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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Recolhedores de fatos

GILBERTO FREYRE - Casa grande e senzala - Global Editora e Dist. Ltda/SP/2003, p. 46, reportou-se aos recolhedores de fatos, explicitando que antecipando-se aos pasquins, eram sujeitos dados a colecionar casos vergonhosos que, em momento oportuno, serviam para emporcalhar brasões ou nomes respeitáveis.
Parece que eram os ancestrais dos denominados "colunistas sociais".
Diz o festejado escritor: Em geral exploravam-se os preconceitos de branquidade e de sangue nobre; desancava-se alguma remota avó escrava ou mina; ou tio que cumpria sentença; avô que aqui chegara de sambenito. Registravam-se irregularidades sexuais e morais de antepassados. Até mesmo de senhoras.
Nos dias mais recentes, alguns blogueiros menos escrupulosos e afeitos, principalmente à fofoca, também dedicam-se - até para fazer uma espécie de chantagem - a recolher notícias sobre intimidades de pessoas públicas e seus familiares, negociando-seus silêncios em trocas por sinecuras, evidenciando absoluta falta de caráter e princípios. E, por falar em segredos e intimidades, a era que vivemos é pródiga em desprezo pelos aspectos mais particulares das vidas de cada um. Devassa-se tudo, com auxílio das modernas tecnologias, nunca tendo sido tão fácil a tarefa dos "recolhedores de fatos".
Quando os indivíduos viraram números, principalmente (CPFs), as dificuldade representadas por homonímia desapareceram, quase por completo e discernir verdades de mentiras virou tarefa bem mais amena.
Acessando-se os registros judiciais, por exemplo, descobre-se um monte de informações pessoais, ficando os desafetos ou inimigos imediatamente expostos. Danos morais indenizáveis, paternidades investigadas, casamentos fracassados, negócios mal sucedidos, desentendimentos entre parentes, querelas políticas, etc..., tudo vai parar na Justiça e os portais dos Tribunais constituem mananciais inesgotáveis de dados, capazes de municiar matérias jornalisticas sobre os fatos que os recolhedores querem conhecer e, depois, manipular, escrupulosamente, ou não.

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