e fazendo filhos, em uma atividade genésica que tanto tinha de violentamente instintiva da parte do indivíduo quanto de política, de calculada, de estimulada por evidentes razões econômicas e políticas da parte do estado. 

E não constitui exagero acrescentar: além do interesse do estado, também da parte da Igreja, que  combatendo o controle da natalidade, sempre estimulou a padres  e freiras (mão de obra não assalariada) a pregar a reprodução como uma tarefa agradável a Deus, de sorte a criar multidões aptas a encher-lhe os cofres, seja fazendo doações, seja virando clientes de seus hospitais e escolas, seja comprando-lhe as famigeradas indulgências ou ainda destinando-lhe incontáveis imóveis.

O descaramento foi levado ao extremo, senão vejamos um resumo afrontoso das políticas de estado-igreja. Pregava-se branca pra casar, mulata pra foder, negra pra trabalhar, ditado em que se sente, ao lado do convencionalismo social da superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela mulata. (ob. cit. , p. 72)