JOSÉ MANUEL ROCHA
A tensão política entre os Estados Unidos e a Alemanha, que ganhou forte visibilidade quando se soube que os serviços secretos norte-americanos vigiavam o telemóvel de Angela Merkel, passou agora para o campo económico. Um relatório do Departamento do Tesouro dos EUA acusou o governo alemão de pôr em prática um modelo económico que está a contribuir para atrasar a retoma na zona euro, o que produz impactos negativos na economia global.
A resposta de Berlim não se fez esperar, com um porta-voz do ministério da Economia a contrapor com as análises de várias instituições internacionais, entre as quais o Fundo Monetário Internacional, que avaliaram positivamente a política económica da maior potência da zona euro.
As críticas à Alemanha estão contidas no relatório que todos os semestres é elaborado pelo Departamento do Tesouro sobre a evolução das maiores economias do mundo e, entre elas, as que mais concorrem com a dos Estados Unidos. A China costuma ser o alvo número um a abater, nestes documentos, mas desta vez a Alemanha ganhou um protagonismo que não era comum.
No fundamental, o departamento liderado por Jack Lew - secretário do Tesouro - afirma que a Alemanha optou por um modelo de contenção da procura interna e de aposta forte nas exportações, o que fez com que a sua balança comercial atingisse um excedente superior ao da própria China no ano passado.
"O ritmo anémico de crescimento da procura interna na Alemanha e a sua dependência das exportações dificultaram a retoma, numa altura em que muitos países estavam pressionados (...) a realizar severos processos de ajustamento. O resultado foi uma tendência deflacionária para a zona euro e também para a economia mundial", lê-se no relatório.
Surpresa geral
A colocação da Alemanha no centro das críticas e o tom utilizado no documento agora divulgado surpreenderam os mercados, mais habituados a um enfoque na China e nas práticas anticoncorrenciais que utilizava para favorecer as suas exportações - nomeadamente, através de uma desvalorização artificial da sua moeda.
Há quem sustente que a opção assumida poderá visar uma interferência na definição das bases de política económica que estão no centro das negociações entre o partido de Angela Merkel e o SPD para a formação de uma coligação governamental.
Outros analistas contrapõem que o objectivo poderá ser o de afastar as atenções do escândalo de espionagem protagonizado pela agência norte-americana NSA, que monitorizava telecomunicações na Alemanha e chegou mesmo ao telemóvel da chanceler germânica.
Questões de espionagem à parte, o Governo alemão não perdeu tempo a responder ao Departamento do Tesouro norte-americano, secundados por alguns altos dirigentes partidários que apoiam Angela Merkel.
"Os excedentes comerciais reflectem a forte competitividade da economia alemã e a procura internacional de produtos de qualidade da Alemanha", respondeu o Ministério da Economia germânico em comunicado.
O texto lembra que o próprio FMi avaliou positivamente o quadro económico do país e não encontrou "distorções no excedente comercial alemão." Já um reputado parlamentar alemão, Michael Meister, que é um aliado próximo de Merkel, considerou que "o Governo dos Estados Unidos deveria olhar mais e analisar com atenção a situação da sua própria economia."
Fonte: PUBLICO (Pt)
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