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sábado, 2 de fevereiro de 2013

O destino dos russos na América Latina - Voluntários russos sob as bandeiras de Bolívar





No monumento comemorativo instalado numa das praças de Caracas, estão gravados os nomes de Ivan Minuta e Ivan Miller, voluntários russos que lutaram sob as bandeiras de Bolívar pela libertação das colônias espanholas no Novo Mundo.

Os dois russos chegaram à América Latina em 1819, no auge da guerra pela independência. O exército de patriotas, basicamente constituído por tropas de guerrilha, devia ser consolidado por militares de carreira para combater com êxito as tropas regulares da Espanha. Foi aí que Bolívar exortou os voluntários europeus, que conheciam a arte de guerra, a incorporar-se nas fileiras das forças patrióticas que lutavam por uma causa justa. Pessoas de mais diversas idades e nacionalidades, que prezavam a causa da liberdade, atenderam ao seu apelo. Vieram também os voluntários russos Ivan Minuta e Ivan Miller. As informações biográficas relativas à sua vida na Rússia são escassas. É sabido que Ivan Minuta era tenente-coronel do Exército Russo. É provável que tivesse participado da Guerra de 1812, que resultou na expulsão das tropas napoleônicas da Rússia. Sabe-se que a seguir ele passou à reserva. Na América do Sul Ivan Minuta lutou ao lado dos insurretos até o fim da guerra pela independência. Participou das batalhas pela libertação da Venezuela, Colômbia e Equador, fez parte das tropas que assaltaram Cartagena e tomaram as fortalezas de Portobello e de Chagres e da cidade de Quito. O seu compatriota Ivan Miller, que tinha graduação militar mais baixa, – era alferes, – lutou contra as tropas coloniais do reino da Espanha nos territórios da Venezuela e da Colômbia. Infelizmente, o destino destes dois voluntários valentes russos depois da guerra é desconhecido.

Já em 1824 chegou à América do Sul mais um voluntário do Império Russo. Era Mikhail Skibitsky. Entrou no exército de Bolívar com a graduação de tenente e participou da campanha pela libertação do Peru. Teve o seu batismo de fogo na famosa batalha de Ayacucho, em que as tropas coloniais da Espanha sofreram uma derrota decisiva. A bravura que demonstrou nesta batalha valeu-lhe a condecoração com a medalha “Busto del Libertador”. Na face da medalha existia a imagem de um busto com a inscrição “Ao libertador Simón Bolívar”, no lado inverso estava escrito “O Peru ressuscitou com Ayacucho, 1824”. Nas tropas da Grande Colômbia, Mikhail Skibitsky passa a ser oficial do Estado-Maior de Bolívar. Mais tarde, o voluntário russo explicou da seguinte maneira o objetivo da sua vinda numa das cartas dirigidas a Bolívar. “Inspirado pela glória do Libertador do Novo Mundo, deixei a minha pátria e atravessei textualmente o globo terrestre para ter a honra de servir o Senhor... O meu título mais alto e o meu orgulho depois do retorno para pátria será a honra de servir sob o Seu comando”. O mais provável é que a carta fosse redigida em francês ou em espanhol. 

Bolívar, uma pessoa de vastos horizontes e estadista perspicaz, pensava, na sua qualidade de presidente da Grande Colômbia, na construção de um canal interoceânico através do território do Panamá libertado, que fazia então parte da Grã-Colômbia. Por sua ordem, Mikhail Skibitsky, que tinha instrução técnica superior, foi incluído no grupo de especialistas encarregados de desenvolver o grande projeto da hidrovia ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. Todavia, a realização deste plano iria exigir ainda muito tempo.

Mikhail Skibitsky concluiu o serviço militar numa região longínqua, já com a graduação de tenente-coronel e ajudante do presidente da Venezuela José Antonio Páez. Em 1831, depois de sete anos vividos na América Latina em ebulição, o corajoso voluntário retornou à Europa. Viveu inicialmente em Paris e voltou à Rússia penas em 1835. Mas aí o seu destino não foi fácil. Foi suspeito de inconfidência e por ordem pessoal do czar Nicolau I teve que passar vários anos exilado na cidade de Viatka, situada bastante longe das regiões centrais da Rússia.

Ao contrário de Mikhail Skibitsky, as informações que temos sobre Dmitri Chicherin, um outro compatriota nosso que lutou pela independência dos países desta região, são mais escassas. Nas pesquisas, publicadas em russo, menciona-se apenas o seu nome – outras informações não existem. Aliás, um dos livros alega o jornal venezuelano El Nacional, que tinha publicado a 03 de abril de 1975 um material sobre Dmitri Chicherin. Se esta edição do jornal for encontrada, talvez seja possível obter algumas informações sobre o seu destino.

Os voluntários russos que lutaram sob as bandeiras de Bolívar pertenciam à parte mais progressista do seu país, eram pessoas que tomavam a peito os ideais dos insurretos da América Latina. É precisamente nesta época que na Rússia surgem as sociedades secretas de oficiais-revolucionários, que eram adversários do regime absolutista e de servidão reinante e pretendiam criar no seu país um Estado com liberdades constitucionais. As suas aspirações faziam eco em grande parte aos objetivos dos combatentes pela libertação dos povos latino-americanos do jugo da monarquia espanhola. Oficiais russos de tendências progressistas acompanhavam com admiração as campanhas libertadoras de Bolívar, analisavam a experiência da estrutura constitucional das repúblicas independentes da América do Sul, que tinham se formado no calor da guerra.

Em dezembro de 1825 a Rússia foi abalada por um evento que deixou uma marca profunda na sua história. As sociedades secretas de oficiais organizaram uma insurreição em São Petersburgo mas o czar Nicolau I esmagou-a cruelmente. Os principais dirigentes foram executados, muitos outros militares participantes da insurreição, foram condenados a trabalhos forçados perpétuos na Sibéria. Os participantes desta insurreição fracassada passaram a ser chamados dezembristas. Bolívar referia-se com simpatia a estas pessoas que tinham sacrificado tudo em prol da liberdade da pátria. Mas o grande latino-americano não podia saber, certamente, que ele próprio era um dos ídolos dos dezembristas.

Bolívar tinha um alto prestígio nos círculos liberais da Europa como cabo-de-guerra e estadista eminente. O seu nome era tão popular que, na década de 20 do século XIX, estavam na moda chapéus de abas largas, chamadas em sua homenagem “bolívares”. Victor Hugo escrevia que na França eles eram os “preferidos pela gente liberal”. Com efeito, os chapéus deste tipo eram não somente um tributo à moda mas também uma forma de manifestação das respectivas preferências políticas. O grande poeta russo Alexander Pushkin retratou-se num dos seus desenhos de “bolívar” de abas largas. No seu romance clássico em versos “Evgueni Oneguin” este chapéu figura como um sinal da época. O poeta descreve da seguinte maneira o seu personagem principal: “Oneguin põe um largo 'bolívar' e vai passear na alameda”. O poeta explica a palavra estrangeira "bolívar" como “um chapéu a la Bolívar”.

Eis, porém, um fato interessante. A Internet oferece um sem-número de retratos de Bolívar, mas em nenhum deles ele usa o referido chapéu de abas largas. A Wikipedia chega a afirmar que o “libertador” não usava chapéus deste tipo. Preferia, na sua qualidade de militar, um bicórnio. Por outro lado, muitos soldados do seu exército libertador usavam chapéus de abas largas. Portanto, o chapéu tipo “bolívar” tem raízes latino-americanas. Talvez alguns ouvintes ou usuários mais eruditos do nosso site acrescentem a esta história outras informações a respeito do chapéu “bolívar”, – quem e em que circunstâncias fez com que na Europa este chapéu estivesse na moda?

Fonte: VOZ DA RUSSIA

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